terça-feira, 27 de novembro de 2018

APENAS OS MORTOS NÃO ENVELHECEM

Apenas os mortos não envelhecem.
Os jovens não escapam a velhice.
Pois nascem em um mundo de velhos.
Apenas os mortos...
Não há silêncio nos cemitérios.
Apenas restos de vidas interrompidas.
Gritos de memórias perdidas.
Não há vida no mundo.
Tudo é velho.
Apenas os mortos não envelhecem.

domingo, 25 de novembro de 2018

COORDENADAS EXISTENCIAIS

O fim e o início são dois pontos equidistantes entre os quais existe um infinito. 

Entre eles há um percurso aberto por um espaço impreciso através do qual o tempo se apresenta como geografia.

Viver é cartógrafos o caminho entre estes dois pontos que não nos levam a lugar nenhum.

sábado, 24 de novembro de 2018

O CORPO E O TEMPO

O corpo sabe o tempo como uma incurável doença que nos consome. 

O tempo não tem realidade. Mas perpassa tudo que existe como um movimento de toda matéria viva é inanimado. Dele dependem todos os fatos e fenômenos, todas as nossas urgências e silêncios. 

O tempo é aquela dimensão onde não somos, onde nos definimos sempre como um terceiro, um outro e um estranho. Afetado pelo tempo o corpo nunca é o mesmo.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

SABEDORIA DA MORTE: CORPO E FELICIDADE

Uma sabedoria da morte atenta contra as nossas ilusões ou convenções de felicidade como plena realização pessoal ou social. 

Antes de tudo o que o importa é a potência e vigor do corpo.  Mas contra este elementar objetivo  se contrapõe o efeito do tempo e a finitude como expressão de nossa própria existência. 
Para uma sabedoria da morte alegria e tristeza são como duas inocentes crianças que sempre andam juntas brincando com nossa vontade. Onde há alegria deve existir tristeza e vice versa. Não existe por isso constância em qualquer pretenso estado de felicidade como não há corpo que não conheça limites ou doenças. Por mais vigoroso que seja.

O MOVIMENTO DE NÃO SER



Não é apenas o momento seguinte.
Não é somente o lado de fora,
Muito menos o horizonte,
O sempre a diante.
Saímos também do lado de dentro.

O por vir que nos faz movimento
Não é apenas um tempo e um espaço.
É basicamente um estado de existência.
E é dele que sempre estamos fugindo
Dentro do acontecer de todas as outras fugas,
De todos os passos, caminhos e buscas.

Estamos fugindo essencialmente da grande prisão do Ser.


segunda-feira, 19 de novembro de 2018

VELHICE

Velho é sempre o outro.
É este corpo que nega o eu.
Velho é o passado, o futuro
E o presente
De quem ainda não morreu.
Velho é o tempo
Que nos atravessa indiferente.
Velho é o silêncio.

DERIVA

Desconforto consigo mesmo é um sinal de inquietude e inadaptação a vida social. Eis um dos grandes males da contemporaneidade. 
Há um mal estar latente em relação a existência comum. Tudo, afinal, é pura incerteza. Os códigos e dispositivos culturais já não nos proporcionam identidade. Estamos todos fora do lugar, desterritoriarizados. Vivemos a deriva.

DESENCANTO

Existe sempre o risco de um desencontro com a vida. Ele é sutil. Quase impercetível. Mas ocorre com todo mundo. É quando começamos a envelhecer. Não depende da idade. É um acontecimento abstrato que nos faz padecer da vida como se a existência fosse um mal estar. Pode ser confundido com melancolia ou depressão. Mas é algo mais profundo. Uma meta física do desencanto.

PSICOLOGIA DA ENFERMIDADE

A doença torna o corpo mais do que real. O limite nos redefine como gente. Nos surpreendemos com a fragilidade de nossa humana condição.  Estar doente não é apenas ser dependente de cuidados. É perder a ilusão de si mesmo como sujeito. A existência dói quando não nos pertence, quando a própria vontade de viver definha na condição de enfermo.

sábado, 17 de novembro de 2018

O NÃO SENTIDO DA VIDA

A vida ofusca,
A existência embriaga.
Viver tem gosto de caos.
Sobrevivemos para morrer.
Meus atos são inócuos
E meu futuro é a morte.
Por isso tenho preguiça.
Toda realidade do mundo
É a inutilidade deste momento
No qual involuntáriamente respiro.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

O INSTANTE E O MOMENTO

Aquilo que escapa ao instante é o que sempre se perpetua como momento. É onde surgimos e desaparecemos no efêmero. É onde nos tornamos um ser para não ser. 

Vida e morte são dois momentos coincidentes deste grande engano que é a existência, a biologia e a natureza.

Entre o tempo e a matéria existe apenas a ilusão da consciência, do dizer das coisas, contra o instante e o momento.

terça-feira, 13 de novembro de 2018

ESQUEÇA O MOMENTO.

De nada vale cultivar o momento. Tudo está fadado ao desaparecimento e ao esquecimento. Não há nada que escape 
A ditadura do tempo. Apenas a nadificação nos define.

Esqueça o momento.
Nada é importante.

MENTE E CORPO

Não há idade para morte. Morre-se velho, jovem e, até mesmo, antes de nascer. Morre-se a todo instante e de múltiplas formas. 

O corpo é mais forte do que a mente na qualidade de perecer. A mente não passa de uma ilusão do corpo que se desfaz ao morrer.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

UM POUCO DE NOSTALGIA

Bem me lembro de quando eu era apenas um garoto. Tinha a vida inteira pela frente, muitos me diziam. Agora quase todo mundo que conheci naquela época alegre de plena juventude está morta. Eu mesmo não passo de um resto de mim mesmo. Nenhum traço da criança que fui um dia sobreviveu ao passar dos anos. O mundo mudou e a vida já não é a mesma. Sou um poço de nostalgias. Mas os jovens ainda dominam o mundo. Eu apenas não estou mais entre eles. Ada disso possui a menor importância.

SOBRE O MORRER DE TODOS NÓS


A morte de um ente querido sempre subtrai um pouco de nossas vidas. Através dela provamos o gosto de nossa própria finitude. 

Desta forma o  morrer de alguém se faz um acontecimento coletivo, afeta a existência que a todos nós perpassa. A morte é onipresente, onipotente e indiferente. É impossível dize-la, sabe-la. Mas ela está sempre nos envolvendo, nos reservando um toque de silêncio como marca definidora da própria vida. Se hoje morreu fulano é porque estou predestinado a morrer e , assim, cada um de nós participa deste permanente evento que é a morte. 

A morte está dada desde o dia de nosso nascimento. A morte é o que nos faz ser.

domingo, 11 de novembro de 2018

A CONSCIÊNCIA DA VIDA E DA MORTE

A consciência de mim mesmo é tão somente consciência de um mundo que me consome.

É o mundo que existe e me contém como um efeito menor de seu acontecimento. Sou perecível é acidental, mas carrego em minha singularidade todas as possibilidades desta realidade que me transcende e esclarece. Sou tudo e nada ao mesmo tempo.
 
A consciência de mim mesmo é o saber paradoxal da morte como essência deste nada que é  a vida. O inorgânico é o fundamento do orgânico nos abismos da biologia.

sábado, 10 de novembro de 2018

ESTAR VIVO

Estou vivo e isso não significa nada. Amanhã será outro dia e eu talvez não mais exista. E tudo continuará sendo como é onde agora minha existência acrescenta.

Estar vivo? Ninguém existirá no meu lugar. Mas a morte ensina que não há lugar que nos defina.
Estamos vivos...que bela porcaria!

terça-feira, 6 de novembro de 2018

NIILISMO É EXISTÊNCIA

Vivemos apenas para desaparecer. Viver não passa de um fracasso ontológico. Mas é isso que torna a existência interessante. Ela não possui um propósito individual. É um acidente coletivo do qual somos todos impotentes vítimas. 

Nos inventamos como singularidades na exata medida em que recusamos as inércia de nossa condição social e o vazio das convenções gregarias.

Inventar uma biografia depende de nossa capacidade para fugir ao ego como matriz social. Indiferença e desinteresse norteiam uma vida autêntica e sem propósitos.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

O ENIGMA DO TEMPO



O tempo é múltiplo mais do que relativo. Passa de forma diferente para cada um de nós como não é o mesmo para as coisas inanimadas. Podemos mesmo supor que ele não existe em suas diferentes intensidades e efeitos como uma entidade coesa, como um dado homogêneo de nossa percepção ou como um dado supostamente objetivo, tal como nos sugerem os sentidos. O tempo é composto e só se torna plenamente ele mesmo quando finda, quando se faz em um só momento passado e futuro através do presente como uma ausência (potência) que não se confunde como um momento do que já foi e do que será.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

LEMBRANÇA DE ALGUEM QUE SE PERDEU DA VIDA

Minha perplexidade diante do fato de sua inexistência após anos de intenso convívio não conhece limites. Como é possível que sua realidade tenha se desfeito? Não posso aceitar sua ausência. Minha memória depõe contra o seu silêncio. Maldito seja o tempo que nos arrancou um do outro. Sua morte será sempre para mim a constatação dolorosa de algo inaceitável.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

VESTÍGIOS


Deixo nas coisas o sinal da minha ausência
Pois vivo para inventar vestígios vagos de mim mesmo
Como se minha existência fizesse sentido.
 Sou a singularidade improvável de um corpo que existe como pensamento.

Há nisso algo de irrepresentável,
Existe em tudo uma indeterminação que escapa,
Fazendo o mundo um acontecimento meu
Quando para o mundo não passo de virtual exemplo de humanidade.

Mas deixo nas coisas vestígios...
Futuramente eles dirão meu silêncio.

DIA DOS MORTOS


Nossos mortos estão sempre presentes na indiferença do silêncio que em  tudo penetra clandestino. 

Eles antecipam nosso morrer como onipresente definhar que nos ensina o tempo. 

Todas as urgências são ilusórias onde a consciência aprende o morrer.

Há muita filosofia transbordando no dia de finados.