segunda-feira, 29 de junho de 2015

ANOITECIMENTO



Entre as ausências do passado
E vazios do agora,
Aos poucos me desfaço
Da própria vida.

A solidão  me faz companhia
Em meio ao anoitecer de tudo.
O resto é muda e surda melancolia.

Assim, minha vida anoitece
dia após dia.



DESENCANTADO

A roupa rota,
O andar cansado
E aquele olhar vazio
Que definem os desesperados,
Denunciavam que era daqueles
Que desistiram de tudo.
A vida já não lhe dizia mais nada.
Respirava por involuntária teimosia.
Tudo agora era passado
Nas vontades quebradas
Que colecionava no suportar
Das rotinas.
Não era  triste,
Mas não estava alegre.
Apenas havia se despido
De si mesmo.
Já não levava no bolso

Qualquer ilusão.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

O EXÉRCITO DOS MORTOS

Os mortos dominam a paisagem,
Crescem seu contingente
De representantes das ausências
E dos silêncios.

Há mortos por todas as partes.
Vejo vestígio de falecidos
Nos objetos e lugares cotidianos
Como quem contempla a lua
E as estrelas.

A morte é quase absoluta.
Um dia ela  te arrebatará
Para o seu absurdo exércicto.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

DECEPÇÃO

De pouco me valeu toda poesia,
Os sonhos vividos as margens de um abismo.
O vento do meu delírio não me deixou caminhos,
Nem me proporcionou venturas.
Sempre vivi o mundo pelo avesso.
Sempre fui  quem  não nasceu para isso,
Quem nunca viveu para aquilo.
Sempre andei a margem do mundo,
Evitando os outros
E destruindo a mim mesmo
A espera de qualquer boa nova.


quarta-feira, 17 de junho de 2015

SOU SUICÍDIO

Não sei se existo.
Cada vez mais duvido
Que tenho uma vida,
Que sou eu aqui e agora
A dizer isto.

Talvez eu não passe
Do ato de imaginação,
De uma ilusão muito estranha.

Quase não me sinto parte
De qualquer realidade
Que ultrapasse o mero pensar
Que existo.

Mas não existo...

SOU SUICÍDIO.

terça-feira, 16 de junho de 2015

A ANGUSTIA DA MORTE

O que mais me incomoda no fenômeno da morte, não é o trágico fato de que morrerei um dia. Mas de saber que terei que viver a morte de pessoas que amo. A ideia de não poder mais falar, abraçar e fazer coisas com aqueles que se tornaram profundamente parte da minha vida, é a mais assombrosa experiência da morte.

Esta subtração inevitável da minha realidade e dos outros é algo difícil de lidar. Isso me faz pensar que a vida não tem um significado. E não me venham falar de fantasias religiosas sobre vida eterna ou coisa que o valha. Não sou um idiota para levar em consideração tais balelas que não valem a imagem do cadáver de um ente querido.

Apenas morremos. Isso é um fato diante do qual não funciona a cegueira de nenhuma fé.

Sei que já escrevi sobre isso antes. Mas este é um assunto sempre presente, que nunca se esgota, e nos coloca diante da dor de sofrer o passar do tempo e das coisas. Não busco aqui nenhuma resposta, nenhuma saída filosófica. Apenas , mais uma vez, expresso minha perplexidade e a sombra do medo que me acompanha constantemente.

RUMO AO PASSADO

Enquanto eu lembro o passado
Sinto desfazer-se aos poucos
Meus prováveis futuros,
Como se a vida seguisse agora
Para traz,
Como se tudo que me restasse
Fosse me reinventar na lembrança
E no esquecimento
De tudo aquilo que a vida

Já pode ser um dia.

FATALIDADE

Quantas pessoas acordaram hoje para o seu último dia de vida?
Quantas não sabem que não há mais futuro?
A vida é absurda e não cabe em nossos desejos.
Termina quando menos se espera,
Quando ainda parece possível
Seguir em frente.

Mas nada mais resta a fazer...

segunda-feira, 15 de junho de 2015

FATALISMO

Estou a espera do fim dos anos,
Da  consumação do passado
Na vertigem da escuridão.
Morrer no fundo
É tão simples,
Que me pergunto
Porque, afinal, ainda
Tantos estão vivos.
Morrer é tudo aquilo

Que nos define.

SEXO E MORTE

Tua silhueta sombria decorava o quarto
Com um silêncio estranho.
Mas teu sexo era perfeito.
No gélido dos teus beijos
Provei nervoso
Qualquer espécie de morte.
Não era o amor,
Mas um vazio elementar
Que você me dizia
Naquela cama.
Através do teu corpo delicado e mórbido
Sobre o meu afoito e desesperado.
Um dentro do outro aprendíamos a morrer
Em cada encontro.


sexta-feira, 12 de junho de 2015

TODO MUNDO SE FODE UM DIA

Você pode viver e acreditar no que quizer. Mas um dia você morre e game over na porra toda que você oi um dia. Morrer é foda pra caralho. Não tente aceitar a morte. Viva desesperadamente, grite sua existência. Um dia você morre e o resto é só a puta que te pariu!
A vida é um ato sujo dentro do absoluto do passar do tempo.

Só isso....

quinta-feira, 11 de junho de 2015

ANTES DO FIM

O melhor da vida já havia passado.
Tudo que restava agora era aquela rotina opaca e sem grandes perspectivas.
Não era uma boa vida. Invejava qualquer um pelo simples fato de não ser ele.
Afinal, nem mesmo sabia mais direito quem era. Vivia apenas para pagar contas
E sobreviver a duras penas a noites solitárias e vazias.
Já havia perdido tudo. Era só um resto de gente, um entulho, esperando por um fim que lhe livrasse de toda agonia.

Mas que demora para a vida ir embora!

quarta-feira, 10 de junho de 2015

SOBRE A FUTILIDADE DA VIDA

A vida é uma coisa pequena e fútil.
Qualquer hora você morrerá e se perderá de tudo que foi um dia.
E o mundo, simplesmente,  seguirá em frente  sem você.

Mas não pense nisso e  olhe para os dois lados

Antes de atravessar a rua...

terça-feira, 9 de junho de 2015

APENAS OS MORTOS SÃO LIVRES


Quando eu for apenas uma lembrança
caberá em mim todo esquecimento
que o vazio da eternidade permite.

Serei livre de tudo,
até da memória dos outros.
Nunca mais serei julgado,
condenado.
Apenas os mortos
gozam do privilégio da liberdade.

MORRENDO AOS POUCOS

Minha vida é povoada de mortos. Leio pessoas mortas, escuto pessoas mortas e conheci e compartilhei minha existência com dezenas de gente que já morreu, que caíram no passado definitivamente.

As vezes quase duvido de que ainda estou vivo.... Há algo de irreal agora em meu acontecer biográfico que só alguém que se tornou tão intimo da memória dos mortos consegue conceber.

A morte é uma ausência, mas a experiência dos mortos e da morte é algo que apenas o que ainda respiram são capazes de sofrer. Trata-se do sinistro pressentimento de tudo aquilo que nos mata tão sutilmente quanto o passar do tempo.


O SUICÍDIO E A PERENIDADE DA EXISTÊNCIA

Não tinha muito apego a vida. Depois de certa idade  começava a perceber a existência como um estado provisório e efêmero destinado ao malogro.

Ele apenas respirava e sofria o tempo sentindo seu corpo pouco a pouco mudar ou, simplesmente, declinar. A única expectativa que possuía era com respeito as circunstâncias de sua morte.
A ideia de suicídio lhe confortava. Era uma forma de vislumbrar algum controle sobre a situação absurda e sem sentido que era a existência. Viver e envelhecer sozinho havia feito dele um cético. Quase um niilista.

Todas as coisas e situações da vida passam. Todas as preocupações que lhe atormentavam o pensamento amanhã não significariam mais nada.  O que importava? Tudo era absolutamente superficial e perene.

Sim. A ideia de suicídio mostrava-se interessante diante de um existir tão árido e solitário.


domingo, 7 de junho de 2015

JUÍZO FINAL

Sei que quero mais
Do que tudo aquilo
Que posso,
Eu persigo o absurdo
Em imaginações e soluços.
Sei que nada é justo,
Que o acaso sempre grita
Nosso reduzir ao caos.
Então sorria,
Delira e se embriga.
Esteja dançando no abismo

Diante do teu mais intimo fim.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

MORTE E SOLIDÃO

A gente aprende a estar sozinho. Não é uma coisa boa. Mas a gente aprende.

Com o tempo você se conforma a estar inteiramente enterrado em si mesmo e se arruinando.

Afinal, isso pode ser uma merda, mas ainda é melhor do que viver como um zumbi sorridente entorpecido por uma rotina convencional de merda. Era de fato pior se iludir com o engodo de que  a vida funcionava direito, do que provar goles amargos de caos pessoal em alguma sarjeta. Isso trazia, paradoxalmente, mais dignidade.

Mas eu sempre era incoerente comigo mesmo. Acreditava que tudo podia ser diferente qualquer dia. Tomava a realidade como um sonho ruim do qual podia acordar alguma hora e retomar minha existência e buscas vazias de plenitude.

Ainda tinha esperanças. O que fazia de mim um perfeito idiota disposto a correr o risco de me sacrificar por qualquer migalha de esperança. Infelizmente, ninguém é perfeito.

Mudanças só seriam possíveis se todo mundo enlouquecesse ao mesmo tempo.