terça-feira, 31 de maio de 2016

SAUDADES DO MEU PAI

Caso você ainda estivesse vivo, não sei o que me diria neste momento. Posso apenas especular enquanto sofro a falta da sua voz, da sua companhia. Sou ainda em grande medida definido pela sua ausência e por esta saudade onde me reconheço morrendo cotidianamente.

Viver é acumular saudades e sofrer o passar das coisas. Somos para os nossos passados e não nos iludimos com qualquer futuro. O futuro é o presente dos jovens.


Sinto sua falta me surpreendendo ausente de mim mesmo.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

UM POUCO DE NOSTALGIA

Tanta coisa acontecida e esquecida,
Perdida de tudo e de todos
Que nem parece que um dia
Já foi concreto acontecimento.
Parece agora que foi sonho
De tão distante da realidade.
Por isso me sinto, as vezes,
Um pouco morto
Perdido em tanta lembrança.


terça-feira, 24 de maio de 2016

XÍCARA DE CAFÉ PRETO

Afogado em uma xícara de café preto
Enquanto tudo aquilo que ainda não existe
Alimenta minha imaginação faminta.
Que triste viver apenas do agora,
Do passado e do presente
E a margem de futuros que nunca serão meus.
Sinto a agonia da lucidez dos quase mortos
Que não suportam a ideia de se perder do tempo,
De não ser quando ainda há tanta coisa pela frente.

É muito pouco afogar-se em uma xícara de café preto...

segunda-feira, 23 de maio de 2016

TEMPO PERDIDO

Não me preocupo com o futuro,
Reviro passados em busca de desejos perdidos,
Sem esperar soluções, princípios ou explicações.
Tudo já está consumado.
Só preciso encontrar o modo mais cômodo
De olhar de frente meu próprio vazio.
Apenas isso importa
Enquanto o tempo passa inútil .


quinta-feira, 19 de maio de 2016

SORRIA!

Vamos brincar um pouco com a vida
Enquanto o tempo passa
E tudo acaba.
A existência é uma grande piada.
Sorria, enquanto ainda é tempo.
Sorria!
Estamos todos sempre a margem do abismo
Rabiscando absurdos,
Rascunhando futuros contra os fatos.
Precisamos prender a vida

No instante de um riso.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

NOTA SOBRE O MEDO DA MORTE E O MORRER

Na sociedade contemporânea a morte é cada vez mais um fenômeno de caráter público e impessoal, mediado pelos profissionais de saúde. Ela é cada vez menos representada como um acontecimento subjetivo e irracional. Salvo no caso da fatalidade de um grave acidente, tendemos a morrer em hospitais e não no espaço privado de nosso lar entre aqueles que participam de nossas vidas.

Há no imaginário social contemporâneo uma tendência a recusa da morte e da doença em  função de um ideal de saúde e vida saudável  como norma social. Assim, tendemos a ignorar qualquer manifestação associada ao mundo de thanatos. Mesmo cientes de que, independente de nossos esforços, seremos  confrontados, em algum momento, com nossa própria  finitude ou daqueles que amamos. Podemos abraçar o engodo de qualquer representação de uma existência pós morte. Mas nenhuma fé é capaz de eliminar o medo da morte ou a dor causada pela perda de um ente querido.

Evitamos pensar sobre o assunto... Tentamos ser felizes. Mas isso obviamente não elimina a morte.  Convivemos com ela diariamente, seu silêncio nos habita. O medo da morte não pode ser superado. Diria que nem deve ser... Ao contrário, precisamos aprender a lidar com tal fobia, integra-la em nossa consciência de mundo.

  

terça-feira, 17 de maio de 2016

A MISERIA DAS REFEIÇÕES

Não  como por prazer,
Não  me alimento para nutrir o corpo.
Como apenas para não  morrer
E por ser escravo desta necessidade.
Sou inimigo da boa mesa,
Dos protocolos da alimentação,
Dos bons pratos e temperos.
A necessidade de alimento
Apenas expõe  a fragilidade
De nossa ridícula condição  humana.

O ABSOLUTO DA MORTE

Estou morto desde que nasci.
Aliais, sempre estive morto
E a vida não passou de um engano
Da natureza,
De um acidente.
Mas tudo que vivo
De antemão já não existe.
Nada aconteceu.
O tempo é uma mentira.
Vivo da memória de tudo
Que nunca foi.
Inclusive o momento inútil
Deste poema,

Nunca aconteceu...

segunda-feira, 16 de maio de 2016

O SILÊNCIO DA MORTE

Imagino que a morte não passa de silêncio,
Um silêncio definitivo e irreversível
Que dissolve  todas as falas, todos os gestos
E emoções.

Morrer é ausentar-se de modo tão profundo
Que dissolve  a data do próprio nascimento
Desfazendo todos os aniversários.

Nenhum silêncio é pior do que este,
Pois nele nem mesmo existe

Aquele que se cala. 

sexta-feira, 13 de maio de 2016

A CONSCIÊNCIA DA MORTE E DA FINITUDE

Nos apropriamos do mundo na medida em que nos tornamos capazes de representa-lo como linguagem e transcender gradativamente o mimetismo imposto pela natureza e pelo império material da necessidade. Mas isso não fez de nós seres abstratos, mesmo que alguns delirem em suas obtusas convicções metafisicas que possuímos uma essência abstrata a que chamam de alma, reportando-se aos tempos mais infantis da cultura humana.

O fato é não sacralidade alguma na vida e somos seres perecíveis e provisórios cuja existência é indiferente ao mundo em que vivemos.


A ideia de que vamos morrer é o que nos fundamenta a perplexidade do fato de estar vivo. Diferente de todos os outros animais , pelo que sabemos até agora, somos os únicos  e ter consciência da morte. É isso o que nos torna tragicamente únicos. 

quinta-feira, 12 de maio de 2016

ENTERRO

Os sinos tocam no cemitério
Mais uma vez no dia.
Nada especial.
Fato ignorado e banal
Para o mundo que segue
Sem novidades.
O fim é constante e pouco importante.
Quem , afinal, se importa?

É quase hora do almoço.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

LEMBRANÇAS

A vida é lembrança.
Nada mais do que uma lembrança
Que vive dentro da gente
Como uma chama.

Pouco importa os fatos.
Só existe o que é lembrado,
O que nos queima  por dentro
Como saudade.

Somos feitos de saudades...


terça-feira, 10 de maio de 2016

O SER HUMANO É O ANIMAL MAIS IDIOTA QUE EXISTE

A vida é  uma ideia abstrata que indiscriminadamente utilizamos contra o fato cru da mera e insignificante experiência  de existir.

Em termos naturais existir não  significa nada. Dura menos do que um segundo de tempo das coisas inanimadas.

Todas as mensagens positivas sobre a vida carecem de bom senso e realidade. Mas,de um modo geral, as pessoas precisam acreditar que  são  importantes para suportar suas insuportáveis existências. São  incapazes de aceitar a morte e a própria natureza. O ser humano é  o animal mais idiota que existe.

NOSTALGIA

Podia passar o resto da vida inerte
Enterrado no passado acordado
Por aquela antiga foto,
Naqueles ecos de infâncias que ainda
Me gritam por dentro.
Afinal, quem eu sou hoje?
O que resta do futuro,
Dos outros e dos meus sonhos?
Sou agora uma opaca versão
Dos meus melhores dias

querendo  o passado como um absurdo futuro.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

O FANTASMA DA FINITUDE

 Morrer pode ser, antes de um fato, um processo psicológico  mais corriqueiro do que imaginamos. Pode ser mais evidente entre os idosos. Mas as vezes, prematuramente, nos surpreendemos diante do espectro da finitude. A existência  não  segue em linha reta. E a vida não  é  nada daquilo que nos ensinaram...

ENVELHECER

O corpo já não era o mesmo.
Contrariava com frequência minhas vontades
E, quase  sem perceber, fui deixando de lado
Algumas rotinas.
Meu corpo mudou tanto
Que já não sou mais capaz
De acompanhar a vida.
Muitos esperam mais juventude,
Procuram mascarar a idade.
Eu, ao contrario, me resigno
Ao peso dos anos,
A esta saudade de quem

Eu costumava ser. 

terça-feira, 3 de maio de 2016

O PERVERSO DA FOTOGRAFIA

Não gosto de fotografias.
Elas nos lembram que o tempo passa,
Que a realidade é frágil
E tudo é perene.
Nos confrontam com o momento,
Com algo perdido
E reduzido a passado inútil.
Fotografias são perversos registros
De algum silêncio.


segunda-feira, 2 de maio de 2016

PENSE SEMPRE NA MORTE

As pessoas só  realmente percebem o quanto são  concretamente um corpo quando ficam doentes. Toda enfermidade nos revela muito sobre a existência  na medida em que nós confronta com a finitude e todas as suas consequências  existenciais.

E não  adianta acreditar em todas as bobagens sobre vida após  a morte quando a doença  é  grave. A vida tem graves limites. E, por mais que avance a Medicina, não  nos livrará  de um  fim certo e biológico. 

Morrer é  a única questão  pertinente no exercício cotidiano da vida.

MORTE E PALAVRA

Que a palavra me redima desta curta e decepcionante aventura que foi a existência.

No final ela é tudo que fica como uma pálida reminiscência de tudo aquilo que fui e que não pude ser. Através dela cristalizo meus limites, meus universos e sentimentos despudoradamente vomitados no espaço em branco dos pensamentos.

Sei que algo sempre faltará ao dizer, que dele jamais poderão ser deduzidas todas as consequências da minha vida.  Mas ela será o pouco que sobra da minha  quase invisível presença no mundo.


A palavra é, de certa  maneira, o testemunho do meu corpo.

UM DIA DEPOIS DO OUTRO

Um dia depois do outro
Fui me colocando à margem,
Me deixando abstrato e provisório
Frente ás exigências do dia a dia,
Os tumultos humanos e impasses cotidianos.

Tão sem sentido é o pouco dos fatos,
A vida que segue em improvisos,
Que me escrevo no finito e no mínimo
Do meu tempo intimo.
Não guardo mais

Qualquer expectativa.