Na sociedade contemporânea a morte é cada vez mais um fenômeno de caráter
público e impessoal, mediado pelos profissionais de saúde. Ela é cada vez menos
representada como um acontecimento subjetivo e irracional. Salvo no caso da
fatalidade de um grave acidente, tendemos a morrer em hospitais e não no espaço
privado de nosso lar entre aqueles que participam de nossas vidas.
Há no imaginário social contemporâneo uma tendência a recusa da morte e
da doença em função de um ideal de saúde
e vida saudável como norma social. Assim,
tendemos a ignorar qualquer manifestação associada ao mundo de thanatos. Mesmo
cientes de que, independente de nossos esforços, seremos confrontados, em algum momento, com nossa
própria finitude ou daqueles que amamos.
Podemos abraçar o engodo de qualquer representação de uma existência pós morte.
Mas nenhuma fé é capaz de eliminar o medo da morte ou a dor causada pela perda
de um ente querido.
Evitamos pensar sobre o assunto... Tentamos ser felizes. Mas isso
obviamente não elimina a morte.
Convivemos com ela diariamente, seu silêncio nos habita. O medo da morte
não pode ser superado. Diria que nem deve ser... Ao contrário, precisamos
aprender a lidar com tal fobia, integra-la em nossa consciência de mundo.