quinta-feira, 31 de outubro de 2019

AQUI E AGORA


Não há outro mundo,
Não há outra vida.
Existe apenas o aqui e o agora,
E uma hora,
nem mesmo isso.

Tudo é muito simples,
direto e claro.
Tudo que somos
nos deixa.

O fim, entretanto,
é sempre um enigma.
Ele não cabe no tempo e no espaço
de uma existência inteira.

Também não pode ser pensado, 
visto que nega a memória
e transcende a possibilidade da experiência.


quarta-feira, 30 de outubro de 2019

RELATIVISMO MÓRBIDO


Gostava mais da casa dela
do que da minha.
Amava a vida que ela tinha,
nunca soube que queria
deixar tudo aquilo
que a definia.
jamais imaginei-a suicida.


ABANDONO


O abandono não é um estado das coisas,
mas uma inercia da alma.
Não é a inercia dos atos
no calar da vontade,
mas uma indiferença,
uma desvaloração
que corrompe
e semeia silêncios
e mortes.

terça-feira, 29 de outubro de 2019

MATURIDADE

Atingimos a maturidade quando percebemos que o mundo não  é  um lugar seguro,  que a morte é  o futuro de tudo, e que o esquecimento define a memória. 

Então, nos damos  conta de que não   nascemos para a felicidade e nem duramos o suficiente para fazer qualquer ideia de como o mundo é  possível em termos humanos. 

Atingimos a maturidade quando perdemos qualquer esperança de auto realização.

DESPIR-SE DE SER

Não é  importante me vestir de ser,
Sair a rua e enfeitar o dia comum, 
Como se meu pequeno canto de existência 
Pudesse eclipsar o mundo.

Tudo em mim é  ausência.
Sigo perdido na exterioridade do tempo,
Das coisas em movimento,
Construindo aos poucos
Um grande silêncio. 

Preciso me vestir de não ser
E apagar a rua 
Na queda do abismo,
Tocar o infinito que me consome.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

MORTE E ESTAGNAÇÃO


O ato de viver é qualquer coisa incerta sobre um estado de vir a ser permanente. É como um sonhar acordado, a intuição delirante de um existir sempre em potência  que nunca se detém em qualquer versão materializada de si mesma. Esta angustia do sempre outro é o que faz a vida mutação e movimento. Tudo que é vivo esta fadado a nunca permanecer até o esgotamento da possibilidade particular de acontecer como um permanente estado de mudança. Morrer é permanecer o mesmo....

terça-feira, 22 de outubro de 2019

DIA SEGUINTE

Viverei para ver outro dia nascer.
Viverei para honrar meus mortos,
Nosso passado comum,
Espantado com a vida,
Com o tempo e os absurdos da natureza.
Hábito memórias pessoais
Que não  cabem no devir do mundo.
Mas o esquecimento me conduz ao futuro.

domingo, 20 de outubro de 2019

A DOR

A dor mais intensa
Não  procura abrigo
No desespero do grito.
Ela sussurra o vazio,
Nos rouba da morte
E apodrece a existência
Sob as condições mais extremas.
Ela nos faz inumanos.

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

TEMPO E ESQUECIMENTO


“O tempo é um rio formado pelos eventos, uma torrente impetuosa. Mas se avista lima coisa, já foi arrebatada e outra se lhe segue, que será carregada por sua vez.”
Marco Aurélio in Meditações

Fiz o inventário provisório dos meus esquecimentos. Soube um vazio intenso povoado por  esgotamentos e sucatas, pela memoria quebrada dos mortos, pelos restos degradados de momentos perdidos e pleos vestígios de muitos futuros abortados.
O efêmero do sempre agora é um infinito impossível que se multiplica a cada novo acontecimento. Ele é o eterno imperfeito em sua durabilidade, em seu perpetuo vir a ser onde tudo que se repete já é metamorfose, uma outra versão de si. Não a identidade, tudo é simulacro, superfície. Tudo que é se perde em silencio e esquecimento. Tudo é perecível.


segunda-feira, 14 de outubro de 2019

ÓDIO A ETERNIDADE

Imagino a eternidade como um absoluto silêncio,
Um vácuo  onde nada existe,
Onde nada é  possível.
A eternidade fede a podre.
Nela nada acontece
No infértil campo do indizível.
Nada é mais repugnante
Do que aquilo que não se transforma.

O ABSURDO DE UM INSTANTE


Provo o instante incerto de um presente,
Que quase parece eterno,
Contra o deserto movente
Do tempo cotidiano,
Cíclico e sem brilho
Como a pedra de Sísifo.

Provo um relâmpago sem tempestade,
Que não  cabe no céu  de qualquer futuro.
Sei um grito, um desatino,
Qualquer revolta,
Contra as falsas certezas
Da ordem estabelecida.

Cabem mil mundos possíveis neste instante incerto,
Onde invento a coragem
De um riso  de morte.

domingo, 13 de outubro de 2019

UM DIA

Um dia...
Há sempre um outro dia
Para perpetuar angústias,
Renovar medos e incertezas,
Gritar esperanças,
E rir do trágico de nossa existência.
Há  sempre um outro dia para viver,
É sempre um outro dia onde se pode morrer.

sábado, 12 de outubro de 2019

VITALIDADE

Não  posso saber o dia da minha morte, nem esgotar o tempo de uma vida inteira. Pois minha existência toca o mínimo infinito de ser em profunda natureza.

Mas não  sou eterno. Sou um momento de vida, uma ilusão  ambulante que inventa a própria realidade.

Quando morrer, serei perfeito em mim mesmo, enterrado no meu próprio silêncio. A vida prossegue através  da minha inexistência.

terça-feira, 8 de outubro de 2019

MORTALIDADE

Em um dia qualquer como o de hoje,
Em algum lugar da Terra,
Alguém morreu sem alarde.

O fato se repete e se repetirá
todos os dias
Até o remoto fim te toda a humanidade...

o que não tem a minima importância
diante da imensidão do universo,
Do seu assombroso silêncio.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

SOBRE NASCER E VIVER

Acometidos ao nascer  por esta estranha doença que é o tempo, não somos  senhores de nosso momento, de nosso destino. Somos apenas vítimas dos anos e estamos fadados ao desaparecimento.

A vida é  tão  efêmera... Mas só  tiramos todas as consequências disso na doença ou na velhice.

Viver é  mais do que nascer e crescer. Vai além  de nos conformar ao mundo e as humanidades.

Viver é  qualquer coisa que ainda não  descobrimos. É quase uma esperança.

PÓS VIDA



Desfeito pela morte,
Persistirei presente entre as coisas
Nas infinitas cores das asas das borboletas.


Não sofrerei mais humanidades
ou identidades.
Serei  espaço abstrato e ecografia.


Abandonarei sem reservas
A ilusão de uma consciência,
a perenidade do orgânico,
e a própria condição humana.

  
Serei feito de superfícies,
efeito de olhar, 
entre o ser e o não ser,
quase uma fantasia
entre sonho e vigília .


sexta-feira, 4 de outubro de 2019

APRENDER A MORRER


Encontre o seu silêncio,
Seu modo próprio de desdizer o mundo,
De perder o rosto.

Radicalizar a existência
É confundir-se com as coisas,
Tornar-se o ambiente
Na intuição da morte,
No saber rizoma.

Na ilusão do ser ou não ser
Apenas exista.
Seja uma árvore.
Aconteça!

Saber viver é aprender a morrer....
amanheça quando escurecer.



quarta-feira, 2 de outubro de 2019

A SABEDORIA DOS AFOGADOS


Deixem a felicidade para os incapazes de se afogar na paisagem.
Nossa estirpe é de mergulhadores de abismos,
De desbravadores de superfícies.

Não queremos coisa pequena como qualquer ideal vazio de felicidade.
Sofremos o encanto da morte guerreira e aprendemos a finitude como virtude.
Tudo é simulacro no caos geral da existência.
Afoguem-se!