A MORTE É UM DOS GRANDES TABUS DO IMAGINÁRIO OCIDENTAL.FATO QUE POR SI SÓ JUSTIFICA O ESFORÇO DESTE BLOG DE EXPLORAR SUAS REPRESENTAÇÕES COLETIVAS ECODIFICAÇÕES PESSOAIS...
Morrer em vida é
abdicar da experiência da imanência ou, pelo menos, recusa-la deliberadamente. Perdido,
então, o vinculo entre a consciência e a experiência imediata, a vida não vive.
Passa a acontecer no abstrato das valorações, das fantasias em torno do “deveria
ser” e dos pueris prazeres do ego que, de modo unilateral, inventa e impõe seus
próprios critérios de verdade e validação
do real.
Morrer em vida é
abdicar da imediaticidade do prazer sensual e irracional em função de qualquer
abstração racional e egocêntrica de verdade. Para muitos, a vaidade do deveria
ser importa mais do que a própria existência.
Tenho aprendido
uma rotina de resistências. Seja em relação ao mundo ou, simplesmente, a mim
mesmo. Persigo um ideal simples: existir em um ponto intermediário entre a
representação e a vontade, entre o pensamento e o corpo. Quero me tornar, deste modo,
um objeto de meu sentimento de vida e existência, esculpindo a imagem selvagem
de ser em qualquer sensibilidade estética de mundo e realidade. Viver para mim é movimento e arte na vocação para o não ser.
Reduzido a
banalidade deste existir animal, o que mais posso esperar a não ser me perceber
como um ponto no meio de uma linha de nada?
Definitivamente,
qualquer eternidade seria uma grande perda de tempo, a perpetuação sem sentido deste
vazio que sou eu. Um eu equivalente a milhares de outros eus espalhados pelo
mundo, que surgem e desaparecem continuamente.
O finito jogo de possibilidades que nos define cada época da vida, de forma alguma pode ser entendido como escolhas. Mas como potencialidades pré determinadas de desenvolvimento. Somos reféns de nosso ponto de partida. Há sempre condições e premissas. Somos o que podemos ser subordinados às condições externas de nossa existência. Estamos sempre condicionados à determinado ambiente social e cultural que estabelece de antemão nosso vir a ser. Fazemos escolhas, mas elas não nos transformam em qualquer coisa diferente do que fomos condicionados à realizar. Ninguém escolhe morrer. Vivemos, ao contrário, como se fôssemos eternos. Mas morremos contra toda as expectativas que a vida nos leva a ter. Isto se aplica a tudo que nos acontece. Somos como jogadores sem direito a escolher o jogo. Mas agimos como se as regras não existissem para fugir a angustia provocada por tais condicionamentos. Seja como for, nada será um dia da forma que poderia ser segundo nossas mais banais idealizações. A vida é o que é: uma experiência limitada e frustrante carente de qualquer propósito. Assim sendo, apenas viva. Não crie expectativas ou alimente ansiedades. Nossos desejos nos limitam.
Se a morte é
essencialmente ausência, tudo que podemos oferecer aos nossos mortos o consolo
de nossa lembrança. O afeto nos leva a livra-los da fatalidade do esquecimento,
mesmo que de modo insuficiente e precário. A lembrança se converte em uma forma
de vaga presença, de companhia que nos habita a imaginação. Assim, participamos
da morte dos outros oferecendo uma parcela de nossa própria vida.
Temos um passado que cresce enquanto gradativamente o futuro desaparece do nosso horizonte.
Temos um passado que nos define.
A maior parte do tempo presente
É feito de lembranças.
É através delas que realmente existimos
Depois de certa idade.
Sou um ninguém habitando um rosto
entre estranhos. Julgo-me mesmo relativamente invisível ao mundo nesta formal e
irrelevante existência numérica. Não sou de qualquer forma importante. Apenas
um consumidor de coisas inúteis, como outro qualquer, seguindo as tendências do seu tempo. Involuntariamente
contribuo para perpetuação da grande comedia humana. Mesmo que sobre protestos.
Tudo que me define é a
indeterminação niilista de uma consciência perplexa.
O tempo escreveu a folha em branco da minha existência no livro da desventura humana. Repetiu o mesmo enredo sem sentido de sempre, afirmando a vida como um erro corrigido por um ponto final.
Uma consciência trágica da existência é aquela que nos reduz a finitude do corpo, ao tempo como topografia da imaginação da existência.
Imersos no devir do mundo como indeterminado acontecimento, inventamos nosso íntimo inacabamento atraves da aparente constancia dos dias e das noites que nos consomem.