quinta-feira, 30 de novembro de 2017

O NIILISMO DENTRO DA FRASE


Dentro da frase mora um silêncio,
Um não sentido,
Que não pode ser escrito,
Mas sustenta seu significado.


Quando percebido ele quase apaga
o dizer da frase,
Confessa o niilismo do gesto verbal
De brincar com enunciados.





quarta-feira, 29 de novembro de 2017

MORTE E MEMÓRIA

A memória nega a morte.
Vigora onde um vazio insinua
A marca do desaparecimento,
A falta e a ausência,
Que transforma os sobreviventes.

Assim, os mortos habitam os vivos
Como um eco,
Uma presença
Em perpetuação banal
De um passado comum
Que permanece em movimento.

Parte do  futuro é feito deste passado. 

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

MORRER EM VIDA


Morrer em vida é abdicar da experiência da imanência ou, pelo menos, recusa-la deliberadamente. Perdido, então, o vinculo entre a consciência e a experiência imediata, a vida não vive. Passa a acontecer no abstrato das valorações, das fantasias em torno do “deveria ser” e dos pueris prazeres do ego que, de modo unilateral, inventa e impõe seus próprios  critérios de verdade e validação do real.

Morrer em vida é abdicar da imediaticidade do prazer sensual e irracional em função de qualquer abstração racional e egocêntrica de verdade. Para muitos, a vaidade do deveria ser importa mais do que a própria existência.
  



APRENDENDO A ARTE DE VIVER




Tenho aprendido uma rotina de resistências. Seja em relação ao mundo ou, simplesmente, a mim mesmo. Persigo um ideal simples: existir em um ponto intermediário entre a representação e a vontade, entre o pensamento e o corpo. Quero me tornar, deste modo, um objeto de meu sentimento de vida e existência, esculpindo a imagem selvagem de ser em qualquer sensibilidade estética de mundo e realidade. Viver para mim  é movimento e arte na vocação para o não ser.


sexta-feira, 24 de novembro de 2017

INSIGNIFICÂNCIA


Reduzido a banalidade deste existir animal, o que mais posso esperar a não ser me perceber como um ponto no meio de uma linha de nada?

Definitivamente, qualquer eternidade seria uma grande perda de tempo, a perpetuação sem sentido deste vazio que sou eu. Um eu equivalente a milhares de outros eus espalhados pelo mundo, que surgem e desaparecem continuamente.




DIAS E NOITES

Alguns dias são de sombras,
Outros são de luzes.
Ambos se dissipam em noites escuras,
Sombras e sonhos os ultrapassam
Enquanto o tempo segue selvagem,
Alheio aos passos simples das horas.
Pois é sempre agora.
Tudo é movimento.
Curta é a distância entre a meia noite
E a aurora.



sábado, 18 de novembro de 2017

QUASE DETERMINISMO

O finito jogo de possibilidades que nos define cada época da vida, de forma alguma pode ser entendido como escolhas. Mas como potencialidades pré determinadas de desenvolvimento. Somos reféns de nosso ponto de partida. Há sempre condições e premissas. Somos o que podemos ser subordinados às condições externas de nossa existência. Estamos sempre condicionados à determinado ambiente social e cultural que estabelece de antemão nosso vir a ser. Fazemos escolhas, mas elas não nos transformam em qualquer coisa diferente do que fomos condicionados à realizar. Ninguém escolhe morrer. Vivemos, ao contrário, como se fôssemos eternos. Mas morremos contra toda as expectativas que a vida nos leva a ter. Isto se aplica a tudo que nos acontece. Somos como jogadores sem direito a escolher o jogo. Mas agimos como se as regras não existissem para fugir a angustia provocada por tais condicionamentos. Seja como for, nada será um dia da forma que poderia ser segundo nossas mais banais idealizações. A vida é o que é: uma experiência limitada e frustrante carente de qualquer propósito. Assim sendo, apenas viva. Não crie expectativas ou alimente ansiedades. Nossos desejos nos limitam.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

FANTASMAS

Se a morte é essencialmente ausência, tudo que podemos oferecer aos nossos mortos o consolo de nossa lembrança. O afeto nos leva a livra-los da fatalidade do esquecimento, mesmo que de modo insuficiente e precário. A lembrança se converte em uma forma de vaga presença, de companhia que nos habita a imaginação. Assim, participamos da morte dos outros oferecendo uma parcela de nossa própria vida.

sábado, 11 de novembro de 2017

TEMOS UM PASSADO

Temos um passado que cresce enquanto gradativamente o futuro desaparece do nosso horizonte.
Temos um passado que nos define.
A maior parte do tempo presente
É feito de lembranças.
É através delas que realmente existimos
Depois de certa idade.

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

AUTO RETRATO DE UM NIILISTA

Sou um ninguém habitando um rosto entre estranhos. Julgo-me mesmo relativamente invisível ao mundo nesta formal e irrelevante existência numérica. Não sou de qualquer forma importante. Apenas um consumidor de coisas inúteis, como outro qualquer, seguindo as tendências do seu tempo. Involuntariamente contribuo para perpetuação da grande comedia humana. Mesmo que sobre protestos.

Tudo que me define é a indeterminação niilista de uma consciência perplexa.

ESCRAVOS DO TEMPO


Somos todos escravos do tempo
Existindo na contra mão da vida
Através desta finitude
Que nos define como indivíduos.
Somos todos menos que nada
Delirando infinitos
Através do espaço
Adivinhando mitos.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

A VIDA COMO PERPLEXIDADE

Aquilo que não pode ser reduzido a palavra,
A memória,
Nem esgotado por qualquer ciência
Pois não se conforma ao fato.
Assim definiria sumariamente esta coisa estranha
Que é estar vivo.

Tudo que compreende minha existência,
Aquilo que é dado e concreto,
Me causa espanto,
Inclusive isso que chamam
De consciência.

No fundo tudo se apresenta como um sonho
Que exibiu algum defeito
E inventou, assim, a realidade.

sábado, 4 de novembro de 2017

O LIVRO DA VIDA

O tempo escreveu a folha em branco da minha existência no livro da desventura humana. Repetiu o mesmo enredo sem sentido de sempre, afirmando a vida como um erro corrigido por um ponto final.

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

CONSCIÊNCIA TRÁGICA

Uma consciência trágica da existência é aquela que nos reduz a finitude do corpo, ao tempo como topografia da imaginação da existência.
Imersos no devir do mundo como indeterminado acontecimento, inventamos nosso íntimo inacabamento atraves da aparente constancia dos dias e das noites que nos consomem.