domingo, 29 de novembro de 2015

A MISÉRIA DA CONSCIÊNCIA

Pessoas, coisas e lugares servem apenas como pano de fundo de nossa consciência intima da realidade. Mas tal consciência, em termos do que entendemos por realidade, não existe objetivamente.

Este é o maior paradoxo da condição humana, afirmamos uma objetividade que existe apenas em nossas cabeças.

Somos um corpo programado para se desfazer desde o nascimento,  somos entes essencialmente absurdos, mas definimos tudo em termos de  causas e efeitos, mesmo quando nossa própria razão nos diz o contrário.

A consciência, sua diferenciação da “inconsciência animal”, é quase um efeito colateral de nossa condição biológica.


sábado, 28 de novembro de 2015

A NATUREZA E A MORTE

A morte esta escrita em meu corpo
Desde o meu nascimento.
Por isso envelheço
No acumulo de erros em minhas células.
Pois  a evolução da espécie
Pressupõe a morte
Como um destino natural do organismo.

Tudo que sou é perecível.
Nada que posso  é indestrutível.
Há algo de sutilmente doloroso
Em estar vivo.


quarta-feira, 25 de novembro de 2015

SOMOS INSIGNIFICANTES INSTANTES

Somos pequenos instantes
De duvidosas existências.
O futuro para cada um de nós
Não existe.

Somos breves, provisórios
E indeterminados
Nesta vida que nos consome,
Não importa o tão concreta
Pareça ser a vida e os fatos.

Somos menos do que o ser
Que nos define viventes
E presentes no mundo.

Somos qualquer coisa
Próxima ao nada

Em um universo que nos ignora.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

PERPLEXIDADE

Entre a vontade e a preguiça
Escolhi a inércia, o tédio
E o fim da tarde.
Deixei a rotina na mesa do almoço
E fui sonhar com aqueles dias perfeitos
E desconhecidos da realidade.

Tentava me afogar no vento,
Aposentar toda verdade
E sumir do mundo
Pela eternidade de um segundo.

Apenas eu sabia
Que a razão estava louca.
Que nada  valia a pena,
Que a vida passa de pressa

E a gente morre em um estalo.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

BANAL ANONIMATO

O menino que fui
Jaz morto dentro de mim,
Como tantas outras versões
De mim mesmo
Que o tempo me impôs.
O que sou agora,
É apenas a sobra de todas elas.
Sou o último esboço possível
Do ensaio humano  de eu provisório.
Não importa meu nome,
Meu rosto.
Não serei reconhecido pela multidão.
Não me dedicarão estatuas,
Nem me atribuirão qualquer personalidade.
Tudo aquilo que por mim foi vivido,

Não faz a mínima diferença.

domingo, 22 de novembro de 2015

LUTO FILOSÓFICO

Algum dia depois de hoje
Talvez eu me refaça da perda do mundo,
Da exaustão dos sentidos e significados
Que deveriam me definir a vida.
Talvez eu me refaça do nada,
Da consciência do absoluto vazio
Que nos define a existência.
Talvez eu exista ou siga em frente
Apesar desta febre suicida,
Desta abstrata ferida
Que me sangra por dentro
De cada palavra dita,

De cada emoção sentida.

sábado, 21 de novembro de 2015

O PESO DO TEMPO

Tenho tanto tédio
Que me deixo,
Me deito e tento
Não pensar em nada,
Não saber nada,
Escrito em uma existência
Quase sem vida.
Tudo em mim  acabou em silêncio,
Em aposta perdida.
O passado soterrou o futuro.
Meus entes queridos andam flertando
Com a morte.
Tudo que me define se perdeu da realidade.
Saudades  do tempo em que eu era jovem,
Suficientemente forte para resistir ao tempo.
Agora já não tenho amores,
Nem mesmo me reconheço em meu próprio rosto.
Afogo no tempo,

Indiferente a mim mesmo.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

FILOSOFIA DA FINITUDE

Sou apenas este corpo perecível
E indiferente entre os outros.
Não pretendo outras existências,
Outros mundos, onde se perpetue
Minha consciência.
Fora isso,
Não sou se quer  aquilo que julgo
Ser meu próprio pensamento.
A vida é algo que não existe.
Não passa de um delírio coletivo

Que a morte esclarece.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

A VIDA NÃO É NADA DAQUILO QUE TE ENSINARAM.....

Odeio a simples hipótese metafísica de uma vida após a morte pelo simples fato de que não suportaria a eternidade. A ideia de que tudo vai ter um fim me  tranquiliza. Não dá para suportar a hipótese de que levarei as últimas consequências o absurdo da humanidade por séculos a frio.

Morrer é definitivamente tranquilizador. A  vida eterna seria um erro que me levaria a um constante aperfeiçoamento esquizofrênico. Pensar nisso  me dá arrepios.

Eu realmente prefiro apostar que só existe esta vida e que devo tentar o melhor possível de mim através dela. Mesmo sabendo que este melhor possível muda conforme as épocas e sociedades.


Meu sentimento de nadificação da minha condição de mundo/indivíduo guarda mais realidades do que tudo aquilo que me ensinaram sobre o que deveria ser a vida ou sobre a História da Humanidade. 

terça-feira, 17 de novembro de 2015

DESÂNIMO

Entre os vazios e os medos fui aos poucos descobrindo minhas ausências, redefinindo meus objetivos, reaprendendo minhas vontades, até o ponto em que deixei de ser possível.  

Já não me reconhecia. Não era mais eu ou outro e, entretanto, ainda não estava morto. A vida apenas havia deixado de ter realidade, as coisas haviam perdido a importância. Havia percebido que tudo tem fim e que o caminho... O caminho acaba e a gente, em algum momento fica sem ter como continuar. Passamos o tempo todo lutando contra isso.


Tudo que sei é que deveríamos levar as coisas menos a sério. Querer menos, nos importar menos... Nada vai nos levar a algum lugar.

domingo, 15 de novembro de 2015

TEMPOS SOMBRIOS

Mais uma tragédia,
Mais mortes precipitadas
Pelo absurdo que define
Tudo aquilo que ainda nos resta do mundo.
Não cabem  explicações, discursos e lutos coletivos.
Precisamos apenas  viver a  perplexidade,
O  estranhamento , o susto
E espanto
Diante do vazio de nossas certezas.
O tempo passa, as guerras mudam,
Mas a morte....

A morte é sempre a mesma.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

SOBRE O TÉDIO

Buscava uma existência intensa.
Ignorava que a intensidade não se sustenta,
não aguenta a vida.
Na maior parte do tempo
somos prisioneiros do tédio
e escravos dos nossos silêncios.
Enterrados em  desinteressantes rotinas
seguimos de encontro ao nada
comovidos pelo embuste

que é a própria vida. 

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

A POESIA DIANTE DA MORTE NA CONTEMPORÂNEIDADE

Afinal,  o que ainda é possível dizer sobre a poesia e os poetas?
A poesia se tornou uma arte banal, um tédio, definitivamente não anda bem das pernas.

Os poetas já não tem muito brilho. Andam por ai sempre tentando dizer alguma coisa boa quando habitamos um hospício de mundo e não temos mais coisas boas para viver. Acho que nunca tivemos.

Claro. Existem aqueles que se pretendem malditos e se ocupam com versos livres e tristes. Mas  são incapazes de dizer o agora de si mesmos, as nuanças de suas melancolias e a vaidade em seus punhos.

Pessoalmente, faço versos desdizendo a vida, as coisas, as pessoas, os sentimentos e, principalmente, toda possível ilusão de esperança.

Estamos destinados a morte. E é contra ela que escrevo.

Sei que quando se morre nos reduzimos a escrita, ao dito e ao feito gramatical.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

DEVIR, MORTE E REPRESENTAÇÃO DO MUNDO

O mundo só pode ser representado de modo humano quando adotamos como critério  de sua presença a finitude  através da qual ele se  inscreve no horizonte da morte, em que se apresenta como um devir constante de todas as coisas.

Não falo do morrer concreto e objetivo do humano, mas do morrer enquanto um processo de tornar-se outro, ou uma variação de si mesmo, que caracteriza todas as coisas através do tempo e do espaço.


Tal é o critério da consciência humana para estabelecer a realidade como manifesta presença de uma objetividade, de um mundo que nos envolve e faz parte dele.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

NADIFICAÇÃO

Em que pesem meus  míseros juízos,
minha precária lucidez
e as introjetadas mentiras de mundo
que me definem como ser social,
existo...
mesmo que desistindo a todo instante,
mesmo que provisório e impreciso.
Meus pés frequentam o impossível
e o fim retarda o ponto final

onde novamente me espera o  nada.

O NIVELAMENTO DA VIDA E DA MORTE

Não raramente  experimento o luto por estar vivo,
me sinto parte de um passado que não para de crescer.
É como se a própria existência fosse uma condição de morte,
um permanente estado  de desconstrução.

Poucos sabem que existo.
Sou visível para uma insignificante parcela de humanidade.
Para a grande maioria  sempre será
como se eu nunca tivesse existido.


A vida não é grande coisa...

domingo, 1 de novembro de 2015

INATIVIDADE

A rotinização da vida me faz amar o ócio,
O descaso comigo mesmo
E o prazer de me espreguiçar o dia inteiro
Sem  sair do lugar.

Já basta o peso das horas em sociedade,
A morte do tempo na mecânica dos atos
Pré fabricados.

Preciso  do relógio parado e do me esquecer um pouco,
Brincar de não ser, de não saber.

Por favor, mantenham a porta fechada.
Deixem o mundo se acabando lá fora
Que por aqui nada tenho a fazer
A não ser contemplar
O sem sentido do simplesmente

existir.