quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

A VINGANÇA DO MENDIGO

Vivo fui invisível.
Morto fui esquecido
Sob o rótulo de indigente.

Mas tenho um consolo:
A morte é para todos.
Um dia você será também
Apenas um corpo a ser descartado.

algo próximo a qualquer mendigo
em nosso mundo de mortos vivos.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

O ATEMPORAL


Sigo sempre contra o infinito
Percorrendo o ilegível
E buscando o impossível.

Condeno tudo que define o hoje,
Questiono as fantasias de um amanhã improvável,
Recuso o otimismo conformista que sempre anima a multidão.

Entre o presente, o passado e o futuro,
Sou apenas um segundo de nada.

Meus passos fogem ao progresso,
Não deixam marcas.
O tempo não me importa
Pois desde sempre estou de tudo ausente.


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

O INCONVENIENTE DA PAZ

A paz é o mais absurdo dos ideais.
Paz é silêncio, tédio e inatividade.
Sua mais perfeita alegoria é a paisagem de um cemitério.
A vida, ao contrário, quando realmente vivida, é uma doce agonia, um desassossego. Pura intensidade do corpo em movimento e ato.
Pessoalmente, não quero saber de paz.
Um dia ela fatalmente definirá meu corpo e tudo será impossível.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

O NÃO SENTIDO DA EXISTÊNCIA

Para encontrar a si mesmo cada um precisa antes inventar-se e reinventar-se mil vezes e, por fim, perder-se de sua própria invenção. Em outras palavras, ninguém realmente se encontra. Apenas recicla suas ilusões.


Nós nunca somos os mesmos e não há versão de si mesmo que se apresente definitiva, que não conduza a outra. Viver é um desencontro intimo que não comporta metas ou respostas. O nada absoluto da morte é tudo que nos espera antes  que seja possível o improvável de qualquer conclusão.

A SUICIDA



Ela gostava do sol e do dia.
Tinha hábitos saudáveis
E esbanjava simpatia.

Parecia perfeita...
Até revelar-se uma suicida.

O desespero, afinal, não tem rosto.
Apenas nos habita,
Muitas vezes de forma silenciosa,
Quase imperceptível.

Mas não condeno.
Acho mesmo que compreendo

O desatino dos suicidas.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

A MUDA CONCRETUDE DA MORTE



A miséria de nossa condição humana, em sua dimensão mais elementar, torna-se evidente na conversão da presença do corpo vivo a inercia de um  cadáver, que assim é reduzido ao status de “coisa” . O esvaziamento de suas representações, sua conversão à condição de objeto, é sempre impactante como manifestação mais concreta da experiência da morte e do morrer.

O morrer nos rasga toda significação da existência, toda valoração da vida, pondo ao rés do chão todas as falsas virtudes da vida. Convém esclarecer, que a morte não é, evidentemente, uma experiência individual, mas coletiva. Ela diz respeito a espécie, a própria vida como fenômeno natural e complexo.

O desconforto que nos arrebata na presença de um cadáver ou de imagens ilustrando as etapas de sua decomposição, é mais do que uma reação instintiva irracional, é o confronto direto como todas as nossas belas ilusões sobre nossa existência e condição de viventes. Principalmente em uma sociedade que higienizou a doença e a morte através da religião e do espaço hospitalar , que lhe recusou qualquer visibilidade ou realidade social.

domingo, 17 de fevereiro de 2019

A MORTE COMO IDEAL DE FELICIDADE

Quando alguém morre o tempo deixa de ser nesta pessoa tal como sua existência. Morrer é fugir ao mundo. Há algo de maravilhoso em não existir. Mas como poderíamos lidar com a ideia de que a felicidade está justamente onde a vida não existe?

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

SOBRE LEMBRANÇAS



A lembrança não é o decalque mal feito de um acontecimento. Ela é o próprio acontecimento deslocado e convertido em experiência presente. Por isso nossas lembranças mudam e nossa forma de lembrar também. O passado é sempre o outro do presente, a memória é sempre contemporânea. A recordação é uma presença, uma força ativa, que  transforma e extrapola o fato lembrado. O que recorrentemente se coloca em todos os nossos íntimos tempos de existência é uma única questão: O que ainda podemos nos tornar antes de morrer através do acumulo de nossos passados?


PERANTE O SILÊNCIO


terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

SOBRE O FIM DA VIDA



O que me assusta na vida é que tudo tende ao inacabamento.

Existir não tem conclusões, é um acontecer aleatório. Pode-se mesmo dizer: uma agonia sem sentido. Acumulamos perdas e seguimos vazios sem recorrer à qualquer esperança. Não há nada além da rotina, nada a esperar. Mesmo assim  somos movidos por um querer constante.... Inventamos razões, justificativas e propósitos.  

Mas até quando haverá outro dia? Pode ser hoje o meu último ato. Deixarei tudo desarrumado, sem o consolo de despedidas e nem mesmo saberei disso com a devida antecedência.

Alguns poucos lembrarão meus feitos, os compromissos descumpridos e as promessas quebradas. Mas que importa isso quando já não me será possível provar a realização de mim mesmo através de qualquer ato? O mundo ainda será mundo, tudo seguirá absurdo e nada disso tem importância. Pois que fique inacabado este rabisco despretensioso, que ele seja como o fim da vida... Nada de conclusões. Tudo termina sem ponto final.

GOMA DE MASCAR


A vida nos mastiga e depois joga fora. Somos como goma de marcar na boca do tempo. É só isso. Não há nada de especial em existir. A natureza não tem moral ou teleologia. Ela simplesmente acontece de um modo aleatório é caótico. Como poderia ser diferente? A vida é pop....

domingo, 10 de fevereiro de 2019

A BANALIDADE DA EXISTÊNCIA

Não estou inteiramente neste instante.
Parte de mim jaz morta no passado,
Outra ainda não existe na incerteza do futuro.


Quase não me percebo.
Apenas respiro,
Espero.


Mas sei que nada de especial irá acontecer.
Apenas há muito para se fazer
Contra o tempo, o vento,
O acaso e a morte.


No fim tudo se reduz a esquecimento.

sábado, 9 de fevereiro de 2019

A VIDA SÓ EXISTE EM SI MESMA


A vida é em si mesma através deste corpo que sou. Por isso o "eu sou" tem pouca importância. O "eu" é constituído pelo que lhe transcende através da consciência e da linguagem que, por definição, são processos impessoais.


Se o sublime é aquilo que nos ultrapassa, o que nos faz insignificantes, posso afirmar que a vida é sublime, pois nos reduz a nada. Somos apenas seu "efeito" ou, dito de outra maneira, a  vida é apenas em si mesma. 

Eu existo, mas não sou a vida. Sou apenas um corpo que vive. A vida, como é em si mesma, não carece de viver.

ACONTECIMENTO

O passado é uma invenção da memória.
O que aconteceu se perdeu para sempre.
É peso morto no tempo.
Apenas uma parte rasa dos fatos permanece presente,
Comunicam o por vir,
O encadeamento do fluxo irracional de um eterno agora.
Isso não é passado.
Também não é memória.
É a vida como acontecimento
Transcendendo os fatos,
Acontecendo intempestivamente
Através deles....

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

ESQUECIMENTO





Desperdiço a vida com atos banais e corriqueiros.
Quase não deixo rastros, heranças ou grande lembranças.
Estou fadado a um desaparecimento absoluto,
A um silêncio perfeito,
Depois que a morte apagar minha presença.

Pois que não seja de outro modo!
Ninguém escapa ao esquecimento.
Porque haveria de me importar com isso?
Meus atos morrem comigo.
Não devo satisfações a posteridade.

O QUE É A VIDA?


A vida é qualquer outra coisa que me escapa
Ou o mundo se tornou alguma coisa estranha à vida.

A verdade é que ando pasmado,
Vivendo como um quase indigente,
Buscando o raso da mera sobrevivência.

Nada de descobertas e desafios,
Apenas a linha reta da sucessão dos dias.

Tudo é miséria.
Qualquer outra vida é equivalente a minha.
Não há nada de especial na existência.
Vivo como todo mundo
Para morrer como ninguém.



domingo, 3 de fevereiro de 2019

NÃO ESTAMOS VIVOS

Estamos vivos. Mas a  vida quase não vive.
Coletivamente sobrevivemos aos artifícios coletivos e a desfuncionalidade de convenções e consensos sociais.

Adivinhamos suicídios em cada angústia que o dia seguinte acorda. A  intensidade dos sentidos inventa o corpo no gosto das coisas. 

Mas no fundo nós já não existimos, não estamos vivos.
Apenas acontecemos em nossos corpos.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

TUDO É MUDANÇA


Nada é permanente.
Antes mesmo do fim deste instante
Tudo já será diferente.

A vida é fluxo,
Mudança.
Não comporta o teu eu vaidoso,
Indecorosamente egoísta e conservador.

Tudo é mudança,
Escapa, desaparece...

O VENENO DO CONHECIMENTO






O conhecimento e os saberes só tem sentido na medida em que nos mata, em que nos inventa certezas, verdades, modos de sentir, de ver e de agir, configurados pelo conformismo do rebanho e por suas gramáticas morais.

Por outro lado, o conhecimento nos afasta da verdade, do encanto de um mundo previsível e seguro. Ele alimenta a inquietante intuição de que na soma de tudo que é manifesto, nós não existimos.

Penso, logo não sou onde demasiadamente existo.