segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

A MUDA CONCRETUDE DA MORTE



A miséria de nossa condição humana, em sua dimensão mais elementar, torna-se evidente na conversão da presença do corpo vivo a inercia de um  cadáver, que assim é reduzido ao status de “coisa” . O esvaziamento de suas representações, sua conversão à condição de objeto, é sempre impactante como manifestação mais concreta da experiência da morte e do morrer.

O morrer nos rasga toda significação da existência, toda valoração da vida, pondo ao rés do chão todas as falsas virtudes da vida. Convém esclarecer, que a morte não é, evidentemente, uma experiência individual, mas coletiva. Ela diz respeito a espécie, a própria vida como fenômeno natural e complexo.

O desconforto que nos arrebata na presença de um cadáver ou de imagens ilustrando as etapas de sua decomposição, é mais do que uma reação instintiva irracional, é o confronto direto como todas as nossas belas ilusões sobre nossa existência e condição de viventes. Principalmente em uma sociedade que higienizou a doença e a morte através da religião e do espaço hospitalar , que lhe recusou qualquer visibilidade ou realidade social.

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