São nossas próprias
opiniões as maiores fontes de inquietações e aflições. Os acontecimentos são
cegos, sem significado. Eles apenas acontecem ao sabor de encadeamentos caóticos,
como uma espécie de turbilhão cujo resultado ou efeitos traduzimos como opiniões
ou percepções. Isso se aplica dentre tantas outras coisas ao morrer. Nada mais
natural do que o desaparecimento de alguém que nasceu. Um fato equivale ao
outro. Mas tendemos a fundamenta-lo e desdobra-lo em significações diversas que
fazem com que o mero morrer desapareça enquanto acontecimento soterrado por
nossos impressões, afetos e convenções
sociais. Não aceitamos a morte e com isso a transformamos em um problema. Nada
mais sem sentido diante de algo que não significa nada, como a própria vida.
terça-feira, 31 de julho de 2018
segunda-feira, 30 de julho de 2018
ASSOMBRO E EXISTÊNCIA
Embora
naturalizada, a simples existência do eu e do mundo ainda pode provocar
assombros entre os mais sensíveis. Não seria descabido medir nossa lucidez pelo
estranhamento e a vertigem que nos provoca o Ser. Mas, somos educados para ignorar isso. É
preciso atingir a velhice para espantar-se como um recém nascido. Mas trata-se aqui de algo elementar. Todo o
saber humano não dá conta do fenômeno de nossa existência. Não podemos
esgota-la em alguma formula de verdade ou mistificação religiosa. O caos e o
acaso são a melhor definição de vida e existência. Mesmo assim, evitamos o
absurdo. Inventamos o dizer das coisas para fugir as coisas.
sexta-feira, 27 de julho de 2018
VIVER A VIDA
É preciso viver a vida em suas intensidades,
através da coincidência do exterior e do interior
como um estranho ato de consciência.
como um estranho ato de consciência.
Somos coisas entre corpos,
Somos movimento estático na paisagem
Somos movimento estático na paisagem
Transformando o tempo em espaço.
A finitude ensina sempre alguma imensidão.
É preciso viver loucuras,
É preciso saber assombros
e conhecer o espanto da morte.
quinta-feira, 26 de julho de 2018
terça-feira, 24 de julho de 2018
CORPO, MORTE E CONSCIÊNCIA
O corpo é um
dado imediato anterior a qualquer representação ou significação da vida. Ele
escapa a linguagem. É o outro da consciência. Deste modo, a forma- Homem não
está contida no arranjo biológico do corpo e suas múltiplas organicidades.
Entretanto, o
corpo se apresenta como consciência do corpo para um eu que se auto apreende
como totalidade consciente . Estabelece-se a falsa dualidade entre a mente e o
corpo, entre o sensível e o abstrato, entre o eu e o mundo, até que a morte a
supere. A morte é a falência do corpo e
a consequente extinção da consciência. Mesmo que diga exclusivamente respeito
ao acontecer do corpo e a sua ambientação ao mundo como matéria ou,
simplesmente, um arranjo provisório de células e moléculas, a morte é o
cancelamento da validade de todas as nossas convenções e representações
culturais, a extinção do jogo pessoal destinada a cada indivíduo e a própria espécie.
A Morte é sempre o que nos supera.
ALÉM DO HUMANO
A convincente
ilusão de estar vivo não me induz ao alto engano de uma plena existência. Sei
que sou abstrato, que minha presença é apenas um jogo da consciência onde o eu
não passa de um engenhoso artifício da natureza.
Sou um organismo
complexo cuja soma das partes não definem uma totalidade. Não me deixo levar
pela ilusão de humanidade. O que me define é o indeterminado da linguagem, o
estranho recurso da memoria que inventa o tempo como plano de identidade.
quinta-feira, 19 de julho de 2018
BILHETE AOS ESCRAVOS DA NOSTALGIA
Aos antigos e
silenciosos sobreviventes dos dias perdidos, expresso toda a minha
solidariedade.
Eu que vivo
desfalecido entre as ruínas dos dias não vindos, sei muito bem o que sentem
estes sobreviventes, estes saudosos escravos dos dias felizes e edílicos de infância
e juventude que nunca mais serão
novamente.
Equivale tal
sentimento de perda a minha dor por aquilo que nunca foi. Somos, de um e outro
jeito, famélicos do espírito, enfermos do tempo vivido e dos futuros não vividos,
verdadeiros órfãos da eternidade. Repartimos a mesma miséria, o mesmo vazio e
sofreremos juntos a mesma morte prematura.
SABEDORIA HEDONISTA
Não há muito a
aprender com os livros.
A letra morta da
sabedoria não transforma a vida.
É preciso existir despido de razão,
Embriagar-se!
Viver é um
suspiro.
Dura menos do
que um segundo.
Por isso, aproveite
o engano de ser.
Divirta-se!
Seja intenso
como um fósforo em chamas.
DETERMINAÇÃO
Um esforço de
auto superação nos obriga a enfrentar o dia.
É uma questão de
sobrevivência.
Pois a inercia é
a linguagem da morte.
Apenas os mortos
não se superam.
Por isso, contra
nos mesmos, seguimos em frente.
Buscamos o sol,
o ato e a potência.
Nos rebelamos
contra o envelhecimento,
A morte e o
tempo,
Em uma batalha
desde sempre perdida.
quarta-feira, 18 de julho de 2018
A VIDA NÃO TEM SOLUÇÃO
As grandes questões
da vida nunca se resolvem.
Estamos
condenados a nossas angustias e incertezas,
Destinados a um
certo desamparo.
As vezes ele é acompanhado por um manso desespero,
Outras, permanece
suportável, quase imperceptível.
O fato é que jamais
teremos sossego.
Estamos condenados
a um inacabamento ontológico,
A uma falha
estrutural que nos desloca de qualquer ideal de plena realização.
Esqueçam as ilusões
religiosas, as filosofias de gaveta.
As coisas são
como são.
A vida é uma
questão sem resposta,
Na melhor das hipóteses
um caos administrável.
segunda-feira, 16 de julho de 2018
AS FOTOGRAFIAS ENVELHECEM CEDO DEMAIS
Atualmente as fotografias envelhecem rápido demais. A vida parece mais curta embora tenha aumentado a expectativa de duração de nossa existência.
Em outras palavras, nossos ritmos coletivos mudaram e o tempo social encolheu. Mas a morte é algo que aprendemos a esconder. Tornou-se, assim como a doença, um tabu a ser dentro do possível afastado do cotidiano.
A todo custo é preciso viver em um ambiente saudável, participar de eventos, tirar fotos e alimentar uma versão virtual de nós mesmos. Somos nossas próprias cópias. Mas as fotografias envelhecem cedo demais...
A todo custo é preciso viver em um ambiente saudável, participar de eventos, tirar fotos e alimentar uma versão virtual de nós mesmos. Somos nossas próprias cópias. Mas as fotografias envelhecem cedo demais...
LIVRES CONSIDERAÇÕES SOBRE O MEDO
A intensidade do medo possui um tipologia simples: a repulsa e o temor. Dando dos exemplos
bem simples, possuo medo (repulsa) por ratos, cobras ou baratas, de um modo
diferente daquele que tenho medo de um assaltante armado ou de andar de avião. Se
em ambos os casos experimentamos situações de absoluta insegurança e pânico,
eles apresentam conteúdos diferentes.
Repulsa e temor
são as duas medidas do medo. Mesmo que nos clássicos do terror busque-se
geralmente aproximar os dois através do conceito de monstruoso. Na vida real o
medo, entretanto, não é tão ideal. Ter
medo é sempre uma desmedida, um descontrole. Trata-se de um estado afetivo que
remete mais a um sentimento de ameaça do que propriamente de perigo, como
normalmente tendemos acreditar. Afinal, uma barata não representa um perigo
realmente real, o que não diminui o medo.
De forma geral nós
desnaturarizamos o medo. Já não se trata mais de um mecanismo biológico ou
instintivo de defesa. O medo se tornou um estado de ansiedade vinculado a
alguma grandeza impessoal, uma ameaça ao ego.
Não pretendo
aqui estabelecer algum tipo de hipótese cientifica. Trata-se mais de uma
especulação filosófica ou existencial onde parto apenas da simples constatação
de que o medo mudou. Não temos medo da mesma forma que outros animais. Nos
seres humanos o medo tornou-se fobia, uma patologia que põe em cheque a relação
com o mundo enquanto uma grandeza psicológica que sempre ameaça nos engolir. Pode-se
ter medo (fobia) de palhaços ou de gatos. Existe até mesmo a fobofobia, que é o medo de
ter medo. Ainda estamos falando sobre repulsa e temor como duas formas
distintas, mesmo que comunicantes, de
experimentar o medo.
O medo é, em
termos humanos o oposto de relações de poder. Ele é um estado de total impotência
em relação a algo ou alguém.
INSIGNIFCÂNCIA
“A certeza de
sua insignificância me faz rir da sua ignorância”
Sófocles
Todos nós somos
perecíveis. Podemos conviver com isso. O que realmente incomoda a nossa consciência
pessoal é saber o quanto somos descartáveis e substituíveis. É essa escandalosa insignificância que perturba.
Não fazemos falta alguma no mundo. Um mundo que muito mau soube nossa existência.
Por isso exigimos das religiões que nos forneçam o placebo da ilusão de vida
eterna.
Não é fácil
lidar com a insignificância. Como assim, a vida é apenas um suspiro? Precisamos de qualquer coisa mais.
Na pior das hipóteses, seja através de filhos, livros ou qualquer outro
empreendimento, é preciso deixar uma marca no mundo. Mas a verdade é que nossas
marcas são como pegadas na areia. Por mais obvio que seja, é preciso sempre
lembrar: A existência persiste apenas em quem vive. E viver já não é grande
coisa....
quinta-feira, 12 de julho de 2018
CONTRA A ETERNIDADE
As coisas mais importantes nunca terminam. Ficam interrompidas para sempre.
Não se conformam a um ato final. Persistem contra o passar do tempo alimentando vazios.
Elas sempre guardam um futuro impossível em sua luta contra a eternidade.
terça-feira, 10 de julho de 2018
POUCO POR NADA
Persigo a vida
na sutileza do visível. Como algo imediatamente dado no incerto acontecer de
mim mesmo através do superficial e do efêmero. Inútil buscar profundidades em
algo tão banal, um significado mais profundo. Significações são cômodas invenções
que não sobrevivem ao passar do tempo. Apenas inventam nomes e identidades onde
existe apenas o tédio de ser e estar. Prefiro não ficar preso a identidades e
certezas. Reconheço na morte o limite absoluto de todos os sentidos. Isso é
tudo que me parece realmente possível em meio as vaidades de nossa estranha condição humana. Cultivo pouco por nada.
segunda-feira, 9 de julho de 2018
FINADO
Uma lembrança...
Nada mais do que
isso.
É o que resta de
tudo aquilo que você foi um dia.
Todos os nossos
assuntos ficaram inacabados.
Fora isso resta
o impasse frente a fragilidade da própria condição humana,
Uma fragilidade
que define todos nós.
Afinal, do que
nos serve a vida?
Tudo passa... Ausências
se inventam e tomam a existência.
Ao final restam
apenas as ausências silenciadas,
O triunfo de um
esquecimento absoluto.
terça-feira, 3 de julho de 2018
NIILISMO E SUBJETIVAÇÃO
Ainda que preventivamente, evito desde hoje todos os excessos de autoconfiança, otimismo vazio e aposta em um mundo ordenado, normatizado, onde eu possa perseguir qualquer forma de realização social e supostamente pessoal.
Evitarei esta tendência irrefletida
de viver como se tudo fosse sólido e estável, a começar por esta estranha ilusão
que é minha própria existência como um campo de ações e experiências singulares.
A partir de agora irei investir
apenas nas superfícies de cada momento, na falência e mediocridade da consciência
e do ego. Nada... inclusive a arte, é suficiente para lidar , fazer frente, a esta grandeza absurda e sem sentido que é as
múltiplas presenças de processos e coisas que nos definem, até segunda ordem, aquilo que enunciamos como universo.
segunda-feira, 2 de julho de 2018
INCONSTÂNCIA
E de repente já faz muitos anos.
O tempo parece que alarga,
Ou a memória engana.
O tempo parece que alarga,
Ou a memória engana.
O fato é que tudo mudou.
O passado parece apenas um sonho,
Uma realidade que nunca foi.
O passado parece apenas um sonho,
Uma realidade que nunca foi.
A vida inteira é feita deste engano
Segundo o qual as coisas existem,
Quando apenas se perdem de si
na medida em que se transformam.
Segundo o qual as coisas existem,
Quando apenas se perdem de si
na medida em que se transformam.
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