domingo, 31 de dezembro de 2023

A VIDA É TEMPO PERDIDO

A vida é tempo perdido.
Ninguém se lembra dos anos que passam,
das coisas 
ditas, sentidas e  imaginadas,
que agonizam,
no fundo de nós,
como pálida lembrança.

Pois viver é, em grande parte,
esquecer de si,
dos outros, dos fatos
e do próprio caminho.
É enterrar lembranças
e o próprio destino.

A vida são as águas passadas
de um rio que nos arrasta,
que nos afoga e esquece,
como esquecemos os anos que passam.

A Morte é a soma dos anos
que nos transformam em esquecimento.

A vida é tempo perdido.
Viver é ser sem esperanças,
é desaparecer no tempo que passa.


quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

A VIDA TEM GOSTO DE COISAS MORTAS

A vida tem gosto de coisas mortas,
de momentos perdidos, esquecidos, e de pessoas que já não existem.

A vida se define por seus limites,
por suas fragilidades.
Tudo nela é  efêmero
e está sempre quase perdido.

A vida não faz sentido,
não tem motivo.
Ela, apenas,
provisoriamente,
nos frequenta incerta.

A vida tem gosto de coisas mortas,
de memórias, silêncios,
e túmulos.
Estar vivo quase não importa.


segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

A MESMICE DO ANO NOVO

Todo ano os mesmos ritos,
os mesmos brindes,
consumismos, encontros,
desencontros, 
efêmeras alegrias,
vazios e agonias
que o tempo 
sempre nos traz de volta.

Mesmo que sejam outras saudades,
outros cansaços e desilusões.
É sempre o mesmo tempo,
é sempre o mesmo ano novo,
com tudo diferente.

Há  sempre o eterno retorno de um  passado que se renova
na medida em que nos mata
enterrando futuros.
Nada será como planejamos.
Para muitos não haverá mais futuro.

A velha mesa do almoço em família
Já está quase vazia,
mas é sempre o mesmo tempo que passa,
a mesma quase insuportável agonia
que nos faz desejar e beber o ano novo
até o final desbotado deste novo e velho dia.










TUDO MORRE

Na vida, pouco importa,
o onde, o quando ou o como.
Tudo é incerto,
 transitório e impreciso.

Tudo sempre está em fuga,
seguindo para o nada,
desaparecendo,
ou apenas indo para outro lugar.

Não espere por definições,
conclusões, razões.
Tudo, simplesmente ,morre.
Tudo acaba, desaparece.
Basta um segundo, um movimento.

Na vida pouco importa
a singularidade da existência.
Ela sempre estará em outra parte,
sempre será algo nosso
do lado de fora de outro lugar,
um além da coisa, do ato
e do acontecimento .

O que muda a vida
é a consciência súbita 
de não haver mais como continuar vivendo,
que não é possivel continuar a existir em inércia como um dia aprendemos.
Que não há mais um eu a dizer
um onde, um quando e um como;
que não há mais tempo,
que tudo se reduziu a uma indeterminação que nos transcende,
que tudo se tornou inércia, nada e silêncio.



quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

A GRANDE NOITE

Tudo que me interessa
é a grande noite,
na qual me deito hoje,
despido do frio da eternidade,
das memórias e ânsias do agora,
na inconsciência da minha morte.

Sou a escuridão infinita
que me envolve, reconhece,
e, no fim de tudo, 
ignora e absorve.

A noite é a absoluta
e definidora treva
que define o próprio universo
na  transcendência da vida e da morte.

Agora, a partir de hoje,
serei para sempre noite.





terça-feira, 12 de dezembro de 2023

O QUINTAL

O quintal hoje é triste,
vazio,
quase um deserto.
Sente falta dos donos da casa,
da casa, 
dos anos onde a terra era fértil
e o chão era verde.

O quintal sente falta
de si mesmo,
dos dias felizes
em que foi radical
e simplesmente
um perfeito quintal.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

A VIDA É UM ERRO DA NATUREZA

A vida é um erro da natureza,
um acidente da matéria.

A morte é sua correção.
e tudo mais é  mera quimera,
miserável ilusão ou desprezível religião.

A vida é um erro da natureza,
um testemunho da sua incorrigível imperfeição
e da irracionalidade que inspira a matéria.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

LEMBRANÇA E SILÊNCIO

Quando eu for apenas
lembrança e silêncio,
não serei refém da lei,
da ordem e da hierarquia.
Também não serei rato de laboratório
dos homens brancos e suas ciências.

Ninguém ousará saber minha vida
contra minha própria existência.
Não serei mais reduzido a objeto de Estado,
caso de polícia,
consumidor e explorado.

Quando eu for apenas
lembrança e silêncio
serei de tudo finalmente livre.
De mim mesmo estarei liberto
contra as ilusões fúteis de um ego
e das mentiras de qualquer Estado.




domingo, 3 de dezembro de 2023

A MELHOR PARTE DE MIM

Há uma parte de mim
que morre em segredo
todos os dias,
que me subtrai,
que me apaga
contra o incerto tempo
que me resta.

É uma parte 
que está sempre 
ficando pra traz,
abraçando o passado,
meus mortos e
meus silêncios.

Ela despreza a vida 
o mundo, o destino
e o acaso.

Absolutamente nada lhe importa.

Esta é a parte que me define 
através de tudo que muda
com o passar dos anos.

É a parte de mim
que nunca será "eu".

Ela é o nada que fica
depois do fim,
quando eu, finalmente,
terminar de morrer em segredo.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

QUANDO CHEGAR MEU FIM DO MUNDO

Quando chegar meu fim do mundo
espero estar 
completamente inconsciente e indiferente,
como uma estátua antiga,
entre as ruínas
de uma civilização  esquecida.

Quero escapar  a consciência,
a experiência do meu próprio fim
e me confundir com o nada
onde não há qualquer possibilidade de ser ou saber do mundo,
onde tudo é segredo,
além, impreciso.




sexta-feira, 24 de novembro de 2023

SOBRE A VIDA É A MORTE

A morte nunca é uma escolha.
Ela nos é imposta desde o nascimento.
Por outro lado, 
a vida não é uma opção.
Mas uma ilusão
que nos define a realidade.

A vida não existe.
Há apenas o corpo
que provisoriamente vive e acontece
como qualquer outro corpo
antes e depois dele.

domingo, 19 de novembro de 2023

TUDO É NADA

Não importa o que eu faça.
Os anos passam,
a vida acaba,
e o mundo muda.
Só o tempo é o mesmo
em cada segundo
que quando vejo
já é outro.

Não importa o que eu faça,
tudo sempre será nada.

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

MORRER É TUDO

Morrer é simples,
breve e definitivo.
Morrer é absoluto.

Morrer é tudo.
Viver é pouco.
É provisório,
raso e efêmero
como a desconcertante experiência
de um susto.

Viver não importa.
Morrer é tudo.

sábado, 11 de novembro de 2023

FIM DE FESTA

A madrugada é quase morta,
Quase todos já foram embora
e a festa agoniza em nossa conversa intimista e quase infinita.

Tudo é sono, quase sonho.
A realidade é a morte
que nos espreita sorrateira
entre lírios e delírios
de uma sonolenta aurora.

O fim está na próxima esquina
onde o sol acorda
e tem o rosto dos meus mortos,
do veneno que definha minhas rotinas.



quarta-feira, 8 de novembro de 2023

TUDO É NADA

O que foi ou será não importa. 
Pois tudo termina em nada.

 Amanhã ou depois será nada. 
Tudo desde sempre é nada. 
 Não se deixe enganar pelo significado 
de suas próprias palavras.
 Todo discurso é nada.
Não importa os significados

 Você é nada. 
Somos todos nada.
Um dia estaremos mortos Independentemente do que foi 
ou será
na absoluta realização do nada
que é a própria existência das coisas.

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

O NIILISMO DOS MORTOS



A morte define os vivos
e  viver é o avesso de ser,
é acontecer contra todo determinismo do ser.
Mas só os mortos estão livres
da prisão e do peso de ser.
Os vivos sofrem o viver
prisioneiros da ilusão do ser,
enquanto aguardam o morrer
na consumação do finito e do não ser.

Os vivos debatem-se contra toda mentira de ser e estar,
contra as falácias da alma e do espírito,
lutam contra  a vontade de eternidade
e os absurdos da fé.
Os vivos estão condenados a vida.
Já não lhes basta morrer.
Só os mortos são niilistas.


quarta-feira, 1 de novembro de 2023

O ÚLTIMO INSTANTE

Apaga o dizer dos vivos 
Que te animam a vontade e a consciência.
 Escuta o silêncio dos mortos
 Que dentro de ti ecoa
 Inventando desertos e silêncios. 

Pois somos todos feitos 
De esquecimentos, 
Passados e ausências. 
Tudo mais é ilusão.
Principalmente o tempo presente
ou qualquer vaga ambição de eternidade.

Só há plena realidade no encerramento da existência
Pois é quanto tudo é intensamente incerto e efêmero
Na falta de sentido que define a vida
como um simulacro, 
um fora de nós. 


domingo, 29 de outubro de 2023

A VIDA QUE ESCAPA

O que passa,
o que cansa,
o que mata,
é também aquilo
que nos faz viver,
apesar de toda falta
de esperança.
Afinal, o que é a vida
além de uma pergunta
sem resposta,
ou um sonho que nos sonha ?
Somos a imaginação das coisas
que nos envolvem como natureza.


segunda-feira, 23 de outubro de 2023

MORTE, NADA E LIBERDADE

Grande parte de mim
é deriva, saudade,
quase naufrágio.

É luto,
dor, silêncio,
  memória e melancolia.

É tempo morto,
fora da história.
Segredo que levarei no peito
quando meu corpo sumir na terra
misturado ao pó dos meus mortos.

Sei que na paz do informe
e do eterno esquecimento,
livre de vez de tudo que me fez sofrer  a ilusão de ser humano,
há de me engolir o nada
que consome a eternidade
e quimeras de humanidade.


sábado, 21 de outubro de 2023

ANONIMATO

Sei que tudo que digo ou
faço 
não vai virar  retrato
nem de outra forma 
há  de ser lembrado.
Neste mundo não deixarei 
  memória ou rastro.

Descartado e esquecido,
sem qualquer cerimônia,
serei um apagado vulto 
vagando mudo nos Hades,
despido de todo orgulho
 e de qualquer vaidade.
Mesmo que não  exista nada
 que possamos chamar de eternidade
Sei que serei nulo entre os mortos
do mesmo modo que fui entre os vivos.





terça-feira, 17 de outubro de 2023

VIDA, MORTE E DESPEDIDAS

Nunca nos despedimos o suficiente dos lugares e pessoas  que fizeram parte de nossas vidas. No fundo, desaparecemos um pouco de nós mesmo ao perder tais referências convertidas em pálidas memórias.
Mas a vida é apenas isso:  um estado permanente de partidas e despedidas, e a morte é o silêncio de um adeus que nunca termina em um impessoal e múltiplo fluxo de mutações.
Nada é sólido, definitivo ou eterno na natureza.
A morte é o que move a vida e
Estamos sempre de partida. 
No final persistirão apenas ausências esquecidas onde tudo é instabilidade e transformação, que transcendem todas as despedidas.


quinta-feira, 12 de outubro de 2023

VIVER É MORRER

Depois de desistir do futuro,
de enterrar esperanças e espectativas,
aprendi a saber o acaso, 
o inesperado e o esquecimento de ser,
como inevitável destino de toda existência.
O propósito de uma vida é tão somente desaparecer.

domingo, 8 de outubro de 2023

SEM DESPEDIDA

O último desejo,
o último pensamento,
a última saudade,
o adeus para sempre...

o segredo, é que eles nunca acontecem.

Morrer é coisa que a gente nem percebe
e não será objeto das aulas de anatomia.

sábado, 7 de outubro de 2023

EXISTÊNCIA E INSIGNIFICÂNCIA

A maior parte de nossos atos, pensamentos e sentimentos acumulados ao longo dos anos não passa de lixo existencial naturalmente descartado por nossa tão  seletiva memória. Somos miragens nas paisagens incertas das épocas. Existimos ao nada. Toda vida é irrelevante.

terça-feira, 3 de outubro de 2023

RENÚNCIA EXISTÊNCIAL

Cansado de todas as emoções,
de todos os laços e compromissos,
de todas as metafísicas e explicações,
do labor, da moral, dos valores universais,
da lei, da ordem e das autoridades,
deitou-se para esquecer,
para nunca mais acordar.

Havia desistido de qualquer possibilidade de futuro.
Queria apenas esquecer de tudo,
dormir o definitivo sono dos justos.

sábado, 30 de setembro de 2023

O SILÊNCIO DA MORTE

A morte é um corpo que cala,
que falta ao tempo e ao espaço,
que escapa a palavra,
aos outros e a verdade.

Ela é aquilo que nunca mais será,
que ninguém mais lembrará
no silêncio que tudo devora.

A morte é tudo aquilo que não é,
que não pode ser,
que não se pode dizer ou saber.
A morte é o limite de tudo que é humano.

Ela é o corpo que escapa
no fim de toda nossa realidade.

QUANDO HOJE EU MORRER



Vou me perder de tudo,
perder tudo que sou,
desaperecer no nada,
no inesgotável abismo
do que se foi.

Tudo é em mim despedida
pois já estou de partida
e amanhã, para mim,
não será outro dia.

Meu corpo despido da vida
esta nú de existência.
Perdido na paz do que se desfaz.

Tudo é tarde demais.

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

MATURIDADE

Esperava não estar certo
sobre a vida , o futuro,
a morte e o silêncio,
surpreendendo, enfim,  um equívoco
na intransigência do meu niilismo.

Mas o fim de tudo é um porto seguro.
É  também um sentimento a flor da pele,
uma vontade de nada,
de  naufrágio e exílio,
que não para de crescer
enquanto a gente 
 envelheceve ,
 morre e percebe 
o quanto detesta a existência
 e abomina a humanidade.

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

MORRER JOVEM

Melhor viver uma morte prematura e digna
do que morrer uma vida inteira,
através dos anos, 
como a grande maioria de nós
aprendeu a morrer.

Morremos lentamente,
quandovo tempo nos devora em rotinas.
adoecendo aos poucos a existência 
até  a consciência
perder o poder de criar  mundos
através da experiência das coisas pequenas
 que  afetivamente definem a vida.

De tanto imaginar deuses e leis naturais,
de cultuar líderes e heróis,
não sabemos mais
o vigor de existir como iguais.

Melhor morrer de vez e em paz,
deixar tudo para trás,
e perder-se feliz
da doce ilusão de uma vida inteira
que não deixará a alegria de qualquer lembrança.





domingo, 17 de setembro de 2023

LIBERDADE & MORTE ( UM BREVE AFORISMO)


Estar morto é ser reduzido ao próprio passado. É perder o direito sobre si mesmo, deixar de se fazer no movimento constante do mundo, para se tornar uma pálida imagem na memória dos outros 
Morrer é  consumir-se, reduzir-se a nada, na realização mais radical do conceito de liberdade.
Morrer é escapar a maldição da consciência, mais do que o perecer do corpo.
É perder-se entre as coisas.

sábado, 16 de setembro de 2023

ALÉM DA HISTÓRIA

Um dia estaremos todos mortos.
Ninguém se lembrará de nós.
Mas o mundo continuará sendo o mundo
através de outras pessoas
tão insignificantes quanto nós.

Então, o que realmente importa,
no jogo inútil entre esquecimento e memória,
é saber, que no fundo, nada, 
mas absolutamente nada,
realmente importa.
No mais,
 é uma grande ilusão
aquilo que chamam de História.

terça-feira, 12 de setembro de 2023

LEMBRANÇAS DE JUVENTUDE

Carrego a pálida memória de melhores dias onde tudo parecia possível, onde meu corpo era novo e vigoroso, onde todos estavam vivos, e as coisas não tinham o gosto insosso de nunca mais. Tudo era, então, definitivamente, mais divertido.

domingo, 3 de setembro de 2023

QUASE TESTAMENTO

Quando chegar o fim dos meus dias, espero que caia sobre o meu corpo o peso de um grande sono que me tire suavemente da vida.
Quero desaperecer sem alarde. Que meus sobreviventes não possam dizer que sofri, ou que foram lamentáveis meus últimos instantes. Quero partir como quem dorme um sono sem sonhos.
Que meu corpo se desfaça no fogo e minhas cinzas sejam se percam sob o céu que me viu nascer.
É preciso que a morte feche o círculo da minha existência para que minha lembrança se dissipe sob o próprio esquecimento.
Eis o meu modo próprio de para sempre me perder nos Hades.

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

A MORTE DA CASA ANTIGA

As pessoas são a vida da casa. 
Isso é o que se conclui quando os anos passam
 E a casa, agora abandonada,
sucumbe naturalmente ao peso excessivo dos anos
 Apodrecendo vazia em uma rua 
que não mais existe.

 Depois da morte dos  moradores
 não há futuro para velha casa
 Que ninguém mais  visita
e se desfaz em silêncio
no tempo e no espaço.
Em suas ruínas não há mais vestígios
de qualquer forma humana,
nenhum traço de vida.







terça-feira, 29 de agosto de 2023

QUANDO FOR DOMINGO DE NOVO

Quando for domingo de novo
 Espero estar morto, 
 Enterrado e esquecido, 
como se jamais houvesse existido.

 Que sejam, então , reduzidas a pó minhas angustias, saudades,
Buscas e frustrações.

 Quando eu estiver morto,
 Espero que todos os dias sejam domingo
 Para alegria dos preguiçosos e vadios.

Espero também que todos percebam
o quanto a vida não faz e nem precisa ter algum sentido,
que somos todos finitos,
 limitados e irrelevantes.

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

A VIDA É QUASE

Tudo passa, tudo morre.
 Existir é sempre um quase, 
Uma possibilidade infinita 
De coisas que nunca se realizam.

 A vida é feita de tudo aquilo
 Que permanece sempre por vir,
que nunca foi ou será
a sombra do esboço que diariamente somos.

A vida é quase...

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

ANATOMIA DE UMA ANGUSTIA

Minha angústia não é uma confissão de impotência,
um desarranjo de consciência,
ou uma ilusão narcisista.
Ela é a morte ( finitude) que se antecipa de forma física 
como experiência niilista e intempestiva do desvalor de tudo que é manifesto.
Minha angústia nem mesmo é minha,
ela é uma força da natureza que me contem em seu campo de experiência.
Ela é uma ação que se confunde com o corpo.

domingo, 20 de agosto de 2023

MORTE, MUDANÇA E DELÍRIO

As pessoas  morrem,
os lugares  mudam.

A realidade se perde
entre os cinco sentidos
enquanto um instante desaba
ao amanhecer.

Vivemos onde 
tudo é incerto
e nada é seguro
no eco de um grito.

Antes e depois de nós
haverá silêncio no reino do esquecimento.

O que hoje é tudo,
amanhã será nada
ao anoitecer.

A vida é a consciência que nos inventa
produzindo o mundo
como ilusão e quimera.

Enquanto isso as pessoas morrem,
e os lugares mudam
no entardecer de tudo.






quinta-feira, 17 de agosto de 2023

ENTRE A LEMBRANÇA E O TEMPO

Não lembro mais de quem eu costumava ser Nos primeiros anos de vida. É como se eles nunca tivessem sido vividos, Como se meus mortos nunca tivessem existido, e nada fosse mais incerto do que a distância entre sonho e realidade. As vezes eu mesmo duvido do tempo E questiono se de algum modo já estou morto Ou apenas sigo provisoriamente vivo.

CONTRA COSMOLOGIA

Cada um se ilude com a verdade que lhe parecer mais convincente.
 Mas não faz diferença sua crença sobre o sentido da vida ou sobre a natureza do universo.
 Não importa a convicção que lhe conforma a existência. 

O cosmos é um imenso vácuo, 
 Frio e silencioso, 
onde nada importa
e se cala o verbo
onde tudo é mudo movimento.




quarta-feira, 16 de agosto de 2023

SOBRE A INUTILIDADE DE UMA VIDA INTEIRA

A monotonia quase insuportável das rotinas estabelecidas pelos ciclos dos dias e das noites castram o prazer de ser.

 Viver é uma maçada. Não importa as peculiaridades, acontecimentos e realizações de cada biografia, uma vida inteira só leva ao nada e ao esquecimento. 

Pois, mesmo quando uma personalidade deixa vestígios e saudades entre os que ficam,  sua memória em nada afeta os rumos dos vivos.

Cada um está condenado a solidão de sua auto ilusão  egoísta de consciência ignorando sua evidente desimportância.

Ninguém tem alma.
Mas, talvez, sejamos corrigidos por inteligências artificiais.

A IGNORÂNCIA DO OUTRO

A ignorância define nossa consciência do outro, 
Seja ele gente, bicho, planta ou pedra.

 O outro é sempre uma interrogação,
uma busca,  um mistério
 ou um território inexplorado 
 que nos assombra a imaginação. 

 Há no fundo do outro um abismo
 Que diz nosso próprio rosto
 Insuspeitamente desconhecido
 na familiaridade do espelho. 

 O outro é o morto
 que nos faz duvidar da existência.
Sua onipresença é a irracionalidade absoluta da incerteza ontológica que nos define. 
Pois  viver não é ser.
É uma falta que nos preenche,
uma busca que jamais será concluída.

terça-feira, 15 de agosto de 2023

ENTRE A ILUSÃO E A MORTE

Morremos todos os dias.
Nos estinguímos pouco a pouco,
delicada e silenciosamente, como uma flor que murcha gradativamente presa indiferente a qualquer galho.

Quase não percebemos o processo.
Apenas sabemos que hoje somos
e que amanhã, a partir de algum momento,
não mais seremos.

A partir de então
será duvidoso supor
que algum dia de fato existimos
na realidade ilusória de nossos corpos.







segunda-feira, 7 de agosto de 2023

A VIDA É ALGO QUE FOGE

A vida nos escapa todos os dias
 como uma possibilidade perdida,
 como uma intuição, 
uma intensidade que se dissipa 
ao cair da tarde, 
um silêncio que nos engole a paisagem, 
sem deixar lembrança ou saudade.

 A vida é algo ausente no corpo
 Embriagado pela ilusão de alma
 e eternidade. 
 A vida é algo que foge,
como palavra e ato.

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

O INSUSTENTÁVEL DA VIDA

A vida se resume a bobagens,
vontades, ilusões e saudades.
A vida é sempre um tarde demais
que nos ensina o tempo como uma doença.
Nada é verdade ou para sempre,
tudo é passagem.

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

NÃO ME IMPORTA, NÃO ME INTERESSA

Não me importa o mundo,
os outros ou a natureza.
Não me interessa a vida, o universo
ou minha limitada consciência.

Mas é tão inútil essa minha indiferença
quanto  minha própria existência
diante do despropósito de tudo.

Hoje existo, amanhã desapareço
e a vida segue inerte em sua falta de sentido.
Mas isso não me importa.
Não me interessa.



quarta-feira, 26 de julho de 2023

A MORTE É SILÊNCIO

A morte é o passado,
o futuro,
o presente,
a festa, o luto e o silêncio.

A morte são os outros,
 a ausência,
o fim sem despedida
e, como sempre, o silêncio.

A morte é sempre o silêncio
em seu estado bruto
devorando tudo,
crescendo dentro da gente,
reduzindo a vida ao absurdo
de um absoluto silêncio.


sábado, 22 de julho de 2023

PUTREFAÇÃO

Um corpo se desfazendo
em matéria morta
não é mais um corpo.
É apenas matéria morta.
Não é mais ninguém.
ou, simplesmente,
é apenas algo que não mais importa,
que não tem lugar entre nós.
Alguma coisa a ser ocultada,
destruída e esquecida.
Um corpo, depois de morto,
não é mais um corpo.
É qualquer coisa sem nome
ou esperança.


domingo, 16 de julho de 2023

SOBRE A ILUSÃO EXISTÊNCIA

Minha existência
é um absurdo,
uma incerteza,
que se resume 
ao provisório arranjo
de um corpo vivo.

Entre a ilusão da consciência
e a vontade que anima a matéria 
o corpo persiste até seu limite.

Depois jaz inerte 
como qualquer coisa quebrada.
Apodrece e desaparece,
sem deixar vestígio.
Pois sua  existência é  nada.



sábado, 15 de julho de 2023

GEO EXISTÊNCIALISMO

Qualquer parte do mundo
pode dizer em mim o universo.
Pois todos os lugares e cantos
são expressão de um único abismo,
vasto e incompreensível,
a desfazer meu corpo 
em um silêncio infinito.

Qualquer ponto do mundo
é um túmulo aberto
como o frio e silêncioso vácuo
que nos define o universo.

Qualquer parte do mundo dentro de mim é silêncio.

sexta-feira, 14 de julho de 2023

SOBRE NOSSA PUERIL IRRELEVÂNCIA ONTOLÓGICA



Morrer não significa apenas deixar de existir, desaparecer para sempre. Morrer é acima de tudo ser superado pela vida,  desfazer-se em irrelevância, insignificância.
A certeza da morte nos faz pensar o quanto é pueril, do ponto de vista da natureza e do corpo, toda  fenomenologia de um ego ou de uma consciência diferenciada, singularizada, articulada pela memória de um fluxo de experiências, por um estável padrão de percepção e sensibilidades.
 Ser alguém é algo no fundo insólito e completamente absurdo. Mas naturalizados as sutis contradições que caracterizam o exercício ininterrupto, mas finito,  de uma vida consciente  de si e da sua precariedade. Levamos demasiadamente a sério nossa condição de viventes.


quinta-feira, 13 de julho de 2023

A CORAGEM DE MORRER

É preciso coragem para morrer
antes do corpo,
para desistir de si,
dos outros e do mundo
enquanto ainda se respira.


É preciso descobrir alegria
no abraço do nada,
do caos e da incerteza mais brutal
de todas as coisas e atos possíveis
na mais desesperada orgia dos sentidos.

sexta-feira, 7 de julho de 2023

QUERO MORRER SEM ALARDE

Quero morrer sem aviso,
 serenamente,
 em qualquer noite de sono.
 Desaparecer sem alarde,
pura e simplesmente,
sem  sentimentos ou testamentos.
 
 Quero morrer, 
saber a liberdade da inconsciência absoluta,
nunca mais ser e sofrer,
enquanto o dia amanhece 
sem novidades para os sobreviventes.


quinta-feira, 6 de julho de 2023

A MORTE COMO PROCESSO VITAL

A vida é um processo de morte Simplesmente isso. 
No fundo não há vida.
 Existir é morte
 e a consciência 
não passa da ilusão de um corpo
 em permanente estado de degradação.

METAMORFOSES

Um dia fui um menino, 
outro uma pedra, 
uma mosca, 
depois pó 
e finalmente nada.

Sempre seremos nada
enquanto , através de nós,
a vida passa,
indiferente ao presente
e a agonia do agora e sempre.




quarta-feira, 5 de julho de 2023

A RADICALIDADE DA MORTE

Hoje, todos os meus destinos
amanheceram longe demais.

A distância me ensina a morte
como algo impreciso
 que nos rouba da gente,
que acrescenta ao luto um segredo sombrio
entre a saudade e a ausência.

Hoje, todo tempo do mundo
parece tarde demais.

terça-feira, 27 de junho de 2023

RÁPIDO DEMAIS

O nada devora a vida antes que ela  se faça inteiramente visível ao pensar.
Por isso
a fala não distingue mais
 a vida do nada.
Não há diferença.
Pois tudo passa rápido demais.
Os anos passam rápido demais.
Tudo acaba sem deixar marcas ou
vínculos.


 Não temos razão ou tempo para saudades,
melancolias e lutos.
É sempre rápido demais,
tarde demais.
Nunca há momento.

O nada se alimenta da vida,
sem alarde e em silêncio,
em uma poça de eternidade.
Isso não é mais segredo.
Só é rápido demais.

sexta-feira, 23 de junho de 2023

MORTE SEM ADEUS

Ninguém se lembrará
do meu último sonho,
da minha última refeição,
da minha última saudade,
ou da minha  angústia
 frente ao não sentido da vida.

Ninguém vai se lembrar do meu último instante,
do horror que me define o mais profundo do mundo.

Hoje morremos sem tempo para despedidas.
Já não há dignidade nos velórios
nem lembranças que perpetuem
o raso acontecimento  de uma vida inteira.






quinta-feira, 22 de junho de 2023

A IMPOTÊNCIA DOS CORPOS

Nossos corpos exitam
entre ser e não ser,
entre tentar e esquecer,
 ganhar ou perder.

Eles se perdem 
em encruzilhadas de dúvidas,
imobilizados por angústias,
 descrentes de suas próprias possibilidades.

O mundo, afinal,
 é muito maior que os corpos
que desafiam a paisagem selvagem 
e menor que o tempo
que devora tudo que existe.

Os corpos não podem vencer a realidade,
não sabem mais como ser
ou como se deve morrer.










terça-feira, 6 de junho de 2023

A PAZ E O NADA

Só há paz quando deixamos de existir.
Ela é a consequência de nossa ausência
e só acontece onde cessamos de ser,
onde nós identificamos com a não identidade de um "fora absoluto" onde nada mais é possível.
Em poucas palavras, a paz não existe.

SOBREVIVÊNCIA

Sobreviver ao tempo e ao mundo,
que diariamente nos consome,
é um desafio diário,
um eterno retorno do inverossímil
de um existir gregário
que afirma o inautêntico de uma impessoal e opaca rotina.
Tudo se resume a pragmatismo,
obediência e conformismo
as precárias rotinas da ordem dos dias possíveis.

Isso é o que hoje habituamos a chamar erroneamente de vida.



sábado, 3 de junho de 2023

NÃO ACREDITO

Não acredito
em nada disso
que nos mata
enquanto a vida
nos come a existência.

Eu não acredito
em nada que existe.

sexta-feira, 2 de junho de 2023

ENTRE A PALAVRA E O SILÊNCIO

Sou apenas um intervalo incerto
 entre a palavra e o silêncio
 onde o corpo se movimenta
do lado de fora do verbo.

 Sou apenas esta frágil ilusão de consciência e ação 
que reduz o mundo a sua própria aparência e imaginação.

Sou apenas a quase certeza de um eu
indeciso
entre o acaso, a sorte e a ilusão,
impreciso na constante expectativa de seu próprio e inevitável fim.

Sou apenas qualquer coisa na medida em que nada sou.

terça-feira, 23 de maio de 2023

NIILISMO, MORTE E LIBERDADE

Morrer é um processo natural. 
Não pode ser assimilado satisfatoriamente 
pelos jogos de nossas codificações simbólicas, 
por nossas convenções de realidade.
 Morrer esta além de nossos valores e convicções.
 Pode-se mesmo dizer que a morte é a melhor definição possível de niilismo, 
já que ela traduz o limite de tudo que acreditamos somos ou fazemos enquanto parte do ecossistema terrestre ou, simplesmente, 
como viventes.
 Neste sentido, seria também possível dizer que a morte é a mais radical alegoria da ideia de liberdade.

domingo, 21 de maio de 2023

AMANHÃ

Amanhã,
tudo que hoje 
para mim importa
não passará 
de realidade morta
que ninguém há  de lembrar.


Sei que não viverei
para abrir aquela porta
antes do jantar,
pois  amanhã 
por volta desta mesma hora
Já serei falta,
uma luz apagada,
um fósforo frio,
perdido no chão da cozinha
de qualquer lugar.

Amanhã será para mim
finalmente
tarde demais ...
mas todos seguirão em suas rotinas
inventando de novo,
além do amanhã,
 o que jamais será.

sexta-feira, 12 de maio de 2023

AINDA ME PERCO DO MUNDO

Um dia ainda perco de vez
a esperança, o medo,
a paciência  e o desejo
e desapareço definitivamente da face da terra
em um derradeiro e libertário ato de radical desatino.

Nada me impedirá de não SER,
de dizer um definitivo NÃO 
aos deuses, pessoas  e mundo
que durante anos
me azucrinaram o juízo
com as mais descabidas justificativas morais e racionais,
desfazendo em mim aos pouquinhos
qualquer suposto encanto que me acordava  o absurdo da vida.

Um dia ainda me perco de vez do mundo 
me libertando dos outros e de mim mesmo.
Levará apenas um segundo...


quarta-feira, 10 de maio de 2023

VIDA & MORTE

A vida é uma experiência
incerta e imprecisa da consciência
ou, simplesmente, a experiência do corpo
que se confunde com o mundo.


Já a morte, 
é absoluta, conclusiva
e definitiva inconsciência.
É o corpo quebrado,
vazio de tempo e de mundo.

 Vida e morte, entretanto,
são expressões divergentes 
de  um mesmo silêncio do corpo
transfigurado em objeto entre a vigília e o sonho.

Vida e morte envolve a intimidade do incompreensível,
diz respeito aquilo tudo que a gente sabe
que nunca vai saber
independente de todo progresso da humanidade.


domingo, 7 de maio de 2023

VIDA QUE SEGUE

A vida vai continuar viva.
Não mais para mim
ou para você.
Mas ela continuará...

Mesmo com todo silêncio,
mesmo depois de nossa morte,
a vida adivinhará um dia seguinte.

Hoje  anoiteceremos definitivamente 
e sem tempo para despedidas.
Mas amanhã será outro dia.
Só não veremos o sol nascer,
nem cumpriremos nossas rotinas.

A vida agora reclama algo novo.
Segue, como sempre,
nos mesmo lugares
com outros rostos e outras rotinas.

A manhã será outro dia.
A vida segue,
Indiferente a todos.
Não importa se vivos
ou mortos.

A vida seguirá e segue,
sem nenhum propósito
e quase sem poesia.




quarta-feira, 3 de maio de 2023

SOBREVIVER

Sobreviver é acrescentar alguma coisa
aquilo que sempre morre em nós.
É ir um pouco além de só mesmo
através de um real que nos devora,
que nos converte a si mesmo.

Sobreviver é um modo de perder a si mesmo,
de apagar o próprio nascimento.

terça-feira, 2 de maio de 2023

A VIDA MATA

A vida, meus amigos,
não tem solução.
É coisa feita pra morte
carecendo de explicação ou sentido.

A vida é só isso mesmo:
essa angústia,
esse tédio,
e essa enorme agonia.

A vida mata
e o tempo nos apaga.

domingo, 23 de abril de 2023

O SEGREDO DO TEMPO

O tempo que passa,
o tempo que mata,
e o tempo que morre,
é o mesmo tempo
em que a vida recomeça
todos os dias 
como se nada fosse perdido
ou destruído,
pelo tempo que tudo devora.

Quantos tempos, afinal,
existem dentro do tempo?


sábado, 22 de abril de 2023

O INDIVÍDUO E A VIDA

A breve duração de uma vida é insuficiente para plena  inserção do indivíduo no devir do mundo.
Cada um de nós jamais realizará a espécie, o universal, pois a finitude e o inconclusivo é o que nos define como potência, já que somos mortais.
Somos movidos pela sobrevivência, pelo sensível e pela imediata percepção da existência.
Somos provisórios, como são provisórias nossas certezas e verdades.

sexta-feira, 21 de abril de 2023

A GRANDE NOITE

A grande noite desabou sobre nós
antes do meio dia.
Tudo virou silêncio,
após  uma breve agonia.

Desfeita a realidade dos atos e ditos,
apagou-se a cidade,
imperou o vazio e o silêncio,
em toda a paisagem que os olhos cegos  comiam.

Anoitecendo no sem tempo da morte 
deixamos de ser e não ser
em um absoluto descanso.

A grande noite se fez absoluta
e ninguém mais saberá de nós
Pelos restos dos dias da humanidade.