quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

AUSÊNCIA

Tudo que nos define é  a presença arrebatadora de uma abstrata ausência. Trata-se de algo indeterminado, além de qualquer palavra ou conceito. Algo que nos consome e se consuma na morte.

Somos em tudo o devir desta ausência

A REALIDADE

A realidade escapa através do dizer,
Do pensar e do ser.
Ela não  tem substância,
É uma ausência 
Que preenchemos com o ato de viver
E nos  consome no fato de morrer.

domingo, 22 de dezembro de 2019

O ETERNO RETORNO DO ANO NOVO

O tempo cíclico dos anos nos confronta com a dança  das gerações.  Carrego em mim a memoria dos mortos que não contam mais os anos e já  se perderam nos abismos do futuro. Mas é  sempre novamente ano novo. Sempre com outros rostos e situações. 

A roda do tempo gira implacável, fazendo o mesmo percurso, mas nunca é  a mesma ao final de cada volta. 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

MORTE E MATURIDADE




Perder-se da  infância
é como ficar sem alma.
Pois infância é ser mundo,
fantasiar-se de fantástico,
saber o sumo da realidade
em seu avesso encantado.

Por isso,
Tornar-se adulto,
Alcançar a maturidade
De nossa condição humana,
Significa, ao contrário, 
Começar a morrer.

Apenas as crianças  verdadeiramente vivem ... 

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

INSTINTO DE VIDA

O mais genuíno instinto de vida é  aquele que se volta para o futuro, que desafia toda contingência. Mesmo que em nome de uma plenitude impossível,  de um porvir que nunca é  o mesmo, de uma vida que nos ultrapassa e acorda vertigens.  

Somente uma vida suja de morte pode reivindicar sua própria radicalidade.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

MINHA VAGA EXISTÊNCIA

Não  sou parte do passado ou do futuro da humanidade.  Sou apenas um fragmento deste descartável presente, um insignificante detalhe na paisagem do agora. Mas dentro de mim existe um universo, algo que não  cabe no rosto ou na voz que me define entre os outros. Algo que de tão intenso desaparece,  quase não  existe, mas me ultrapassa na indeterminação  do mundo, na impertinência de uma existência que não  dura por nem  um segundo de eternidade.

sábado, 14 de dezembro de 2019

MORTE E CONSERVADORISMO

A morte se confunde com a impossibilidade de novidade. É  quando nada mais pode ser mudado, quando tudo está dado.
A morte é estática , imóvel.  Enquanto a vida é  movimento e transformação constante.

O status social dos mortos é  o silêncio, a impossibilidade de transformar e ser transformado. 

Muitas pessoas existem em estado de morte. Chamam isso de "conservadorismo" politico, mas trata-se de uma disposição que transcende o campo politico e apresenta desdobramentos existenciais profundos.

domingo, 8 de dezembro de 2019

BANALIDADES

Aprendo com o silêncio dos mortos o grande vazio dos vivos.
Toda existência possível é  a miragem de um abismo.
Como posso levar a série a miséria dos meus avós ou a banalidade dos meus sentimentos?

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

UM INSTANTE DE INCERTEZA

Durante a eternidade de um instante, toda a realidade do mundo foi um vento frio beijando minha pele. Toda realidade da vida era traduzida por esta experiência . Nela cabia toda natureza e o próprio universo. Só  não cabia o incerto da minha própria existência e a fantasia do meu pensamento.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

AOS MEUS NOVENTA ANOS


Sei que não  chegarei aos noventa anos. Então  aqui dedico este registro ao silêncio  da manhã  dos meus noventa anos.

Quando eu estiver diluído no passado comum dos dias, esta data não  fará  sentido. Por que diabos faria? Hoje mesmo já  não  celebro meus anos, minhas perdas. Sei que a vida é  um fato duvidoso tal como é  ridícula a reunião  em torno de um bolo.



domingo, 1 de dezembro de 2019

A VIDA É MUITO CURTA

Nosso passado dura muito pouco. Resumido a miséria de algumas décadas, revela insuficiente o tempo presente, enquanto o futuro mais robusto nos escapa.

Desta forma, uma vida inteira é  muito pouco para saber o mundo. Estamos presos a ilusão  de uma época e  morremos sempre cedo demais. Nossa existência quase não  cabe no tempo. Como é miserável nossa consciência.....

terça-feira, 26 de novembro de 2019

MORTE E SOCIEDADE

A morte  é  uma construção social.
Os pobres vivem menos que os ricos,
Os negros morrem mais do que os brancos.

O Estado mata,
A cidade mata,
A comida mata.

É um mundo cheio de vidas interrompidas
Em sociedades que produzem  morte.

VIVER É MORRER II

O passado é uma morte que cresce,
Que nos envolve e nos cobre
De silêncio.
Nisso reside 
Todo absurdo
Do simples acontecer do tempo. 
A vida é o caminho da morte.

domingo, 24 de novembro de 2019

TEMPO E MUSICALIDADE


A música que agora me encanta,
Antecedeu minha existência. 
Depois de mim,
Há de embalar outros ouvidos,
Enfeitar futuros onde serei silêncio. 

A música permanentemente presente,
Entretanto,
Será sempre outra
Para cada ouvinte,
Para cada tempo que embala, 
Em sua insistência
contra a  eternidade.


quinta-feira, 21 de novembro de 2019

QUANDO A VIDA APODRECE

Há  sempre qualquer coisa apodrecendo dentro de nós. 
Suportamos a morte todos os dias,
Até  o momento em que a morte
Já não suporta nossa própria vida.
Mas isso é  um detalhe insignificante da realidade.


VIVER É MORRER

O tempo é como uma doença do corpo. 
Uma doença sem cura,
Cujo sintoma é a vida.

A preguiça e o sono
Agravam esta  patologia
Que com o passar dos anos
Impõe ao corpo
Cada vez mais concretamente
A ausência do mundo.

Morrer é um exercício cotidiano
Que se confunde com a vida.


A NOITE UNIVERSAL

Sei a noite que arde,
Que inquieta,
Antecipando a morte.

Sei a escuridão primitiva,
O caos e o vazio
Que tudo preenche
E permite ouvir a natureza gritar.

Sei o pânico de existir,
O medo do futuro,
E o definitivo silêncio 
Que reduz tudo a um inacabamento existencial.

Sei a confusão primitiva
De uma grande noite universal
Que habita todos os tempos
Da finitude do humano.



sábado, 16 de novembro de 2019

A VIDA QUE NÃO FOI

A vida tem estado ausente da minha existência.
Tenho habitado um cemitério de vivos,
Entre obrigações  e rotinas vazias.

Abrigo silêncios e abismos,
Ausências e inconstâncias. 
Sou na vontade de ser
A impossibilidade de mim mesmo.
Sou quase um aborto vivo
Em um mundo morto.


terça-feira, 12 de novembro de 2019

PARTIDA


A partida nunca tem volta.
Em cada nova visita
Há sempre outro lugar
para o mesmo destino.
É sempre outro momento
e depois apenas o vazio.
Viver é um  multiplicar de ausências.
Ou, talvez, nem isso...


segunda-feira, 11 de novembro de 2019

VELHICE


A que distância estou hoje
de quem fui
nos dias em que o tempo
sorria minha juventude
e tudo me parecia possível?

A intensidade do meu corpo
não carecia de alma
na plenitude de desejos e caprichos
que decoravam o infinito.

Agora,
meu próprio eu é memória
diante de um mundo
que não reconheço,
que não tem alma.
Tudo em mim se perde em passado.


quinta-feira, 7 de novembro de 2019

BIOGRAFIAS

E tudo se resume nisso:
Depois que a criança 
Agoniza e morre
Dentro da gente,
Apodrecemos como adultos
Até que a morte nos enterra
Velhos e desfigurados. 
Ninguém,
absolutamente ninguém,
Sobrevive a própria infância. 

A FORMIGUINHA



Ninguém presta atenção na formiguinha que atravessa a parede como quem explora um novo continente. Mas, ironicamente, somos todos como aquela  formiguinha.  O drama da nossa existência é também uma absoluta nulidade na microfísica de nossa duvidosa realidade

A  humanidade inventa-se importante quando toda a sua história não passa de um grande nada.



quarta-feira, 6 de novembro de 2019

A BANALIDADE DA MORTE

Até  as estrelas morrem.
No universo
A morte é  um espetáculo banal
E vazio de significado.

Vida e morte definem a ordem do caos,
A dança  do ser e do não  ser.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

SOBRE A BANALIDADE DA EXISTÊNCIA

A ilusão  de sentido  que inutilmente nossa consciência coletiva  tenta impor a vida,  impregnando-a de valor, torna a morte insuportável. 

Existimos para o nada. Tudo que realizamos é  nada.  Nenhuma virtude define a existência. Morrer é  um fato banal.

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

DESAPARECIMENTO


Não sei se é o tempo que passa
ou se simplesmente sou eu
que me perco de mim mesmo
no ato de quase ser
este corpo,
este pensamento,
enterrado na paisagem
que nunca é a mesma.
só sei que tudo realiza
um desaparecimento.


sábado, 2 de novembro de 2019

A MORTE COMO META

Uma boa morte
É tudo o que esperamos
Como resultado
De uma vida inteira.
Mas poucos são  dignos
De ima grande morte 
Por não alcançar 
As últimas consequências
De sua própria existência.


sexta-feira, 1 de novembro de 2019

MEMÓRIA DO ESQUECIMENTO


Quantas histórias escritas na casa de quintal
foram perdidas,
apagadas pelo tempo,
e enterradas com seus mortos?

Quantos silêncios pesam naquele endereço?

A vida segue ingrata.
Descarta o passado
buscando sempre a novidade do agora.

O esquecimento é a matéria prima do presente.
Pouco importa nossas lembranças...



quinta-feira, 31 de outubro de 2019

AQUI E AGORA


Não há outro mundo,
Não há outra vida.
Existe apenas o aqui e o agora,
E uma hora,
nem mesmo isso.

Tudo é muito simples,
direto e claro.
Tudo que somos
nos deixa.

O fim, entretanto,
é sempre um enigma.
Ele não cabe no tempo e no espaço
de uma existência inteira.

Também não pode ser pensado, 
visto que nega a memória
e transcende a possibilidade da experiência.


quarta-feira, 30 de outubro de 2019

RELATIVISMO MÓRBIDO


Gostava mais da casa dela
do que da minha.
Amava a vida que ela tinha,
nunca soube que queria
deixar tudo aquilo
que a definia.
jamais imaginei-a suicida.


ABANDONO


O abandono não é um estado das coisas,
mas uma inercia da alma.
Não é a inercia dos atos
no calar da vontade,
mas uma indiferença,
uma desvaloração
que corrompe
e semeia silêncios
e mortes.

terça-feira, 29 de outubro de 2019

MATURIDADE

Atingimos a maturidade quando percebemos que o mundo não  é  um lugar seguro,  que a morte é  o futuro de tudo, e que o esquecimento define a memória. 

Então, nos damos  conta de que não   nascemos para a felicidade e nem duramos o suficiente para fazer qualquer ideia de como o mundo é  possível em termos humanos. 

Atingimos a maturidade quando perdemos qualquer esperança de auto realização.

DESPIR-SE DE SER

Não é  importante me vestir de ser,
Sair a rua e enfeitar o dia comum, 
Como se meu pequeno canto de existência 
Pudesse eclipsar o mundo.

Tudo em mim é  ausência.
Sigo perdido na exterioridade do tempo,
Das coisas em movimento,
Construindo aos poucos
Um grande silêncio. 

Preciso me vestir de não ser
E apagar a rua 
Na queda do abismo,
Tocar o infinito que me consome.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

MORTE E ESTAGNAÇÃO


O ato de viver é qualquer coisa incerta sobre um estado de vir a ser permanente. É como um sonhar acordado, a intuição delirante de um existir sempre em potência  que nunca se detém em qualquer versão materializada de si mesma. Esta angustia do sempre outro é o que faz a vida mutação e movimento. Tudo que é vivo esta fadado a nunca permanecer até o esgotamento da possibilidade particular de acontecer como um permanente estado de mudança. Morrer é permanecer o mesmo....

terça-feira, 22 de outubro de 2019

DIA SEGUINTE

Viverei para ver outro dia nascer.
Viverei para honrar meus mortos,
Nosso passado comum,
Espantado com a vida,
Com o tempo e os absurdos da natureza.
Hábito memórias pessoais
Que não  cabem no devir do mundo.
Mas o esquecimento me conduz ao futuro.

domingo, 20 de outubro de 2019

A DOR

A dor mais intensa
Não  procura abrigo
No desespero do grito.
Ela sussurra o vazio,
Nos rouba da morte
E apodrece a existência
Sob as condições mais extremas.
Ela nos faz inumanos.

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

TEMPO E ESQUECIMENTO


“O tempo é um rio formado pelos eventos, uma torrente impetuosa. Mas se avista lima coisa, já foi arrebatada e outra se lhe segue, que será carregada por sua vez.”
Marco Aurélio in Meditações

Fiz o inventário provisório dos meus esquecimentos. Soube um vazio intenso povoado por  esgotamentos e sucatas, pela memoria quebrada dos mortos, pelos restos degradados de momentos perdidos e pleos vestígios de muitos futuros abortados.
O efêmero do sempre agora é um infinito impossível que se multiplica a cada novo acontecimento. Ele é o eterno imperfeito em sua durabilidade, em seu perpetuo vir a ser onde tudo que se repete já é metamorfose, uma outra versão de si. Não a identidade, tudo é simulacro, superfície. Tudo que é se perde em silencio e esquecimento. Tudo é perecível.


segunda-feira, 14 de outubro de 2019

ÓDIO A ETERNIDADE

Imagino a eternidade como um absoluto silêncio,
Um vácuo  onde nada existe,
Onde nada é  possível.
A eternidade fede a podre.
Nela nada acontece
No infértil campo do indizível.
Nada é mais repugnante
Do que aquilo que não se transforma.

O ABSURDO DE UM INSTANTE


Provo o instante incerto de um presente,
Que quase parece eterno,
Contra o deserto movente
Do tempo cotidiano,
Cíclico e sem brilho
Como a pedra de Sísifo.

Provo um relâmpago sem tempestade,
Que não  cabe no céu  de qualquer futuro.
Sei um grito, um desatino,
Qualquer revolta,
Contra as falsas certezas
Da ordem estabelecida.

Cabem mil mundos possíveis neste instante incerto,
Onde invento a coragem
De um riso  de morte.

domingo, 13 de outubro de 2019

UM DIA

Um dia...
Há sempre um outro dia
Para perpetuar angústias,
Renovar medos e incertezas,
Gritar esperanças,
E rir do trágico de nossa existência.
Há  sempre um outro dia para viver,
É sempre um outro dia onde se pode morrer.

sábado, 12 de outubro de 2019

VITALIDADE

Não  posso saber o dia da minha morte, nem esgotar o tempo de uma vida inteira. Pois minha existência toca o mínimo infinito de ser em profunda natureza.

Mas não  sou eterno. Sou um momento de vida, uma ilusão  ambulante que inventa a própria realidade.

Quando morrer, serei perfeito em mim mesmo, enterrado no meu próprio silêncio. A vida prossegue através  da minha inexistência.

terça-feira, 8 de outubro de 2019

MORTALIDADE

Em um dia qualquer como o de hoje,
Em algum lugar da Terra,
Alguém morreu sem alarde.

O fato se repete e se repetirá
todos os dias
Até o remoto fim te toda a humanidade...

o que não tem a minima importância
diante da imensidão do universo,
Do seu assombroso silêncio.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

SOBRE NASCER E VIVER

Acometidos ao nascer  por esta estranha doença que é o tempo, não somos  senhores de nosso momento, de nosso destino. Somos apenas vítimas dos anos e estamos fadados ao desaparecimento.

A vida é  tão  efêmera... Mas só  tiramos todas as consequências disso na doença ou na velhice.

Viver é  mais do que nascer e crescer. Vai além  de nos conformar ao mundo e as humanidades.

Viver é  qualquer coisa que ainda não  descobrimos. É quase uma esperança.

PÓS VIDA



Desfeito pela morte,
Persistirei presente entre as coisas
Nas infinitas cores das asas das borboletas.


Não sofrerei mais humanidades
ou identidades.
Serei  espaço abstrato e ecografia.


Abandonarei sem reservas
A ilusão de uma consciência,
a perenidade do orgânico,
e a própria condição humana.

  
Serei feito de superfícies,
efeito de olhar, 
entre o ser e o não ser,
quase uma fantasia
entre sonho e vigília .


sexta-feira, 4 de outubro de 2019

APRENDER A MORRER


Encontre o seu silêncio,
Seu modo próprio de desdizer o mundo,
De perder o rosto.

Radicalizar a existência
É confundir-se com as coisas,
Tornar-se o ambiente
Na intuição da morte,
No saber rizoma.

Na ilusão do ser ou não ser
Apenas exista.
Seja uma árvore.
Aconteça!

Saber viver é aprender a morrer....
amanheça quando escurecer.



quarta-feira, 2 de outubro de 2019

A SABEDORIA DOS AFOGADOS


Deixem a felicidade para os incapazes de se afogar na paisagem.
Nossa estirpe é de mergulhadores de abismos,
De desbravadores de superfícies.

Não queremos coisa pequena como qualquer ideal vazio de felicidade.
Sofremos o encanto da morte guerreira e aprendemos a finitude como virtude.
Tudo é simulacro no caos geral da existência.
Afoguem-se!


segunda-feira, 30 de setembro de 2019

A CERTEZA DA MORTE


A vida não busca o eterno,
Mas se conforma a finitude.
A morte está escrita em nossas células.

Morrer é  a finalidade da vida,
Para que a própria vida se perpetue.

Não  importa sua crença
Ou sua atitude.
O corpo degrada com o tempo.
Viver é morrer aos poucos.

Tenho inveja dos não  nascidos.
Existir é a pior forma de não  ser.



sexta-feira, 27 de setembro de 2019

CORPO E LUTO




O corpo prostrado e  prostinado
Abriga a perda do outro.

Tudo turva.
Há silêncio,
Dor e memória.
O corpo vivo que chora
Participa do corpo inerte
Na onipresença  da finitude.

Afinal, a morte é o absurdo desvelado,
Indomesticável,
Que alucina e apavora.

Não há realidade além do corpo
Quando a vida traduz a morte
E os dias desabam.

terça-feira, 24 de setembro de 2019

ENTRE A NOITE E A MORTE


A noite tem gosto de norma,
De poder, moral e de caos.

A morte tem gosto de lei,
Punição abissal, arbítrio,
Guerra, ódio policial e higiene social.

A noite tem gosto de podre,
De absurdo e abuso banal.

A morte é o sonho do ódio.
A noite é o pesadelo dos sóbrios.

Não há nenhum dia no horizonte.
Nenhum futuro em nosso presente.
Apenas seguimos entre a noite e a morte.


segunda-feira, 16 de setembro de 2019

MORTE E REVOLTA

Não  é  possível dizer a morte.
Ela não  é  um conceito,
Algo que caiba na palavra "morte".
Falar sobre morte é  questionar a vida,
Uma forma de transgressão,
De superação da domesticação do nada.
É  um ato de protesto,
Revolta e melancolia,
Contra o estado atual de miséria
De nossa existência
Em um mundo de mortos vivos.

MORTE E REVOLUÇÃO

A absoluta liberdade da morte,
Da inexistência,
Nos priva das mazelas do mundo.
Mas é  a vida que queremos
Contra uma existência de morte,
De provações, privações e absurdos.
É  com a vida que compartilhamos
Nosso desejo de liberdade,
Nossa absurda  necessidade de mudar o mundo.
Que a morte nos seja sempre
O último recurso.

domingo, 15 de setembro de 2019

DESAPARECIMENTO E ESQUECIMENTO

O Desaparecimento é um destino universal. Sua consequência direta é  o esquecimento. Mas esquecimento do que? Durante nossa presença  no mundo quase não  somos percebidos. Seguimos nos dias  engolidos pela multidão  de rostos e pela banalidade da existência.

Vivemos como um grão  de areia. No final das contas, nosso desaparecimento quase não  é  notado. A vida sempre segue sem tempo tanto para os vivos quanto para os mortos. A existência é  indiferente ao nosso existir.

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

NO PRINCÍPIO



No princípio tudo era imagem,
Pré linguagem e afeto
Na experiência do mundo.
Um mundo onde a consciência
Estava contida de forma indiferenciada.

No inicio eramos todos uterinos,
Unos e em estado de Nada
Dispersos no absoluto do puro desejo.
Morremos ao nascer....


terça-feira, 10 de setembro de 2019

LÁGRIMA




Não há dizer algum na lagrima.
Nenhuma dor.
O sofrimento esta em outra parte,
Onde não há nada,
Onde o vazio fala,
Uma multiplicidade de coisas soltas.

A lágrima é o que foge
A quem sofre.


segunda-feira, 9 de setembro de 2019

AOS QUE SE APAIXONAM PELA VIDA

Aqueles que amam a vida incondicionalmente negam a existência em toda sua complexidade.
Não  aceitam o trágico, o imprevisível e a incerteza, como inalienáveis premissas de nossa triste humanidade.
Preferem a ofuscação do sol de qualquer questionável  verdade.
Nada aprendem com a banalidade da morte. Seguem sonâmbulos  no sonho é na ilusão  de uma  inatingível  felicidade.

domingo, 8 de setembro de 2019

A VIDA NÃO É TUDO

A vida é nada.
Um dia ela termina
E o mundo continua.


A vida é  só  um acidente,
Um sonho que se consome
Na fantasia da consciência.


Consumado o instante
A existência se vai
Num piscar de olhos
No silêncio do corpo
E no fugir de tudo.

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

PROSTRAÇÃO



Naquela noite eu amanheci sozinho.
Pouco me interessava o mundo.

A realidade cabia nos olhos
Que só sabiam a imediata paisagem
Do quarto vazio.

Confesso que nada aconteceu
naquele ambiente inerte.
Entretanto, como foi intenso
Aquele momento,
Aquele vazio,
Onde  tudo cabia,
Onde eu era nada,
E existência parecia resolvida.

sábado, 24 de agosto de 2019

ESQUECIMENTO

Não  saberei meu último momento.
Dele não  ficará  registro.
Será  completamente esquecido
Como todos os dias da minha vida.
Apenas o mundo
Realmente existe,
Persiste,
Entre a lembrança  e o esquecimen
to.

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

ESPECULAÇÕES SOBRE O MORRER

Toda intensidade de estar vivo pode virar  nada em um golpe infeliz de sorte.
Morrer deve ser surpreendente.
Mas nem os mortos sabem o quanto.
A morte é  maior do que a vida e o mundo.
Existir é  menos que nada é nunca dura o suficiente.
Morrer desqualifica toda ilusão  do pensamento.

A VIDA É CURTA



A vida é curta.
Mas minha existência
Não sabe o tempo.
É memória e acontecimento
Na prisão de um instante
Fechado em si mesmo.


A vida é curta,
Mas contem um infinito de experiências
E possibilidades de um instante perpétuo.


A vida é curta,
minha existência é nada.

terça-feira, 20 de agosto de 2019

ETERNO DEVIR


Sempre a sombra do nunca mais
Adivinhamos o tempo novo
Do dia seguinte.          

O próprio espaço
É abstrato movimento
Da transformação de todas as coisas.

Nada é constante.
Nenhuma natureza,
Qualquer pensamento,
Permanece o mesmo.

 As coisas seguem,
Sempre a sombra do nunca mais.

Tudo muda contra a vontade da gente.
Nada é para sempre.
Mesmo assim vivemos
Em permanente estado
De eternidade.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

HOJE




É hoje como todo dia.
É hoje.
Sempre é hoje.

O passado muda
Enquanto o futuro não existe
e tudo é hoje.

É sempre hoje
Enquanto o próprio hoje
Nos escapa...

Este hoje que nunca acaba,
onde a gente some,
tudo termina,
e nunca para de ser hoje.


terça-feira, 13 de agosto de 2019

A BANALIDADE DE VIVER


Viver é ato descartável,
Enfadonho.

É corpo,
Paisagem e movimento,
Como uma folha ao sabor do vento.
Não queira que a vida tenha significado.

Tudo desde sempre já  é passado,
E não  há  sentido
Em qualquer ideal de eternidade.

domingo, 11 de agosto de 2019

MORTE E FILOSOFIA

Não sabe viver
Quem não aprende a morrer.
É  o que ensina toda boa  filosofia.
Mas quem se arrisca a saber?
Quem está disposto a abrir mão  de si mesmo
Para redescobrir o mundo?
Quem é capaz de se render
A mais fecunda melancolia?

sábado, 10 de agosto de 2019

MEU CADÁVER

O trajeto do meu cadáver,
do lugar da morte a cova,

não  terá dignidade.

Será  percurso de coisa,
De objeto abjeto e desprezível 
A ser descartado do mundo.
Apenas isso.

Livre da vida o corpo é  mero excremento.

ROTINA E AGONIA

Todos os dias acordo para esperar outro dia.
A rotina nivela o hoje ao amanhã,
Elimina a esperança em qualquer mudança.

Estamos todos mortos em nossas vidas  Mas finjo não saber disso e sigo sorrindo,
Sempre imaginando suicídios.

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

APROVEITE SUA JUVENTUDE



Os velhos não tem futuro.
O passado lhes morde os calcanhares.
E o corpo já não sabe
A intensidade dos prazeres da carne.
Nem a mente aprende como antigamente
Ou a vista apreende toda a nitidez da paisgem.
Até o sabor do alimento é diferente.

Por tudo isso,
É preciso ser jovem para aproveitar a vida.
Depois de certa idade
Apenas existimos,
Cada vez com maior dificuldade.


TRÊS TEMPOS



O tempo do relógio é enfadonho.
Serve apenas a rotina do escritório.

O tempo da vida é o instante
Não tem medida
E nunca é o bastante.

Mas a vida sabe também
O tempo do esquecimento
E a hora da morte.


terça-feira, 6 de agosto de 2019

RETORNO


Espero que o tempo,
De algum modo,
Me faça voltar...

Quero reencontrar o lugar que deixei vazio
Naquela triste província onde vim ao mundo.

Sei que o tempo muda tudo,
Que nada será como antes,
Mas é aquele canto de fim de tudo
Que eu pertenço.

É lá que quero acabar.



APOSENTADORIA


Verei crescer a filha da vizinha,
Trocarei fotografias com parentes distantes,
E todos os dias, pela manhã,
Irei comprar pão na padaria da rua de baixo.

Viverei o suficiente
Para saber a vida sem ilusões,
Sem a opressão de qualquer opinião,
A margem de todos os julgamentos.

Irei saborear a paz do meu pequeno mundo caseiro,
sem sustos ou novidades,
Até que a morte me arranque dos dias.

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

SOBRE A PREGUIÇA DE VIVER

Entre a leveza de viver e a gravidade de pensar, afirma -se a preguiça  de existir, de dizer, de fazer. 


Não há  qualquer beleza em persistir. Uma hora a vida termina. Tudo se reduz ao cotidiano espetáculo da banalidade, do anonimato.

Viver não passa do silêncio de um morrer diário.

Acumulamos esquecimentos e todos os nossos atos estão fadados ao nada. Por isso toda ação é efêmera e conduz ao triunfo da preguiça de existir. Mas isso é coisa que apenas o peso dos anos nos faz perceber.

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

VIVER PARA O PASSADO

Não  vivo para o futuro. Existo para o passado. Ele define meu presente, minha presença  e desaparecimento da paisagem do mundo. 

Na memória cada instante é uma pequena eternidade que faz de mim acontecimento.

Sou composto pela descontinuidade de vivências impessoais singularmente organizadas em experiência e presença no mundo. 

domingo, 28 de julho de 2019

RECOLHIMENTO


Gosto de sentir o vazio e saber o silêncio.
É  sempre bom esquecer de si e dos outros,
Dedicar horas a ausência e a solidão.

A vida é  impessoal,  muda . Ela escapa aos nossos jogos de linguagem. Ela é  a intensidade e a singularidade da micro eternidade contida no acontecer de cada momento.
Tudo é  descontinuidade.

sábado, 27 de julho de 2019

ANDAR DE BICICLETA


Eu queria andar de bicicleta nas ruas vazias da cidade morta.
Ver flores caindo no Jardim do cemitério,
Sem comer veneno no almoço
Entre as horas de trabalho
Que me matam aos poucos.

Eu queria que não  fosse dia
Nem noite.
Correr de bicicleta
Contra a vida e o tédio
Que me inventam um rosto.