quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

O FIM DE ANO DE UMA IDOSA

Era o ultimo dia do ano. Assim todos diziam. Eu pessoalmente não me importava com isso. O ano não passa de uma convenção estabelecida pela estupidez do calendário. Tudo que sei é que estamos morrendo o tempo todo e que o tempo passa sem regra.

Afinal de contas hoje tenho cento e quatro anos  e não saio nunca deste quarto de fim de mundo onde ninguém me visita. Onde tudo que existe é minha consciência teimosa, que insiste em ser  quando o meu próprio corpo já me desconhece.

Não sei se chamo isso de vida.  Me considero  uma sucata esquecida em um canto de nada a margem da existência. Depois de tantos anos e tantas coisas vividas, percebo que tudo acaba em pó e esquecimento. Família, trabalho, sucesso e realizações de todo tipo, todas as  coisas  boas e más  que vivi um dia,   não passam agora de pálida lembrança. Não fazem mais diferença. Nem de longe lembro quem já fui um dia no acontecer do mundo.

É o ultimo dia do ano. Mas eu nem sei mais o passar dos anos. Minha época já se foi e o mundo de hoje não me interessa. Vocês entenderão isso caso vivam mais do que o suficiente. Chega mesmo uma hora em que continuar vivendo se torna um capricho. Medo da morte é um privilegio dos jovens. Depois que todo mundo que amamos morre e que perdemos a saúde a morte passa a ser um privilegio.

Tive uma amiga que morreu no dia seguinte a morte da filha. Ela simplesmente desistiu de viver e morreu. Isso acontece. Muita gente desiste da vida e acaba morrendo.  Não são raros os casos em que adoecemos de desgosto ou tristeza. Mas é claro que ninguém quer ouvir sobre isso.


É o ultimo dia do ano.... Não sei se chego ao ultimo dia do ano que vem.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

NÃO TIVE FILHOS

Sou feliz por não ter tido filhos.
Não carrego o peso da existência de ninguém.
Nem me culpo por ter transmitido  a vida
Em um mundo tão deplorável.
Simplesmente, não propiciei a outra pessoa
O martilho de ser.
Melhor assim.

Sempre tive inveja dos não nascidos.

DIANTE DA INEXISTÊNCIA

A inexistência é a regra do tempo.
Ser não passa de um acidente
Que dura menos que um simples momento.
Então, como medir o valor da  existência
Se não existimos o suficiente
Para saber os ritmos do mundo
E a realidade das pedras?
A vida é pouco complexa
Quando imaginamos a eternidade.
Desde sempre inexisto
Sorrindo ao vazio...


segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

SOBRE O IMPOSSÍVEL DESTE MOMENTO


É tímido o momento de agora.
Não oferece grandes significados,
Promessas e muito menos pequenas alegrias
Que aliviem o peso do passar do tempo.
Serenamente as coisas acontecem sem brilho,
Sofremos rotinas,
Choramos os dias, os vazios e desencantos.
O momento de agora é efêmero,
Vazio e raso
Enquanto tudo parece urgente e impossível

Neste mundo que existe a margem da gente.

domingo, 25 de dezembro de 2016

A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER

Sou este quase não ser
No provisório acontecer
Do acúmulo de agora
Onde através de imagens de mundo
Me contemplo como finitude.
Tudo que acontece
Está fadado ao desaparecimento.
E mesmo a afirmação deste fato
Não muda nada na consciência viva
Da falência múltipla de cada instante.
Um brinde a insustentável leveza do ser.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

SOBRE O NÃO SENTIDO DA VIDA

Não sei quando tempo de vida ainda me resta nesta loteria absurda chamada existência onde todos os lances concorrem para o meu fim. Mas isso não faz qualquer diferença. Viver toda uma eternidade não seria suficiente para cobrir de pleno sentido minha rota existência. Afinal, existir é uma condição precária, um dilema que nunca se resolve. Não passa de uma busca sem sentido pela reprodução diária e indefinida de mim mesmo entre a indistinção e confusão de nossa condição biológica.

A MORTE NA FOTOGRAFIA

A fotografia é muda,
estática,
um movimento abortado.
É como uma espécie de assassinato simbólico.
Ela não tem vida
e se apresenta como testemunha fúnebre
de um pedaço de momento rasgado,
perdido,
despedaçado através do registro de um instante
que não diz nada além disso.
Depois que o tempo passa
e corróe lembranças,
uma imagem não conta sua história.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

SOBRE ESTAR VIVO

Depois de um questionamento radical de todas as premissas, conclui que a condição humana é um erro absurdo, uma piada do acaso. Mas a vida não passa de um fardo temporário a ser suportado, já que não comporta conclusões ou soluções.  Estamos vivos e este é o desagradável fato. Só nos testa diante dele a perplexidade e o espanto. Sofre-lo com dignidade até que o engano se desfaça.


@

Vivo a deriva: existo...

A BANALIZAÇÃO DA EXISTÊNCIA

Toda experiência humana foi reduzida a banalidade, ao raso e imediato de um momento fechado no eterno retorno da simples reprodução do nosso ciclo vital. Tudo que importa é continuar vivendo, reeditar a própria existência em variações infinitas da banalidade de viver rotinas. Por maior que seja o progresso pessoal alcançado, não ultrapassamos a fronteira das necessidades. O desejo e a compulsão pelo progresso biográfico constante se opõem agora a qualquer estratégia de liberdade ou construção de subjetividade. Vivemos em uma cultura orientada para o utilitarismo mais estreito. 

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

TEMPO E ESQUECIMENTO

Quanto dura uma vida?
Será que faz diferença o acumulo dos anos
Quando a morte nos desinventa?

Talvez tudo que vivemos seja, então,
Reduzido a nada de tal forma
Que o tempo em que fomos
Não caiba se quer em uma lembrança.

Estamos vivos, morremos...
Mas até que ponto existimos?
Irrelevante é a quantidade dos anos.
Se quer em vida ainda lembramos

De tudo que um dia fomos.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

SEM FUTURO

Algumas pessoas não tem futuro.
Para elas a morte é um conceito vago
Pois sua própria existência não vive.

Tais pessoas existem sem expectativas,
Realizações ou possibilidades.
Apenas executam rotinas.
Respiram, falam , andam,
Trabalham
E até mesmo amam.

Suas vidas, entretanto,
Já não tem solução.

São rotinas vazias e sem amanhã.

VIVER É AGORA

Vivo das coisas imediatas.
Não faço compras nem planos
A longo prazo.
O futuro  é perecível
E o agora é urgente.
Vamos tomar café na praia,
Sorrir ao sol
e brincar com nossas preocupações cotidianas.
Nada dura para sempre.
Muitas vezes

Não dura um dia.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

O SILÊNCIO DAS PALAVRAS



Quando abatido não vejo sentido
Em qualquer palavra possível.
Todo dizer me parece inútil.
Nada que pode ser dito
Faz real diferença ou sentido
Diante do efêmero e vago ato de existir.
Palavras não passam de um artificio.
Não resolvem a vida,

Não apagam a morte.

A FATALIDADE DA INCERTEZA

Concretamente existimos na superfície do mais banal acontecer cotidiano. Nos ocupamos de tarefas pequenas e acreditamos que tudo se repete na sucessão dos dias. Assim apostamos no previsível pressupondo em relação aos fatos alguma previsibilidade. O problema é que estamos equivocados e a verdade é que, independente de todas as evidencias, podemos  morrer a qualquer momento, por mero e gratuita obra do acaso.


Rezar não vai mudar isso.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

MAL SÚBITO


Temo a hipótese de um mal repentino,
De um tropeço físico
Que me quebre a rotina
E me leve a grave enfermidade.

Sei que o futuro não existe
E o fim é certo
Neste discreto caos cotidiano.

O tempo nos corrompe.
Qualquer hora deixo de acontecer.
Não é uma questão de sorte.


A IMPORTÂNCIA DE SER LEMBRADO

Quando se leva uma vida banal, morrer pode ser uma mera formalidade. Muitas existências são tão vazias e descartáveis que não fazem a menor diferença para ninguém.

Partindo da premissa de que a existência não possui qualquer sentido, constituindo um ato aleatório do acaso, uma vida humana só adquiri significado através daqueles que  a consideram. Somos através daqueles que amamos e que nos amam, com os quais compartilhamos o mundo e a realidade.

Sem eles nos perdemos na eternidade do esquecimento.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

DEIXAR PARA TRAZ

Deixo para traz mais um ano
Acumulando perdas e amargando mudanças.
Nada será de novo como sempre foi.
Faço o balanço provisório do que me restou.
Tenho menos do que preciso
E mais do que esperava.

O novo ainda me desperta desejos,
Mas não cabe na madrugada
Que me afasta da manhã seguinte.
Posso dormir para sempre.
Tanto faz se o tempo passa.
Ninguém me espera no ano seguinte,

Minha vida inteira foi adiada.

OFUSCAÇÃO


Hoje acordei tão lúcido
Que me surpreendi meio morto,
Vivo e sem rumo.
Bebi um pouco de escuridão
E apaguei as ruas
Enquanto comia um pedaço de vento.
Depois esqueci do mundo

E me desfiz entre o ser e o não ser.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

ANTIQUÁRIO

Gosto de visitar antiquários e me perder entre todos aqueles moveis, quadros e outros objetos antigos. Sei que todos foram em algum momento arrancados de algum lugar que se desfez, de vidas que findaram.  Há neles rastros invisíveis de cotidianos e histórias perdidas de simples acontecer privado que escapam a memória dos sobreviventes.


Antiquários são como um cemitério de coisas perdidas que nos são oferecidas para decoração de nossas vidas. Assim, os objetos transcendem seus donos e originais contextos. Resistem a morte e ao tempo embora não passem de simples obras humanas.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

A MISÉRIA DA ETERNIDADE

Não sei se gostaria de viver minha própria vida  eternamente.
Cansa um pouco ser eu mesmo,
Estar preso a este rosto e destino
E saber as coisas  do meu incerto ponto de vista.
Isto cansa tanto quanto saber as pessoas
E participar dos diários tumultos da sociedade.
Abomino definitivamente a ideia de eternidade,
Reencarnação ou qualquer hipótese idiota
De perpetuação pós morte da existência.
Apenas os tolos egocêntricos tomam como desejável

Tamanho absurdo.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

SOBRE TRAGEDIAS E LUTO

Diante de uma tragédia envolvendo a morte de centenas, o luto social revela não apenas a perplexidade que nos causa à fatalidade da morte, mas também nossa incapacidade de aceitar a fragilidade de nossa condição humana.

É contraditória a forma como socialmente lidamos com o luto coletivo, com a celebração da memoria daqueles que perdemos prematuramente  em acidentes.  No fundo não aceitamos uma premissa elementar da existência: viver é um fato aleatório que a qualquer momento pode findar sem qualquer razão. Uma simples coincidência desfavorável de eventos  pode ocasionar uma morte estupida. Estamos todos sujeitos a isso. Mas é saudável não pensar nisso e levar a vida como se sempre existisse um amanhã diante de nós. Ao mesmo tempo, entretanto,  também é importante relativizar nossas estratégias de existência traçadas a partir de uma perspectiva egoica e voltada para realização plena de nossas personas. De tanto vivermos em função de nossa adaptação a sociedade, muitas vezes abdicamos da experiência simples e gratuita de mergulharmos profundamente no superficial e raso de cada momento. 

INSIGNIFICÂNCIA

Uma vida é insuficiente para saber o mundo inteiro ou provar satisfatoriamente a existência.  Mas me contento com a pequena versão da realidade onde descansa minha consciência. Não pretendo mais do que este mísero instante. Viver, afinal, não é grande coisa. Por isso pouco me incomoda a morte. Não me importa realização pessoal e outros frívolos sucessos que nada acrescentam ao meu instante final.
Viver é nada...
Não cultivo a ilusão de qualquer valor.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

O DESEJO E O TEMPO

As Interdições e limites do meu acontecer diário
Dizem o peso do tempo sobre os meus atos.
O corpo não acompanha mais o desejo,
Nem as certezas cabem mais no pensamento.

Vejo adiante apenas o passado
Na lenta desconstrução  de mim mesmo.

Minha vontade  não se reconhece mais no que faço,
Nem tenho medo de qualquer consequência.

Sou livre apenas através  do  desejo
Que ainda me inspira a consciência
Contra mim mesmo.


quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

A MENTIRA DA VIDA

Passamos a existência tentando aprender a viver.
Até que tudo termina sem qualquer razão de ser.
Tudo que você considerava importante
Desaparece em um instante.
Tudo termina em silêncio
E não há nada a ser feito.
Não faz mais diferença quem você foi um dia.
Morrer é não ser,
viver é fingir que não sabemos
ou não nos importamos com isso.


terça-feira, 29 de novembro de 2016

MISÉRIA EXISTENCIAL


Perdi tudo que tinha.
Sobrou apenas a incerteza
 E esta absurda insegurança
Que me cala.

Não mais duvido.
Simplesmente não sei
E nada mais faz qualquer sentido.

A existência é isso:
Um desatino, um susto
E um equívoco.

Tudo que faço

Acabará em silencio e
Esquecimento

A INSIGNIFICÂNCIA DE VIVER

Sobreviver a um acidente grave ou recuperar-se de uma enfermidade seria da  sensação de que a vida começou de novo. Mas superado o susto  continuamos a leva-la da mesma maneira de sempre. Os mesmos fardos, impasses, inercias e silêncios. Adiar a morte ou quase morrer  não muda nada. Tudo que interessa é estar vivo ou não estar vivo.

Por isso vos digo em versos:

Vivemos de inercias...
Temos a determinação de uma pedra.
Mas por maior que seja uma existência,
Ela não passa de um instante.
Não é nada demais.
Não se faz suficiente
Para a plena realização de qualquer coisa.
A vida humana é mais breve

Do que uma noite de sonho.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

A MORTE DO OUTRO

A comoção que a morte de um ente querido nos desperta é de certa forma uma espécie de susto com a instabilidade e precariedade da existência de um modo geral. Não se trata apenas da experiência de uma perda afetiva. É também um confronto indireto com nossa própria mortalidade.

O fim de um organismo vivo põem em duvida a própria vida, seja em sua dimensão biológica, social ou simplesmente existencial. Diante do não sentido  do morrer do outro o que podemos esperar do nosso próprio existir?


O fim é sempre um silêncio onde a memoria é o único e abstrato resquício de uma vida inteira.

SEM SENTIDO

Aleatoriamente vago pelas ruas
Do mesmo modo indiferente
Com que tenho levado a vida.
Sei que qualquer dia  tudo terminará para mim
Enquanto o mundo vai continuar por ai
Indiferente aos meus sobreviventes.
Sigo em cada momento que desaba

Serenamente em direção ao nada.

sábado, 26 de novembro de 2016

VIVER NÃO FAZ DIFERENÇA

Uma estranha forma de ausência...
Esta é a mais perfeita definição de existência.
Ser é também o não ser,
enquanto o tempo passa
através da gente.
Passeamos pelo vazio da vida
apenas por um descuido do silêncio.
Viver não faz diferença.
Dancemos o nada de nossas vidas.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

DECADÊNCIA

Existem estados de vida próximos ao zero da existência. Basta visitar hospitais e asilos para descobrir um pouco mais sobre o assunto.  Enfermidades e idade avançada revelam o lado sombrio da existência. Embora cultivemos com tamanho afinco nossos narcisismos não passamos de animais frágeis e limitados, sujeitos as mais variadas possibilidades de desconforto e deterioração. O corpo é o limite de nossa vaidade quando o consideramos além da futilidade das aparências.


Não importa os dias de gloria, sempre nos deparamos com as horas intermináveis da decadência e do fim inevitável.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

AINDA NÃO ERA A MORTE

Ainda não era a morte.
Tudo não passou de um susto.
Por inercia você retorna a rotina
Sem saber ainda o que fazer da vida.

Ainda não era a morte
 Contra mim se voltava o dia seguinte,
O equivoco seguinte
E aquela eterna falta de conclusão.


Só me restava morrer em minha imaginação...

terça-feira, 22 de novembro de 2016

OS SINOS DA VELHA TORRE

Não se incomodem com os sinos da velha  torre.
Deixem que toquem contra a cidade.
É própria do passado assombrar o agora
Apontando o vazio de nossas vidas.
Continuem fazendo as tolices de sempre.
Brinquem sobre os telhados dos seus egos
E façam de conta que o céu é azul.
Esqueçam o passado.

É o futuro quem irá destruí-los.

BANALIDADE

Neste exato instante
Alguém que eu nunca conheci
Está morrendo.
É estranho pensar sobre isso...
Afinal, como é banal morrer.
Acontece o tempo todo.
De repente tenho plena consciência disso.
A morte é tão banal quanto à vida.
Mas não vale a pena se importar com isso.
De repente você morre e pronto.
Tudo acaba para você

E não faz diferença quem você foi um dia.

domingo, 20 de novembro de 2016

CONTRA A HIPÓTESE DE VIDA ETERNA

O Cristianismo não afirma a vida, mas a recusa com veemência  em sua dimensão mais concreta. Procura substitui-la pelo ideal abstrato de um existir perfeito projetado no além. Isto torna o Cristianismo  anti-natural e niilista em um sentido negativo. É contra o absurdo de uma alma imortal e de uma vida eterna que se levantaram nos últimos três séculos, todos os indivíduos lúcidos que reconhecem o primado da imanência e da finitude sobre a condição humana. 

O que torna para nos a existência digna de valor é justamente  sua insignificância. Temos muito pouco tempo para existir até as últimas consequências de nós mesmos....

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

ENFERMIDADE

Nesta noite,
um pouco de enfermidade
me fez refém do mais provisório
da existência,
dos limites dos meus atos
e do ridículo da sobrevivência.

A inexistência é nossa fatal vocação
contra nossas inercias existenciais. 




domingo, 13 de novembro de 2016

VIDA EM DESCONSTRUÇÃO

É irônico como algumas coisas que já foram muito importantes vão se tornando insignificantes; até  seu banal desaparecimento... Na verdade nada que existe é muito relevante nos labirintos do tempo e do espaço. A  vida segue sem rumo e aos poucos vai superando tudo. Principalmente a própria vida. Não se deve dar mais valor as coisas do que o abstrato do devir que as define.
A vida é uma desconstrução permanente de todas as ilusão de Ser.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

LEMBRANÇAS

Ninguém mais se lembra desta rua
como eu.
Aqueles que o podiam
estão todos mortos.
Apenas eu ainda guardo a memória
dos acontecimentos e dos bons velhos tempos
que não deixaram vestígios
no rosto gasto de cada casa.
Tudo está diferente.
Nem mesmo parece a mesma rua.
Também não sou mais
aquele que costumava ser
e quase duvido dos registros vivos
em minha memória.
Existir é por demais incerto
quando consideramos o tempo.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

FIM DE TARDE

Tamanha é a banalidade do futuro
que pouco me importa o acontecer presente.
Basta seguir em frente em meio a estupidez
do dia a dia.
O amanhã é uma promessa vazia .
Apenas  temos ainda algum tempo
antes do anoitecer.
Vamos aproveitar a tarde.
Ela é tudo que nos restou.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

MORRER DORMINDO

Gostaria de morrer sonhando
Depois de um dia qualquer
Sem grandes novidades.
Queria apenas não acordar de novo
Sem qualquer consciência do fim,
Sem saber o tempo fugir de mim

E o definitivo silêncio dos meus atos.

BALA PERDIDA

Não era para eu estar aqui.
Nada deveria ter acontecido.
Mas, de repente, começaram os gritos,
A correria e o som de tiros.
Apenas senti o sangue e cai.
Perplexo,
Não pensava em nada.
Provei o medo de virar noticia,

De  me tornar mais um numero em alguma estatística.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

MORTE E MUDANÇA

As  pessoas não mudam.
Mas sempre estão criando
Justificativas novas para erros antigos,
Insistindo nos mesmos limites,
Nos mesmos equívocos
Até  que a existência nos extíngua.
Deve ser por isso que morremos.
Para que a mudança  aconteça

E a existência siga.

PONTO DE VISTA

A vida não é a mesma para todo mundo.
Alguns se relacionam de modo mais intenso
Com as misérias cotidianas
Enquanto outros, contrariando as dificuldades,
Inventam sorrisos em todas as situações.
Não porque são mais felizes,
Simplesmente porque sabem
Que nada é para sempre.

Não veem importância em qualquer coisa.

PENSAR NA MORTE

A ideia de morte é um horizonte filosófico que nos permite redimensionar as preocupações e metas cotidianas. Entenda-se aqui a preocupação filosófica com a morte como a produção de uma consciência da própria finitude e perenidade das coisas e situações.

O modo como pensamos e vivemos a morte diz muito sobre o nosso modo de existir e se posicionar diante da realidade. Pensar a morte não é um capricho ou um  diletantismo, mas uma estratégia filosófico/existencial e de construção de subjetividades des objetivadas.


ANOS DE JUVENTUDE

Quando eu era apenas um jovem
a vida parecia certa, fácil e segura.
A rotina era cheia de novidades
E o amanhã não passava de uma terra distante,
quase inatingível.

Mas tamanha simplicidade das coisas
existia em mim 
e não na vida.
A juventude me garantia
uma saúde perfeita.



FINADOS

O vazio e o silêncio do dia de finados
Tem o tamanho de minha nostalgia,
Da absurda necessidade de estar de novo
Entre os meus mortos
Nas urgências dos meus passados.
Ter de volta a casa antiga
E o velho cotidiano,
Ser novamente jovem e pertencer inteiramente a vida
Entre aqueles que tanto amei,
Mesmo sem saber o quanto.
Como pesa o passado neste dia
E tudo que é de agora e hoje
Parece sem sentido.


terça-feira, 1 de novembro de 2016

ADEUS

A última vez em que nos vimos
Nada teve de especial.
Não passou de um encontro banal.
Mas foi a ultima vez em que nos vimos.
Nunca mais...
Sinto sua falta.
Mas o tempo não volta.

É tarde demais...

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

NOSTALGIA

Sinto saudades do meu passado
Ou pelo menos
Daquele passado sereno
Que a lembrança inventa,
Um passado domesticado e idealizado
Que faz a vida parecer quase perfeita
Diante das incertezas do agora.
Ontem sempre será
Melhor do que o hoje.

Não acredito no futuro.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

O SONO

O sono antecipa a morte
Contra a vida.
Viver pode ser apenas
Um erro da natureza,
Um não lugar das coisas
Supostamente existentes.
Estamos perdidos  em meio ao caos
Dos ralos significados.
Vivemos como escravos de meia dúzia
De frágeis certezas existenciais.


terça-feira, 25 de outubro de 2016

VAZIO

Tudo que tenho
É esta angustia,
Esta náusea de existir,
Enquanto transbordo em mim mesmo.
Sou grito...
Eco ...
Vazio...
Nada faz o menor sentido.
Tudo é descabido,
Absurdo...

Silêncio...

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

IGUALDADE FATAL

A morte é o remédio para os que nasceram
Mas jamais viveram,
Tanto quanto é o veneno
Para os que muito existiram.
Em ambos os casos
Ela é o resultado previsível e certo.
Todos serão igualmente esquecidos,
Não importa se rei ou plebeu.

A morte é mais democrática do que a vida.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

NOSTALGIA

Estranho este passado
Que a memória me inventa
Feito de fatos afetivos .

Lembrar é sentir a ausência de coisas perdidas,
É querer  intensamente o impossível
Contra todo esquecimento.

Queria ser livre através das  

minhas tantas ausências. 

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

MEMÓRIA DE AREIA


Sinto saudades do tempo em que ainda éramos vivos e jovens,
Não estas desengonçadas sombras de gente
Tateando pequenas felicidades
Nas sombras do tempo presente.
Vivíamos  tão intensamente....
Você se lembra?
Creio que pouco.
Nossa memória já não é mais a mesma.
Tenho saudades até mesmo

Do tempo em que lembrava das coisas.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

MORRER...

Morrer é mergulhar inteiramente no passado, sucumbir ao seu próprio tempo pessoal e histórico. Além da morte existe apenas o eco biográfico enquanto crônica do mundo vivido. Quanto mais envelhecemos, mais nos tornamos parte do tempo de todos nós. Não é fácil lidar com isso, aceitar a  própria finitude... Ela é tudo que tentamos evitar, enterrados  no agora e sempre de nossas efêmeras e frágeis . Viver é mais assombroso do que morrer....


terça-feira, 18 de outubro de 2016

QUASE VELHO

Nunca imaginei que  tudo seria tão incerto quando eu já fosse quase velho.
Mal pareço ter minha idade, mas já sinto o fim atrofiando o futuro e as incertezas
Dançando no horizonte.
Meus anos somados já não suportam tanto passado. Mas tento manter o equilíbrio, mesmo agora que meu corpo quase não me obedece.
Mas, por enquanto, eu sou apenas um quase velho. Já não me tratam como um jovem e não me desconsideram ainda como um idoso.


sexta-feira, 14 de outubro de 2016

VERTIGEM

Não serei  o primeiro e muito menos o último a vivenciar a vertigem que inventa o abismo.
Serei apenas o inédito de ser eu mesmo contra e através dos lugares comuns do mundo.
Seguirei indefinido em existência até me afogar de vez no  silencio que nos funda o existir.

Serei apenas um vento na paisagem antiga engasgando o tempo e o espaço...

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

RESPIRE...

Não espero muito da vida.
Sei que estarei sempre a um passo atrás
Da felicidade.
Não terei o que preciso vivendo do que tenho.
Mas irei viver... provisoriamente,
Como todo mundo.
É o que importa:
Continuar respirando,
Apesar de tudo.
Quantos por ai

Já não o fazem mais?