quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

CORPO MORTO

O corpo morto,
Despido de sentido,
de verbo, afeto,
consciência e percepção,
reduz-se a coisa.
Não é mais um indivíduo.
É apenas um corpo,
matéria inerte
que se desfaz
e nos faz ninguém.







quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

VIVER É APRENDER A MORRER

O passado nunca para de morrer
enquanto me faço outro
e me rendo
ao futuro que aos poucos me mata.

O tempo, talvez, seja apenas a morte em movimento,
um desaparecer constante de tudo que existe.

Só sei que viver é aprender a morrer
e nada neste mundo persiste.






terça-feira, 27 de dezembro de 2022

EPITÁFIO

A vida foi para mim
como um brinquedo quebrado,
um imperfeito objeto de sonho e delírio.

Pois, fui, 
contra o eu,
tão somente, coisa, corpo,
matéria e espanto.
Algo quase imperceptível
entre a agonia e a alegria
de estar vivo.





MORTE SÚBITA

A morte sempre surpreende.
Principalmente,
quando esperada.
Todos morrem cedo demais,
não importa a idade
ou as dificuldades.

Morrer é sempre de repente.
Tudo é descontinuidade e silêncio,
além do frio das despedidas
ou da brutalidade das circunstâncias.


Sabemos que viver não passa de
ilusão e imanência.
Existir é incerto e efêmero.
Somos apenas um nada que leva ao nada
além do tempo e do espaço
no eterno retorno da natureza.



domingo, 25 de dezembro de 2022

DIANTE DO OBITUÁRIO

É impactante saber da morte de alguém, pois o morrer do outro sempre reforça a certeza de nossa própria morte.
No fundo, a morte não é de ninguém, mas de todos nós. É a própria impessoalidade do seu acontecimento que torna a morte tão impactante como acontecimento.

sábado, 24 de dezembro de 2022

O TEMPO E A GENTE

O tempo nos envelhece
para se conservar novo,
sempre por vir,
contra o que já foi
e nunca mais novamente será.

Mesmo que o tempo
não seja linear,
ele é medido em matéria,
sempre finita e incerta,
a se transformar.

O tempo é sempre,
enquanto a gente murcha 
como uma flor de jardim
e se perde
Em nunca mais.




domingo, 18 de dezembro de 2022

MINHA MORTE

Minha morte,
como qualquer outra morte,
ocorrida entre nós
desde os mais remotos tempos
da duração humana,
não será mais do que um acontecimento banal,
condenado ao esquecimento.

Afinal, todo corpo é efêmero
e sempre haverá outros corpos,
outras vidas,
no lugar da minha,
afirmando a sobrevivência da espécie
no inumano tempo quase infinito
da natureza e da Terra,
na contra mão da minha finitude.

Então, minha morte,
não significa, absolutamente,
Nada,
como qualquer outra morte
que foi ou será
desde o início dos tempos.




quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

O PASSADO QUE NOS MATA AOS POUCOS

O passado é  maior que o futuro.
Pois o tempo sempre nos falta,
escapa,
se afasta e se deixa perder 
no que já deixou de ser.

O tempo, afinal, é apenas um adeus
que não para de crescer
até transbordar a existência
na absoluta afirmação do não ser.

Assim, o outro, reduzido a um corpo desfeito,
mas perpetuado pelo pálido espectro de uma lembrança,
se torna o tênue silêncio de uma ausência
que nos frequenta como uma fome
que jamais se cala,
Como um passado virtualmente vivo, que
 em qualquer futuro, quase  iminente,
há de nos afogar indiferente,
meio que derrepente,
Com a serenidade triste de um por de sol.

Diante do tempo que cresce ao infinito e tudo devora,
não cabe o alento de qualquer esperança.




OS ANOS PASSAM

Os anos 
já não morrem como antigamente.
Também não somos os mesmos
e, entre nós, há muitas ausências.

Os anos passam
e levam a gente.
Nada na vida é permanente.

O tempo é uma doença.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

A MORTE COMO TRANSGRESSÃO

Morrer é deixar a realidade
pra virar sonho, saudade.
É sucumbir de vez a indiferença
que nos define dentro e contra o mundo
como um breve limbo existencial.
É abandonar a ilusão da consciência
e a vida como equívoco da matéria.
É, simplesmente, não ser,
além de qualquer razão
ou transcendência.
Morrer é um silêncio
além do próprio silêncio,
é superar o eu, o outro,
e o verbo.





sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

MORTE E NÃO SER

Quando eu for apenas uma porção de ossos velhos perdidos na terra, não fará qualquer diferença  a vida que levei um dia. Nenhum vestígio da minha existência há de ser relevante. Serei livre além da própria ideia de liberdade.  Não ser, estar além do nada, é um anti conceito, um não pensamento, que me inspira.

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

CATÁSTROFE

Nada no mundo me diz respeito.
Estou condenado a miséria da minha existência,
ao meu silêncio,
e inabalável indiferença
diante da experiência do Ser e dos outros.


Entre finitude e imanência
sou apenas um corpo que come,
que se consome,
e que, em algum amanhã,
Já apodrece em segredo.

Enquanto isso,
o mundo segue em desastre
e contemplo a impotência dos meus atos,
a inutilidade de tudo que hoje é possível,
diante da muda catástrofe que define o universo
e este triste fim de tarde.

.

sábado, 26 de novembro de 2022

O FIM

O fim é frio,
urgente,
definitivo,
e quase irresistível.

É um fogo que apaga,
quase em segredo.
O fim é o tudo e o nada.

É silêncio,
mas deixa um registro,
quase ilegível.




terça-feira, 22 de novembro de 2022

TEMPO QUE MORRE

Um tempo definha comigo,
desaparece nos meus caminhos,
Apagando-se com os mortos
que me sustentam a memória.

É tarde.
É sempre tarde.
Mas sou contemporâneo do antigamente,
sabendo que nada será para sempre 


terça-feira, 15 de novembro de 2022

CORPO A DERIVA

Não passo de um corpo a deriva no tempo,
Desaparecendo nos atos cotidianos,
se tornando silêncio,
enquanto a vida se conforma ao mundo,
aos discursos,  certezas, delírios, e promessas,
que se inventam verdades,
onde nada perdura ou faz sentido.

Sou apenas um corpo a deriva
que ignora as ilusões da vida,
o equívoco da condição humana
na afirmação da Terra contra o mundo.





sábado, 12 de novembro de 2022

QUASE ADEUS



Pode ser tarde demais
para recomeçar,
sonhar e esperar.

Talvez me acorde
para o nada
alguma morte
antes do dia acabar.

Mas não direi adeus,
pois é sempre antes do fim.
Todo dia é despedida.


É sempre tarde demais
para despedidas.

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

SER NINGUÉM ATRAVÉS DO NADA

Nada espero da vida,
da morte, 
ou desta inútil vontade de eternidade.

Nada em mim é para sempre.
Pois sou despido de alma.

Sei que o tempo é inimigo da fé e da vaidade.
Amigo da liberdade de perder-se de si,
de sumir do mundo,
na arte de inventar-se nada.

Existo para e através de Gaia
na concretude de um corpo
que me faz ninguém,
que me transforma em nada.





sábado, 5 de novembro de 2022

O TEMPO DAS ÁRVORES

Preciso aprender a roubar
o tempo das árvores,
pois o tempo do corpo é curto,
quase nada,
e não vale uma vida humana.

A humanidade, entretanto,
 não existe. 
Há apenas coisas,
entre e dentro de coisas,
preenchendo a paisagem
onde governam as árvores.

Nenhuma vida é humana.


sexta-feira, 4 de novembro de 2022

EPITÁFIO

Vivi à deriva,
quase afogado nos dias,
a espera de qualquer acontecimento
que justificasse a vida.

Morri abraçado a melancolias,
atravessado  pelo meu tempo,
desaparecido nos meus passados,
e sufocado pelos meus atos.

A vida foi para mim 
a silenciosa intimidade
de uma agonia.

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

MEMÓRIA E SONHO

A memória é a parte ativa da morte
que cresce dentro dos vivos,
como um passado que  devora futuros.


A memória é mais esquecimento
do que lembrança.
Ela é uma forma de imaginação
Livre de toda necessidade.

Quem lembra ou esquece
habita um sonho vivido
que nunca se limita
aos limites da consciência.

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

O VAZIO DE SER

Esvai a percepção através da descontinuidades dos atos,
da preguiça de ser e querer
até o limite de perceber
que tudo foge em permanente indeterminação,
que nada escapa ao vazio que nos preenche.

O absoluto é inconsciente e inconsistente,
como qualquer coisa que quase não existe,
assim como nós.

Amanhã não estarei mais aqui
para ser em lugar algum.

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

MORTE E LIBERDADE

Uma hora a gente fica pelo caminho.
É quando nada mais importa,
e tudo se torna nulo,
sem o capricho de um ponto final.

Morrer é livrar-se de si
e libertar-se dos outros.

BREVE QUESTIONAMENTO NIILISTA

São tempos desafiadores para aqueles que não acreditam em nada, que sabem que a sociedade, a humanidade, e toda realização humana, não passam de um grande desastre.
Um desastre que nos atormenta, que nos tortura, que não para de crescer, ao longo de uma existência totalmente sem sentido.
É justo questionar: até quando seremos reféns de nosso instintivo e inútil esforço de sobrevivência?

terça-feira, 18 de outubro de 2022

ENTRE A MORTE E A VIDA

Perder-se de si no abismo 
do próprio corpo.
Está é a mais radical
definição possível de morte.
Já a vida,
não se define.
É coisa que a gente
mal sabe se existe.
O que nos acontece
ainda não é vida.

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

TRISTEZA DE ANIVERSÁRIO

Não tenho memória do dia em que nasci.
Nenhuma lembrança do trauma do parto,
Do susto de descobrir o mundo,
Sem ser eu, sem ser gente,
sem ser nada além da nudez primeva
de um corpo- coisa.

Não tenho memória do dia
no qual fui condenado
a esta grave enfermidade que chamam de vida.

Sei que também não deixará memória
o dia da minha morte,
meu retorno feliz ao nada,
livre de todas as sortes.

Finalmente, então,
derrotarei deuses, Estados e mundos
no silêncio da morte!



quarta-feira, 12 de outubro de 2022

NUDEZ

O corpo é um saco de pele,
Cheio de carne e osso
onde tudo se comunica
e a vida acontece.

O corpo é coisa,
fluidos, energia,
Percepção e ato.

Nele não há poesia.
Apenas fome.

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

MORTE E INSOBREVIVÊNCIA

Atualmente, 
nossa maior ambição
é alcançar a paz definitiva
dos mortos.
Pois pouco nos satisfaz
a existência 
Quando tudo que nos resta
é honrar com luto  nossas perdidas esperanças,
em tempos de mortos vivos,
saudades de infância,
e suicídio dos nossos melhores desejos e sonhos.
A vida não é mais possível entre os vivos.







quinta-feira, 22 de setembro de 2022

PONTO DE MUTAÇÃO

Com o passar dos anos,
Morrer vai ficando fácil,
e a vida cada vez mais insuportável.

Até que chega o momento
em que não faz mais diferença
entre mudar o mundo
ou desistir de tudo.

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

DUVIDA & EXISTÊNCIA

Toda existência é provisória,
precária e deficiente.
Toda existência é ilusória
e não realiza em si
a aventura da vida.

Toda existência
é uma dúvida
Consumindo a si mesma
 em mansa e deliciosa agonia.

terça-feira, 20 de setembro de 2022

ANTES DE MORRER

Antes de morrer
espero enterrar de vez
o mundo que me viu nascer.

Quero partir sem deixar legados,
sem  inspirar lembranças.

Desejo que meu tempo seja de vez superado,
que os vindouros filhos da terra
não se lembrem jamais da minha humanidade.

O amanhã, espero eu,
 terá a grande saúde de ser radicalmente anti humanista e terrestre.
Totalmente indiferente ao tipo de vivente
que fui ou me fizeram ser 
através de uma cultura doente,
Genocida e impotente,
Inimiga da natureza e da vida.

Antes de morrer
espero viver um pouco da  infância
de uma terra nova.

Mas sei que antes de eu morrer
nada disso irá acontecer.
Seguirá sem enterro
o cadáver do mundo que me viu nascer.







 







PROTESTO FÚNEBRE

Pretendo morrer sem aviso, quase de susto. Virar cadáver em uma manhã de sol no inicio de um ano marcado por crises e revoluções. Quero morrer anunciando tumultos. Emprestar meu nome a alguma rebelião.

sábado, 3 de setembro de 2022

EPITÁFIO

Não esperei nada dos outros,
Nem sonhei com um mundo novo.

No fundo só queria uma morte tranquila,
virar  passado, 
partir sem ensaiar despedidas.

Esqueçam meu nome,
meu trabalho,
e toda miséria
que me tirou a vida.

Não esperem nada do futuro
ou se lembrem de mim.




O LIMITE DA MEMÓRIA

A vida que foi,
hoje jamais aconteceu.
O passado é um sonho desfeito,
Uma morte do instante,
um silêncio que não para de crescer
e estabelecer desencontros,
semeando apagamentos
na ilusão do momento.

Tudo em nós é um desacontecimento,
um morrer e não ser.


sexta-feira, 19 de agosto de 2022

MUDANÇAS

Enquanto eu passo
e a vida fica
tudo se transforma.

O mundo nunca é o mesmo.
As dores mudam de forma
modificando desejos
que findam antes do fim do dia.


A vida fica.
Mas nunca é a mesma.
Sempre tem outro rosto
na mesma dor,
no mesmo endereço,
em outra medida.


O que importa
é não abrigar certezas.
Não se enganar com verdades,
Nem apostar em  vontades de pedra.

Existir é mera fantasia
na fabulação de  biografias.
 O mundo, sempre incerto, 
passa para conservar a vida
que protege a morte.

Amanhã não serei em outro dia
e o mundo há de desabar em mudanças.













 

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

A BANALIDADE DE MORRER

Meu objetivo é morrer sem aviso.
Dormir e esquecer a vida,
 desaparecer na memória/sonho
de um tempo compartilhado,
determinado,
e carregado de afetos
irredutíveis a ilusão dos rostos e épocas.

Dentro deste tempo, cada um de nós,
se desfaz na indiferença de um devir. 
A vida,  afinal, é pura assignificância,
onde ninguém jamais há de ser alguém.




terça-feira, 16 de agosto de 2022

OBITUÁRIO

A vida não termina.
Apenas se interrompe,
Inaugurando o inacabamento
de uma existência,
que se torna inteiramente passado,
silêncio e memória,
sem saber conclusão.
Dentro de alguns,.ela será saudade.

Depois, há de virar esquecimento,
sem despedida 
ou ilusão de partida.




DESPEDIDA

Desapareço com tudo aquilo que por mim foi vivido,
mas não deixou vestígios,
além do tempo que me devora o corpo
e me apaga do mundo.

Desapareço sem deixar lembranças
desfeito em minhas próprias memórias,
mínimo e finito na assignificância de uma vida inteira.

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

POEMA ANTI HUMANO

É natural ter asco
pela forma humana,
aversão ao rosto,
a voz,
e a arrogância bipede.

A humanidade é uma animalidade reprimida,
ferida pelo delírio moral,
pela recusa da terra em nome do céu.

O homem é um animal doente,
a mais desprezível forma de vida
Já parida pela natureza.




ONDE A EXISTÊNCIA NOS FALTA

Minha voz contém o silêncio dos mortos,
dos inacidos,
e dos que não irão crescer.

Ela carrega a angústia da vida
que não pôde ser,
o desespero de um futuro morto,
Que dentro de nós ainda grita o fogo de grandes vontades e revoluções
onde a existência nos falta.



domingo, 14 de agosto de 2022

MINHA MORTE NÃO SERÁ METAFÍSICA!

Espero morrer em casa,
 assistindo TV
e comendo pipoca.

Quero morrer sem tempo pra pensar na morte,
Morrer de morte morrida,
coberto de lembranças dos mortos da minha vida.




quarta-feira, 10 de agosto de 2022

DO INUMANO E DA MORTE

Desde sempre
a morte aconteceu em mim
além da existência e do esquecimento.

No absoluto do anti tempo
da ausência
eu soube meu corpo
reduzido a coisa
no vazio de toda experiência.
Pois eu me sabia outro,
vazio de qualquer possibilidade de mim.

A morte é a natureza sonhando,
adivinhando seu duplo
além da matéria,
provando o caos,
o anti humano de um espírito selvagem , absoluto e sem consciência.

A vida é o devir do caos,
da destruição;
é a dança de todas as coisas
em infinito conflito.

terça-feira, 9 de agosto de 2022

DO NADA AO NADA

Não importa o que você faça,
o tempo sempre passa,
tudo acaba,
enquanto a gente segue sem tempo
se perdendo entre as coisas 
e deseparecendo em qualquer nada,
que leva a outro nada,
até o fim da gente,
não vi importa o que a gente faça.

SILÊNCIO NIILISTA

Digo pouco
Porque desisti de tudo
e não acredito no mundo.

Viver é ilusão,
desconforto e necessidade.
É sempre encontrar limites,
abraçar silêncios e inconsciências.

Deixem-me em paz,
quero afogar no meu juizo
no labirinto dos meus silêncios. 


.


domingo, 7 de agosto de 2022

FINITUDE E ESQUECIMENTO

A  Verdade é  tudo o que nos escapa
e a realidade é tudo aquilo que morre.
Eis as duas fundamentais premissas de qualquer fabulação possível envolvendo o mundo. Tudo que existe perece e é saudável aprender a esquecer.

A ANTI VIDA DA VAIDADE

Existimos em um ponto nulo de tempo
onde tudo que é possível
é inútil e desprezível.

Onde toda expressão e criação possível,
de tão humana e narcisista, alcança 
o cume do ridículo e do cômico.

Todo desejo e prazer torna-se aqui inumano,
ilegível, agressivo, e indiferente ao vivido e ao vivente.
Pois o humano é a máscara pesada de narciso
onde o existente se confunde com o podre do próprio rosto,
a fé na verdade que mata o corpo.







sábado, 6 de agosto de 2022

ASSIGNIFICÂNCIA

Toda a sua vida não passa de um grande nada e nada do que você faça mudará isso.
Pois o mundo não tem sentido e todo significado é risível. Não há alma no tédio do corpo ou qualquer dignidade no fato de estar vivo.

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

ÚLTIMO MOMENTO

Achei que era cedo,
que o agora era provisório,
e que algum futuro
vomitava ainda o tempo
no quarto ao lado.

Mas eu estava enganado.
A noite desabou sobre mim
apagando o mundo,
embriagando o tempo,
e roubando a relevância dos fatos.

Era tarde demais para qualquer ilusão
de realidade ou verdade.
Já não  adiantava ter opiniões,
Postular segredos ou propor soluções.

O mundo já não era presente
e não havia mais uma existência 
iluminando meu rosto.
Nenhum destes versos eram possíveis....





quinta-feira, 4 de agosto de 2022

SAUDADE E MEMÓRIA

Um dia serei objeto da mesma saudade que hoje sofro por aqueles que se foram da minha vida.
Talvez, a saudade não seja coisa que a gente sinta, mas um estado de existência que nos revela uns nos outros, quase como um ser coletivo, composto pela memória.
No fundo somos feitos de passados e lembranças que não param de crescer ...

INEXISTIR

Um dia serei silêncio,
esquecimento,
e, talvez, lembrança.


Indiferente ao mundo,
desfeito em nada,
repousarei absoluto no anonimato da liberdade.

Nada é tudo,
quando deixamos de existir.


quarta-feira, 3 de agosto de 2022

O FIM DO MEU FUTURO

O melhor de mim virou passado e o meu futuro acabou no meio do o mundo. 
Não tenho mais tempo ou vontade de me perder nas coisas para inventar a mim mesmo.
Já é tarde.
Já foi meu tempo.


O VALOR COMO ILUSÃO MORAL

Nada tem valor. O valor é algo que projetamos nas coisas. 
É um sentimento, uma escolha, que aprendemos e nos assujeita como experiência moral.
Nada de humano realmente importa 

TUDO MORRE!

Até às estrelas morrem.
Então não me falem da vida ou do Ser.
O que há de mais elementar
no universo é a morte.
Viver é um processo de morte,
esquecimento e silêncio.
Tudo que existe é duvidoso.

sábado, 30 de julho de 2022

ALMA DE TERRA

Tenho fome de vazios.
Recuso o conforto do abrigo dos sedentários
Para passear na linha incerta dos abismos.

Não me contentam certezas, 
Saberes e práticas asceticas.
Prefiro um banho de lama a céu aberto.
Ser sujo de terra , de vida e de tempo.

Aprendi a feder  liberdade,
A amar os vazios vadios,
Os ermos onde dançam delirantes imanências.

Prefiro a música do grito a melodia de qualquer palavra.
Pois minha alma tem gosto de terra.








sexta-feira, 29 de julho de 2022

COSMOLOGIA NIILISTA


Nas bordas do sem tempo a  natureza sonha a matéria em movimento
Que nos transcende como objeto
Na contra mão das civilizações e das eras.

Hei de morrer inumano, sem alma,
Memória ou legado,
As vésperas de alguma definitiva catástrofe.
Pois a alma do homem é o desastre.

Hei de me desfazer no arcaico sonho do caos absoluto
Contra todas as razões e humanidades,
Como matéria, coisa, e movimento
Livre de toda ilusão de identidade ou verdade.




sábado, 23 de julho de 2022

MORTE E REVOLUÇÃO



Não importa o que você faça.
O dia acabará de qualquer jeito.
O tempo passa e logo tudo será silêncio.

Não existe eternidade,
Nenhum segredo entre o céu e a terra.
Há apenas o eterno retorno do caos.

Nenhum poder, cultura, fé,
ordem ou verdade,
Pode compensar a morte,
Desvelar o abismo e o nada
Do além do humano.

A morte é tudo e nada!
Ela é a grande mãe de todas as revoluções,
A anti face de todas as civilizações,
O fim de toda esperança e imaginação.
Tudo morre e vive para morrer!






quinta-feira, 21 de julho de 2022

PASSADO PRESENTE

A vida é sempre um passado.
Um passado que não para de crescer,
uma mudança que não para de acontecer
de baixo pra cima,
 contra o futuro da ordem vigente
e contra o tempo morto em rotinas.

Na contramão das verdades e autoridades, sonhamos com o mais profundo possível das coisas,
Que um dia há de explodir o tempo e a realidade.

MORTE E REVOLTA

A morte é irmã da revolta
Pois nela vive o passado
Em eterno presente
Toda catástrofe que adoece o tempo
E apodrece os anos.

Somos filhos da desesperança
Alimentados pelo niilismo
Contra o progresso,
O industrualismo e o iluminismo.

Somos uma legião de sem nome,
Memória ou futuro,
Que se levanta contra a falácia humanista.

Cansamos de passar fome,
De alimentar parasitas,
Para glória da ordem dos bem nascidos,
Para opulência dos rentistas
E favoritos de qualquer ditadura divina.

A morte é nossa bandeira,
Nossa revolta organizada,
Pela vida que nos roubaram
Desde o início dos tempos.








sábado, 16 de julho de 2022

CONTRA PROFECIA

A vida termina sempre
No deserto do dia seguinte
E nenhum futuro espera por nós
Na eternidade do efêmero.

Desde sempre  existimos
Entre a presença e o silêncio
Frente ao iminente triunfo
Da morte sobre o tempo e a história.

Afinal, o passado é memória viva
Além de qualquer narrativa.
Ele é feito de corpos encadiados
Além do tempo e do espaço
Transfigurados em sonhos,
mitos e ausências.

A vida termina sempre
Todos os dias.
O progresso é a morte,
 O eterno retorno é vida.
Nunca seremos modernos.





terça-feira, 12 de julho de 2022

POSTERIDADE

Daqui a pouco
Não vou saber da vida,
Da morte e da saudade.
Haverá apenas silêncio
Fora de qualquer memória.
E todos os meus mortos 
 Hão de existir de novo
Dentro do meu fim ... 


sábado, 9 de julho de 2022

ONTEM QUASE MORRI DE ENFARTO

Ainda ontem
Quase morri de enfarto.

Por sorte,
 no país ainda funcionam
Os hospitais públicos...
Apesar do Estado, dos governos,
Das curas e milagres que prometem as igrejas
Ao seu público,
Ainda se respira um pouco de saúde.


Ainda ontem
Quase morri de enfarto.
E já não sei direito
Como era estar vivo
Antes da dor no peito,
Da náusea e avesso de mundo,
Que me cuspiu da rotina.













quarta-feira, 6 de julho de 2022

A CRIANÇA MORTA

A criança morta
Enterrada na memória
Guarda todos os rostos
Dos que me amaram.

Junto dela me deito
Buscando o gosto
Dos meus passados
Mais genuínos.

Através dela
Vislumbro
meu próprio leito de morte
na memória viva de todos
os meus caminhos.



terça-feira, 5 de julho de 2022

O ÚLTIMO DIA

Hoje é o último dia
De qualquer coisa.
Nasce nas horas
Algum silêncio
Enquanto cuspimos palavras
Sobre os fatos 
Ignorando a morte
Que nos devora os atos.

Hoje é o último dia
De qualquer coisa....

segunda-feira, 20 de junho de 2022

SOBRE O ABSURDO

A gente não escolhe,
se morre de tédio, 
de angustia,
ou de susto.

Não existe livre arbitrio,
mas também desconheço destino.
O que rege o mundo
é o absurdo.

domingo, 19 de junho de 2022

ENTRE O EU E A COISA



Vivo para o aqui,
o agora e o nada.

Vivo sem saber
o que é viver,
escravizado a um querer
desnorteado e cego.

Vivo apenas por ter nascido.
Por ter sobrevivido,
apesar de tudo.

 Só por isso,
sigo lúcido e perplexo,
 Enterrado em memórias,
silêncios e anonimatos,
que dizem a mim mesmo
que eu existo.

Vivo, como todo mundo,
esperando morrer
e ver tudo desaparecer
na eternidade de um segundo.

Vivo enquanto o corpo resiste,
sobrevive e nega
sua condição natural de coisa.

Mas, no fundo,
há apenas coisas
dentro de coisas,
 formando o mundo.

O corpo é só uma coisa,
estranha e perecível
que por algum tempo vive
na imaginação de um eu
que não  existe.



sexta-feira, 17 de junho de 2022

O MUNDO ESTÁ MORRENDO II

O mundo está morrendo.
Mas ele morre desde o início  dos tempos.
Talvez a realidade seja o eco
de um universo morto
que jamais conheceremos.

quinta-feira, 16 de junho de 2022

O MUNDO ESTÁ MORRENDO

O mundo está morrendo.
Não temos tempo
para chorar os mortos.

O mundo está morrendo
e estamos quase todos mortos.
Ninguém chorará por nós.

O mundo está morrendo.
Logo, tudo será apenas
paz, esquecimento,
e silêncio. 


INSIGNIFICÂNCIA

Não importa o que você faz,
o que você fala,
o que você pensa,
o que você sente,
o que você deseja,
ou espera,
enquanto o mundo queima
entre mortes e nascimentos
e o universo ignora sua existência. 
A imaginação é tudo que  sustenta sua consciência. 
 

segunda-feira, 13 de junho de 2022

QUASE FIM DO MUNDO

Da vida restou o espanto,
o estranhamento,
a percepção do caos
no ventre da ordem estabelecida.

Restou o sentimento de morte,
a perplexidade,
o luto pelo futuro,
e a tristeza por ter nascido.

O espírito da época é um delírio, 
a vertigem de todos os valores,
o colápso das certezas de mundo.

O progresso da humanidade tem gosto de desastre.
E o tempo é uma avalanche de fatos
que nos arrastam para o abismo.

A vida já não vive mais.
 

sábado, 4 de junho de 2022

HISTÓRIA E BIOLOGIA

Os usos do mundo são exclusividade dos vivos.
Mas a realidade é trabalho dos mortos,
entre o passado e o presente.

Breve é a vida,
longo o silêncio, 
na certeza das noites e dias
e do eterno retorno
que sustenta o corpo.

Toda história da humanidade
é o apêndice
de um mudo tratado de biologia.





quinta-feira, 2 de junho de 2022

ENTRE O SILÊNCIO DA MORTE E A ANGUSTIA DA VIDA

Entre o silêncio da morte e a angustia da vida, nos debatemos contra a existência,
Negamos tudo que nos tornamos,
e abidicamos de nosso juízo
no cultivo de auto ilusões. 

Razão alguma governa o mundo
e o exercício de si é um grande despropósito.


Prisioneiros da insanidade dos hábitos,
Seguimos uns contra os outros
na contra mão de um futuro
cada vez menor.

entre o silêncio da morte e a angustia da vida
inventamos nossa miserável sorte.
.



quarta-feira, 1 de junho de 2022

A MORTE DOS OUTROS

A morte dos outros
acontece do lado de fora.
Do lado de dentro
os mortos persistem
em seu silêncio.
Pois a vida nunca se cala.

domingo, 29 de maio de 2022

TEMPOS SOMBRIOS

Há tempos sombrios nos quais a vida torna-se rasa, banal e insignificante, pois é consagrada ao conformismo, ao artificialismo subverniente aos fatos cristalizados da ditadura do tempo presente.
São tempos ocos onde germinam autoritarismos e impera a decadência das imaginações. 
Tempos em que a vida não vale a existência, nos quais seria melhor nunca ter nascido.

SEMENTES

Viver ou morrer, pouco importa,
entre o tédio da existência e o silêncio da eterna ausência.

Cada um de nós não diz o mundo,
não realiza a vida.
Pois a vida é o germinar da semente
e não a árvore que ela anuncia.
Há  sempre novas sementes
e este é o único objetivo da espécie. 
O futuro esta no eterno retorno do início de tudo.

terça-feira, 24 de maio de 2022

DADAISMO HOJE

Em tempos de pandemias e de guerras, há sempre no indeterminado de nós a anti utopia de um Cabaret Voltaire onde a civilização sucumbi apoteótica no abismo dadaista e niilista do absurdo absoluto.
Brindemos a vida da morte na morte da vida através da vida que nunca morre pois, tudo que é jaz eterno e morto vivo.
O futuro da humanidade está finalmente acabando.

segunda-feira, 23 de maio de 2022

PROGRESSO

A vida segue como uma locomotiva que luta com os trilhos,
que carrega vagãos onde dá acento
a cada indivíduo 
que leva um bilhete de  viagem
onde a morte figura como  destino.

A finitude define a paisagem
que corre e definha em janelas,
que nos devora em cada estação.
  Escutamos sempre na deriva do tempo
o eterno retorno do apito final.

A vida segue devorando seus filhos,
avança sem tregua lutando com os trilhos.
Nenhum de nós termina a viagem,
inutilmente apreciamiamos o caminho.


domingo, 22 de maio de 2022

O FUTURO COMO DEVIR

Quanto tempo demora o futuro?
Alguns dizem que ele nunca chega
enquanto as coisas mudam
e acumulamos perdas.

O futuro é o que escapa,
uma espécie de ausência,
que faz o passado crescer.

Ele é o impreciso momento
onde tudo deixa de ser.

sexta-feira, 20 de maio de 2022

O ESSENCIAL DA ANGUSTIA

O tempo inventa a angustia,
o ser que me escapa
entre sonho e memória. 

Onde querem eternidade
desvelo  finitudes
e a certeza de que tudo passa
no devir do mundo e limites da sorte.

Sei a solitude
da não identidade e o imperativo da morte
contra qualquer ilusão de realização 
ou fantasia de felicidade.

O tempo inventa a angustia,
meus dias lhe dão forma.


HÁ UMA MORTE

Há uma morte gritando dentro da minha dor, revelando a intensidade de todos os meus silêncios. 
Sim. Há uma morte.
Tudo que vive ou existe carrega dentro de si uma morte.
A morte está em todos os tempos e lugares. 

NIILISMO REBELDE

Tudo que temos é a solidão, 
o desabrigo de existir, 
e a morte como destino.

Tudo que fazemos
é construir dia após dia
nosso próprio fim.

Nada temos a ganhar ou perder.
Isso justifica qualquer transgressão  e ousadia.

sexta-feira, 13 de maio de 2022

O QUASE DA VIDA

Toda manhã
a vida quase amanhece
no morrer diário
que define a gente.

Vida que anda sempre a espreita
no sem rosto da natureza,
na intuição dos dias
contra a extinção da espécie. 

Vida que nasce,
que morre,
e nunca é vivida
no mundo que enterra a gente.

quarta-feira, 11 de maio de 2022

A EXISTÊNCIA COMO PARADOXO

A existência que diz
estes versos
já não  é humana,
muito menos concreta,
no tempo e no espaço 
de qualquer vida.

É uma presença 
que se faz
do outro lado do pensamento,
dentro de algum sonho
que me sonha
traduzindo 
 incertezas de mundo.

Há existências que realizam o impossível, 
que desafiam a realidade,
antecipando a morte
e superando toda ilusão 
de humanidade.

Existir é paradóxo.
Só existo na intuição 
de que não existo,
que através de mim
se faz outra coisa
no inderteminado espaço  vivo do corpo
que persiste entre o eu e o mundo.
Além de toda percepção,
Se existo não morro,
e morro porque existo.


sábado, 7 de maio de 2022

MORTO VIVO

Meu hoje é a sombra dos meus passados.

Existo no que se foi
antecipando a morte
em meus passos.

Por isso
Não tenho futuro.
Nem me reconheço 
no tempo presente.

Parte de mim
dorme entre os meus mortos.
Outra parte se desfaz do mundo.











sexta-feira, 6 de maio de 2022

O ADEUS COMO PREMISSA

Parte de mim é saudade.
Outra despedida.

A vida é um por do sol constante
em um céu de melancolias.

Há um adeus latente
em cada encontro
que nos define a vida.

Estamos sempre de partida.



quinta-feira, 5 de maio de 2022

DO OUTRO LADO DO MUNDO

A dor é rara.
Mas a angústia é constante.
Funda nos dias uma agonia,
o desassossego como um mal estar permanente.

Agora mesmo quero estar 
do outro lado do mundo.
Saber lugares sem nome
onde em nada me reconheço.

As vezes,
me sinto aqui do outro lado do mundo,
na incerteza de tudo aquilo
que se apresenta como familiar.

A angustia muda as coisas.

quarta-feira, 27 de abril de 2022

A VIDA COMO SILÊNCIO

Morrer define o silêncio de uma vida inteira. Mas a própria vida não passa de uma paradoxal modalidade de silêncio, na contramão do devir biológico,  da multiplicidade e replicação do corpo vivo. A vida é anonimato e silêncio. 

sábado, 23 de abril de 2022

SOBRE NIILISMO HOJE

É certo que existem vários modos de niilismo. O cristianismo é um deles ( o mais perverso!). Mas é justamente contra ele que se afirma o niilismo mais autêntico e subversivo.
 Aquele que faz da vida experiência do corpo, e da imaginação criação de mundos.
Ser livre é descobrir-se niilista na fatalidade e, no não sentido da existência, sorrindo por não precisar de respostas. Simples assim. Ser niilista é viver sem o imperativo doentia de criar sentido pra isso. É LIVRAR-SE DO PESO DA RAZÃO  E DO SER!!!

terça-feira, 19 de abril de 2022

UM DIA EU SUMO DO MUNDO

Um dia
eu sumo do mundo,
da vida e do futuro,
para compor o infinito vazio do universo.

Serei nada
entre meus mortos
e os inacidos,
que nunca souberam do tempo.

Vou me perder de vez no silêncio,
além de todo desejo e sentimento.

Um dia eu sumo do mundo
Para ser assignificante
na deserção dos meus átomos 
e moléculas
através da natureza que nos supera.




quinta-feira, 14 de abril de 2022

VIDA & MORTE

Uma vez morto,
passou do dominio privado da existência 
ao domínio comum do esquecimento.

O mundo seguiu,
como sempre,
indiferente a si mesmo,
e inconsciente de tudo
que em torno dele existiu.

A vida sempre nova
sustenta os corpos.
Mas eles nunca são os mesmos,
Pois cada corpo tem seu tempo,
e a matéria é movimento,
no arranjo incerto de cada rosto.
Sempre existem corpos.
Como sempre existirão os mortos.




quarta-feira, 13 de abril de 2022

RUMO AO FIM DO MUNDO

Não somos dignos de qualquer esperança.
Conformados e confinados aos fatos seguimos tranquilos
em direção a próxima catástrofe,
indiferentes as pandemias, guerras, ou
as dores de Gaia.

Celebramos osgulhosos o desastroso progresso da humanidade.

O fim do mundo será transmitido pela televisão
como o maior espetáculo 
da história das civilizações. 
Alguns já sonham com os lucros.

quinta-feira, 7 de abril de 2022

DESTINO

A vida existe para o morrer.
Siga seu caminho,
sofra a sua sorte,
e não espere que a existência 
faça sentido.
Tudo vai perecer.

CREPÚSCULO

Todos os dias o mesmo crepúsculo
no acúmulo de perdas e melancolias.

Cresce sempre um silêncio 
dentro da vida
através do tempo
que nos escapa.

Todos os dias as coisas mudam
persistindo em rotinas
enquanto a noite cresce dentro de cada um de nós.

terça-feira, 5 de abril de 2022

O CONDENADO

Estou condenado a existir,
apesar de todas as dores do mundo.

Estou conformado a ter que sempre falar e agir
como se meus atos
tocassem,
mesmo de leve,
a pele quente da eternidade.

Como se a vida fizesse sentido,
e fossem sólidos e dignos
meus modestos e pessoais objetivos vitais,
afetos e sonhos de felicidade.

Fui educado para acreditar no mundo,
confiar em conceitos,
discursos e verdades,
apostar no futuro da humanidade,
e aplaudir o infinito,
a civilização, os livros, 
e toda forma de insana invenção humana
até o limite de nossa desmedida vaidade.

Sou apenas mais uma formiga 
na vida coletiva do formigueiro.
E o formigueiro é tudo que para mim existe até o limite da imaginação de um universo finito. 

Estou condenado a servir a qualquer ideal vazio de sociedade
esperando encontrar meu próprio rosto
no espelho fosco do mundo 
antes que me surpreenda algum desastre.








segunda-feira, 4 de abril de 2022

INSIGNIFICÂNCIA

Tão vasto é o tempo,
o mundo, e a existência, 
que quase não me percebo
na vida.

Todo meu passado,
presente e futuro,
pensamentos,
e sentimentos,
são menos que nada
dentro da experiência humana.

Mas é justamente a insignificância
a medida da minha liberdade.
Sou livre apenas onde não sou importante
e nada me importa.



sábado, 2 de abril de 2022

O TEMPO E O NADA

Quanto tempo, afinal,
ainda me resta?
Talvez, alguns anos,
semanas, ou dias.
Sobre isso
jamais terei
nenhuma certeza.
O que não importa.
Pois o tempo não conta
depois do fim.
Tudo é nulo na ausência.
Até mesmo a lembrança.
O nada é justamente
esta ausência
que nos apaga
no absoluto  silêncio
que nivela  passado, presente, e futuro,
o fim, o início, e o meio.
Morrer é superar a si mesmo.


A UTOPIA DE SER

Ser não é uma condição. 
Mas uma busca,
quase uma utopia.
Já que nada perdura
e a vida é incerteza
e mudança. 

Nada tem alma
onde tudo escapa.
Ser é apenas
um sonho de infância,
um querer
que nos transforma
contra o nada que nos devora.


sexta-feira, 25 de março de 2022

NULIDADE

Na medida que envelheço minha percepção da realidade é mais definida por um sentimento de nulidade inerente a existência. 
A vida me parece um trabalho inútil, um constante esforço pela sobrevivência cuja consumação é seu próprio fracasso.
A natureza que nos faz ser como espécue, em termos de teleologia humana só pode ser definida como perversa. Por isso qualquer conhecimento positivo da realidade me parece, na melhor das hipóteses, demasiadamente ridículo.

MUDAR A MORTE

Queria ter o poder de mudar a morte daqueles que amei, faze-los viver até o ponto final e natural de suas vidas.
Morrer é quase sempre um ponto de inacabamento, de silêncios, onde quase ninguém se despede.

MORRO TODOS OS DIAS

Morro ao fim de cada dia de vida.
Morro porque existo,
porque morrer é o que torna possível 
ainda viver
na contramão do tempo
e dos atos.

quarta-feira, 23 de março de 2022

QUANDO NADA IMPORTA

Pouco importa qual será minha última palavra,
meu último pensamento,
minha última refeição,
ou a roupa que cobrirá
meu cadaver
no dia do meu enterro.

Não importa nada.
Nem mesmo a vida
que eu levava,
as pessoas que eu amava,
ou o que deixei como herança. 

Tudo em meu desaparecimento é matéria para o esquecimento.


terça-feira, 22 de março de 2022

INTROSPECÇÃO

Gosto da noite,
do frio, e do sono
para abraçar meus silêncios,
meus mortos,
e me cobrir com as cinzas
do tempo.

Gosto de me sentir sozinho,
abandonado até por mim mesmo,
escondido no escuro dos meus pensamentos.



quarta-feira, 16 de março de 2022

CONTRA A ETERNIDADE


Toda eternidade não vale um instante de devir e finitude.
Ela é a ilusão dos fracos,
dos que não suportam
a realidade da morte
e negam a perenidade da vida
pela ilusão do infinito.
Recuso tudo que se concebe eterno,
que recusa um fim,
que ao se fazer permanente 
nega tudo que existe.




sábado, 12 de março de 2022

ECO DE MORTE

Há um eco de morte em todos os meus atos de vida,
um sono que assómbra o exercício da consciência, 
um mal estar de estar vivo,
um limite da ordem,
uma vocação do ser para o caos 
o absurdo.

sexta-feira, 11 de março de 2022

A MORTE QUE VEM

Ele só esperava
por uma morte tranquila,
por um silêncio 
não pertubado
pela violência 
de qualquer ruído
ou juizo de.

segunda-feira, 7 de março de 2022

O FIM

O fim é sempre um silêncio sem ponto final,
um inacabamento.

O fim é o único acontecimento
que nunca termina.
É quando tudo transcende o limite,
e nada mais é.



O DES- SENTIDO DA MORTALIDADE

A mortalidade é um estado virtual
que escancara a angustia,
o medo, a impotência,
a solidão, 
e o niilismo,
que no avesso de nós
desvela o mundo
como tudo aquilo que nos ultrapassa
na indiferença da natureza.

A mortalidade é nosso estado permanente de incerteza e imprecisão
onde o próprio viver nos escapa,
onde os deuses nos contemplam mortais.
.


PERSISTÊNCIA

De mal a pior
seguimos todos bem
a correr contra o vento,
contra o mundo,
em busca da vida
que não foi.

Amanhã nos espera
o pior de nosso passado comum.
Todos os monstros guardados no armário da razão moderna
hão de fugir e dar uma festa.

Seremos depois de amanhã
os sobreviventes de uma terra deserta.

Mas de mal a pior seguiremos,
até o limite do caminho,
e fartos do mundo.

MORTO VIVO

Sou parte das coisas que morrem,
que intensamente gritam um passado
constantemente renovado
pela lembrança dos mortos. 

Meu futuro veste luto,
saudades e silêncios
que aos poucos me devoram.
 


domingo, 6 de março de 2022

SOBRE O MUNDO QUE VIRÁ

Deixe a esperança morrer
e o desespero inventar novos mundos.
O futuro é filho da necessidade
e não um capricho de nossa vontade. 
Toda mudança nasce da vertigem da intuição  de caos e abismos.

sexta-feira, 4 de março de 2022

GEOGRAFIA DA MORTE

Os lugares morrem com seus habitantes.
Mas renascem sempre feridos por novas paisagens,
outras vidas,
que reinventam a cidade e os dias.

Há muitos lugares que não me conhecem mais,
que me fazem sentir entre meus mortos
enterrado em tanta memória
de paisagens perdidas.

A MORTE E O NADA

A morte é sempre superada pelo esquecimento, pelo desaparecimento das épocas, pelo silêncio que define o passar do tempo.
O nada é a grande ausência de nós mesmos no vazio da eternidade. Nele reina absoluto, o mais profundo esquecimento. 

sábado, 26 de fevereiro de 2022

CONTRA UTOPIA NIILISTA

É pelo nada que nascemos, vivemos,
morremos,
e lutamos contra todas as tragédias
e misérias humanas;
que desprezamos todos os valores, costumes,
verdades e autoridades
de qualquer fé totalitária e insana.

Sabemos que no final,
tudo será nada
na paz perpétua
de um absoluto silêncio
escrito no avesso do absurdo
que nos dilascera a alma.

Não precisamos de esperanças...

TEMPO TRISTE

Os mortos persistem
no não tempo dos vivos.
A terra é tudo que existe
na perenidade dos corpos
que descobrem o mar.
Só há liberdade nas madrugadas tristes,
nas infâncias despedaçadas, desesperadas,
que assombram nossos futuros virgens.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

UMA MORTE JUSTA

Não quero morrer na guerra,
de peste,
ou como protagonista anônimo de alguma tragédia absurda.

Quero morrer de tempo,
tristeza, e de cansaço,
Porque sou niilista e filho da terra.

Quero morrer porque a morte
é bela e liberta,
e não porque fui vítima da brutalidade de  nossa maldita humanidade.

NÃO ME MATEM NA GUERRA

Espero sobreviver tempo suficiente ao mundo para sofrer serenamente a arte de me desfazer.

Que a morte me seja serena, natural processo de decomposição da matéria,
 e não violênta expressão da brutalidade do mundo.

Que eu não morra atônico em qualquer canto de um campo de guerra.
Há muitas guerras ocultas
em nosso triste cotidiano.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

O DIA QUE NÃO FOI

Não me lembro do dia em que nasci.
Sei que não comecei a existir
no dia em que nasci
e, tantos anos depois,
ainda estou esperando o dia
de começar a viver
antes de morrer.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

APRENDER A MORRER

Aos poucos,
aprendi a morrer
com a morte dos outros
sobrevivendo a mim mesmo.

Desisti de ter esperanças,
colecionei silêncios,
até alcançar o consolo
de uma indiferença radical.

DA PALAVRA AO SILÊNCIO

Cada palavra é um passo para o silêncio,
a promessa, sempre adiada,
de um ponto final,
do inevitável triunfo do fundo branco da folha
sobre a ferida da minha escrita,
sobre minha busca infinita  pelo sentido último das coisas,
pelo significado impossível e definitivo da vida.

Cada palavra é sopro,
alma desfeita,
de uma verdade quebrada
pela rigidez da combinação de letras abstratas e apavoradas
esoalhadas pelo corpo da folha.





sábado, 19 de fevereiro de 2022

AFORISMA NATURAL



A morte é a mais radical expressão de natureza contra nossa ilusão de humanidade.
tudo que é vivo e  humano me é estranho e provisório na ilusão do tempo e do espaço.


sábado, 12 de fevereiro de 2022

OS DESAFIOS DO ENVELHECIMENTO

A percepção do evelhecimento, das mudanças que o tempo impõe a experiência de nosso próprio corpo, despertam  um misto de perplexidade e resignação. Não é somente nosso status social que muda com a velhice. Muda também nossa senaibilidade, nosso modo de envolvimento com a vida. Envelhecer nos faz naturalmente niilistas, um pouco a parte do mundo, e mais voltados para nossa finitude. Afinal, o declínio de nossas faculdades e percepção, nos leva cada vez mais a condição de um ponto cego na paisagem humana. Tal processo de despersonalização nos aproxima dos instintos primordias, de um modo de vida mais natural e despido dos rigores da civilização.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

O DESAPARECIMENTO DE SI

Desaparecer de si,
apagar-se em seus
próprios vestigios,
calar-se de mundo,
transpor o limite do fim.
Eis o único acontecimento íntimo
de qualquer biografia que sucumbe ao próprio esquecimento.

sábado, 5 de fevereiro de 2022

CORPO & PEDRA

Qualquer momento
abriga o silêncio,
a  ausência de mundo,
palavra, e argumento.

Qualquer momento vazio,
onde expectativas,
necessidades, e vontades,
desaparecem na paisagem,
e o corpo se deixa inerte,
entre o sonho e a vigilia,
desfeito em outra realidade.

A paz é possivel
em algum estado intermediario
entre o corpo e a pedra.





quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

MORTOS VIVOS

Quem vive para sobreviver não passa de um morto vivo,
de um corpo perdido no mundo,
doente de natureza,
vazio de si mesmo.
Somos uma sociedade
de mortos vivos.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

ANTROPOCENO

 

Que ninguém se engane.

A vida entre nós não vive

nos simulacros midiáticos

do absurdo da informação absoluta.

Enquanto isso,

a civilização apodrece,

e o planeta resiste

contra tudo que é humano.


São tempos pós históricos

onde lamentamos

todo nosso suposto progresso

e não há futuro

sem a transcendência da humanidade

na reinvenção da natureza.


ANGUSTIA EXISTÊNCIALISTA

 

Existo entre o medo e o desejo.

Quase não vivo

sobrevivendo à sombra da morte,

enterrado no instante de agora,

entre o passado e o nada,

que me define precariamente a vida.


Identidade alguma sustenta meu rosto,

diante da angustia de ter nascido

entre o medo e o desejo.


domingo, 30 de janeiro de 2022

SAUDOSISMO

O tempo passou,
tudo mudou,
e a vida se tornou saudade.
A memória é a única realidade
que ainda sustenta
o vazio dos dias,
e a melancolia dos fatos.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

A RELATIVIDADE REATIVA DA VIDA

Nem todos os esquecidos estão mortos.
Nem todos os que vivem realizam a vida.
Viver não cabe mais na existência dos homens.
Tornou-se um segredo transfiguando o óbvio. 
Viver é relativo e reativo.


CONDIÇÃO HUMANA

Entre a ilusão da vida e a realidade do nada e da morte, existimos  resistindo ao mundo
e sucumbindo ao tempo.

 Cada biografia é um instante de relâmpago.
Um nada dentro de um céu inquieto,
sempre grávido de tempestades

domingo, 16 de janeiro de 2022

A SOBERANIA DA MORTE

Para a morte, enquanto processo de ser e não ser, que desdiz o viver, não  há diferença  entre um virus e um organismo humano. Ambos estão  condenados ao desaparecimento, pelo simples devir biológico  de toda forma de vida até hoje conhecida.
Já dizia Manoel Bandeira que,
"A existência é uma aventura, de tal modo inconsequente."

sábado, 15 de janeiro de 2022

SOBRE MORRER

A morte é sempre surpreendente. Principalmente quando aguardada. Não  há como fugir a angustia de inacabamento que define o ponto final da existência. Nada nos prepara para isso. Nem mesmo a ingênua esperança  de qualquer pós vida.

NOSTALGIA E METAFÍSICA

Tudo em mim é passado.
Não  careço de futuro,
nem quero saber
da fluidez do presente.

Tudo na minha vida
já aconteceu
e tenho habitado entre os mortos
contemplando o por do sol.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

SOBREVIVÊNCIA

Sobreviver para sofrer o nada,
para ser apêndice da sociedade,
um borrão no tempo,
no espaço, 
ou, no final, na memória de alguém.

Sobreviver para ser ninguém,
existir sem a dignidade natural
que qualquer animal tem.

Sobreviver onde a vida não vive,
onde tudo é impossível,
e nos fere uma dor abstrata. 


quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

PLANEJANDO A VIDA

Tinha a meta impossivel
de regressar a casa antiga,
desaparecer em passados,
retomar a infância,
apagar o futuro,
e morrer feliz
antes do meio dia.

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

A VIDA QUE ESCAPA

Viver já não me diz respeito.
É assunto para os outros
em suas pequenas catástrofes cotidianas,
para os grandes impasses do mundo civilizado,
onde minha existência não cabe.
Afinal, sou apenas o intervalo entre dois silêncios.
A vida segue do meu lado de fora.


segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

CULTO AOS MORTOS



Vazio de mundo,
sou matéria dos outros
no tempo comum de todos. 

Tudo em meu viver
é despedida,
de urgente passado
que brilha como estrela morta
na ilusão do infinito.

Dentro de mim
guardo
a vida perdida 
dos partiram....

LUTO EXISTÊNCIAL

Aprendi a morrer aos poucos
doente da morte dos outros.
Sei ser na ausência dos que se foram,
até o limite de mim mesmo.
Pois viver já não importa
onde só resta o luto
e tudo é a presença dos que se foram.


terça-feira, 4 de janeiro de 2022

A ARTE DE MORRER

A morte não é um acontecimento, é um processo que corre dentro de nós o tempo todo. Estamos todos morrendo, e é isso que define a vida como movimento de ser e não ser na materialidade do corpo.