sábado, 29 de dezembro de 2018

O ÚLTIMO ANO

Era o último dia do ano.
Nada havia a comemorar.
Era o último dia do resto de toda a vida.
O fim quase dobrava a esquina.
Ninguém tinha algo a dizer.
É sempre muito triste no fim.
Era o último de todos anos,
Mas ninguém ainda sabia...
Mesmo assim tudo tinha gosto de fim.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

PENSAR É UM TRABALHO DE MORTE

É impossível compreender a vida na curta duração de uma banal existência. Por isso a atividade do pensamento é uma experiência coletiva dentro da qual cada pensador desaparece na arte de se perder de si mesmo.

Pensar é um trabalho de morte.

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

SOBRE O TEMPO VIVIDO

É melhor nunca ter nascido do que envelhecer e morrer, do que sofrer o perecer de uma época, das pessoas e experiências que um dia nos definiram o mundo como experiência de um si mesmo.

Quem eu sou é tudo aquilo que se perdeu e em mim se cala para sempre, intransmissível a qualquer outra pessoa.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

O SILÊNCIO

O silêncio não é aquilo sobre o que se cala. Ele é o vazio que escapa a linguagem como ato de pensamento e ação.

O silêncio é um afeto que nos move e preenche como um agir de morte. Ele é sempre um acontecimento que escapa a compreensão.

O MORRER DOS DIAS


Antigamente os dias tinham gosto de dia.
Agora tem um sabor de calendário.
O tempo perdeu substancia.
Não é mais experiência.
Não se converte em lembrança.
Tudo agora passa para sempre.
Não há permanências.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

CAMINHANTE

Caminho para um final sem fim,
Para a morte que há em mim.
Mas por enquanto sou presença,
Voz e ato em movimento.
Sou um rosto,
Um momento de humanidade
Perdido no tempo do mundo.
Amanhã seria nada.
E isso é tudo.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

OS FARRAPOS DO PASSADO


Inventariamos os farrapos dos fatos passados.
Neles, o insólito e o efêmero emergem como irmãos siameses.
Evitam sentidos e reconstruções.
Não qualificam qualquer ontem,
Não permitem interpretações.
Não passam de testemunhas mudas
Daquilo que não é mais,
Que não se faz presente,
Nem mesmo como lembrança.
Não há neles qualquer vestígio,
Qualquer forma de virtual sobrevivência.
Os farrapos dos fatos tem cheiro de morte.

DESPEDIDA DO EMPREGO


Percebo que não sou mais aquele que chegou aqui. Não me reconheço em meus atos e nada aconteceu. Mas desde algum momento impreciso tudo já é outra coisa dentro de mim. Os sentimentos escrevem minhas vivências, que cavalgam meus pensamentos, são outros.

A sensibilidade muda com as coisas e as coisas mudam a sensibilidade até que nada mais seja reconhecível. É assim que o tempo passa na sucessão de cenários, oportunidades e reconstruções.

Ontem eu era aquele que aqui chegava como um estranho. Hoje saio estranhando a mim mesmo. Não é que o lugar tenha me transformado. Nada aprendi aqui que no fundo eu já não soubesse. Apenas estou diferente e o próprio lugar não é o mesmo. Por isso saio paradoxalmente do mesmo modo como cheguei. Isso faz parte desta incerta viagem que é a vida.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

O ABSOLUTO E A MORTE

O futuro é a morte. Vivemos com uma marca fatal escrita no corpo. Um M de morte. Cada nascimento é o início de um fim. E é só isso que define a vida. 

O esquecimento superará a  ausência. Não importa a importância dos seus atos e vivências. 

A morte é a melhor definição do absoluto.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

SOBRE A INDIFERENÇA

Tudo se resume em nascer e morrer. A vida em si mesma é um acontecimento coletivo e impessoal. Algo que nos escapa em suas consequências mais radicais. Vivos ou mortos somos definidos por certa invisibilidade. Assim como os outros nos escapam na percepção cotidiana das coisas, escapamos a todos como viventes. A vida acontece e sempre continua apesar de cada um de nós. Mas essa é a verdadeira magia, é o que realmente nos une....

VIVER É GRITO

Cedo ou tarde tudo desaba sobre nós.
A vida não resiste.
Ela é menor do que os afetos que nos movem.
Por isso tudo é urgente,
Definitivo e inacabado.
Viver é grito!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

O CORPO E A VIDA

O corpo não conhece a morte. Ele apenas se gasta e perece. A morte é obra da consciência que reduz a vida a um valor, que a transforma em um conceito vazio, é tenta impor propósitos a nossa existência.

O corpo só conhece a vida em sua imersão no mundo.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

APENAS OS MORTOS NÃO ENVELHECEM

Apenas os mortos não envelhecem.
Os jovens não escapam a velhice.
Pois nascem em um mundo de velhos.
Apenas os mortos...
Não há silêncio nos cemitérios.
Apenas restos de vidas interrompidas.
Gritos de memórias perdidas.
Não há vida no mundo.
Tudo é velho.
Apenas os mortos não envelhecem.

domingo, 25 de novembro de 2018

COORDENADAS EXISTENCIAIS

O fim e o início são dois pontos equidistantes entre os quais existe um infinito. 

Entre eles há um percurso aberto por um espaço impreciso através do qual o tempo se apresenta como geografia.

Viver é cartógrafos o caminho entre estes dois pontos que não nos levam a lugar nenhum.

sábado, 24 de novembro de 2018

O CORPO E O TEMPO

O corpo sabe o tempo como uma incurável doença que nos consome. 

O tempo não tem realidade. Mas perpassa tudo que existe como um movimento de toda matéria viva é inanimado. Dele dependem todos os fatos e fenômenos, todas as nossas urgências e silêncios. 

O tempo é aquela dimensão onde não somos, onde nos definimos sempre como um terceiro, um outro e um estranho. Afetado pelo tempo o corpo nunca é o mesmo.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

SABEDORIA DA MORTE: CORPO E FELICIDADE

Uma sabedoria da morte atenta contra as nossas ilusões ou convenções de felicidade como plena realização pessoal ou social. 

Antes de tudo o que o importa é a potência e vigor do corpo.  Mas contra este elementar objetivo  se contrapõe o efeito do tempo e a finitude como expressão de nossa própria existência. 
Para uma sabedoria da morte alegria e tristeza são como duas inocentes crianças que sempre andam juntas brincando com nossa vontade. Onde há alegria deve existir tristeza e vice versa. Não existe por isso constância em qualquer pretenso estado de felicidade como não há corpo que não conheça limites ou doenças. Por mais vigoroso que seja.

O MOVIMENTO DE NÃO SER



Não é apenas o momento seguinte.
Não é somente o lado de fora,
Muito menos o horizonte,
O sempre a diante.
Saímos também do lado de dentro.

O por vir que nos faz movimento
Não é apenas um tempo e um espaço.
É basicamente um estado de existência.
E é dele que sempre estamos fugindo
Dentro do acontecer de todas as outras fugas,
De todos os passos, caminhos e buscas.

Estamos fugindo essencialmente da grande prisão do Ser.


segunda-feira, 19 de novembro de 2018

VELHICE

Velho é sempre o outro.
É este corpo que nega o eu.
Velho é o passado, o futuro
E o presente
De quem ainda não morreu.
Velho é o tempo
Que nos atravessa indiferente.
Velho é o silêncio.

DERIVA

Desconforto consigo mesmo é um sinal de inquietude e inadaptação a vida social. Eis um dos grandes males da contemporaneidade. 
Há um mal estar latente em relação a existência comum. Tudo, afinal, é pura incerteza. Os códigos e dispositivos culturais já não nos proporcionam identidade. Estamos todos fora do lugar, desterritoriarizados. Vivemos a deriva.

DESENCANTO

Existe sempre o risco de um desencontro com a vida. Ele é sutil. Quase impercetível. Mas ocorre com todo mundo. É quando começamos a envelhecer. Não depende da idade. É um acontecimento abstrato que nos faz padecer da vida como se a existência fosse um mal estar. Pode ser confundido com melancolia ou depressão. Mas é algo mais profundo. Uma meta física do desencanto.

PSICOLOGIA DA ENFERMIDADE

A doença torna o corpo mais do que real. O limite nos redefine como gente. Nos surpreendemos com a fragilidade de nossa humana condição.  Estar doente não é apenas ser dependente de cuidados. É perder a ilusão de si mesmo como sujeito. A existência dói quando não nos pertence, quando a própria vontade de viver definha na condição de enfermo.

sábado, 17 de novembro de 2018

O NÃO SENTIDO DA VIDA

A vida ofusca,
A existência embriaga.
Viver tem gosto de caos.
Sobrevivemos para morrer.
Meus atos são inócuos
E meu futuro é a morte.
Por isso tenho preguiça.
Toda realidade do mundo
É a inutilidade deste momento
No qual involuntáriamente respiro.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

O INSTANTE E O MOMENTO

Aquilo que escapa ao instante é o que sempre se perpetua como momento. É onde surgimos e desaparecemos no efêmero. É onde nos tornamos um ser para não ser. 

Vida e morte são dois momentos coincidentes deste grande engano que é a existência, a biologia e a natureza.

Entre o tempo e a matéria existe apenas a ilusão da consciência, do dizer das coisas, contra o instante e o momento.

terça-feira, 13 de novembro de 2018

ESQUEÇA O MOMENTO.

De nada vale cultivar o momento. Tudo está fadado ao desaparecimento e ao esquecimento. Não há nada que escape 
A ditadura do tempo. Apenas a nadificação nos define.

Esqueça o momento.
Nada é importante.

MENTE E CORPO

Não há idade para morte. Morre-se velho, jovem e, até mesmo, antes de nascer. Morre-se a todo instante e de múltiplas formas. 

O corpo é mais forte do que a mente na qualidade de perecer. A mente não passa de uma ilusão do corpo que se desfaz ao morrer.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

UM POUCO DE NOSTALGIA

Bem me lembro de quando eu era apenas um garoto. Tinha a vida inteira pela frente, muitos me diziam. Agora quase todo mundo que conheci naquela época alegre de plena juventude está morta. Eu mesmo não passo de um resto de mim mesmo. Nenhum traço da criança que fui um dia sobreviveu ao passar dos anos. O mundo mudou e a vida já não é a mesma. Sou um poço de nostalgias. Mas os jovens ainda dominam o mundo. Eu apenas não estou mais entre eles. Ada disso possui a menor importância.

SOBRE O MORRER DE TODOS NÓS


A morte de um ente querido sempre subtrai um pouco de nossas vidas. Através dela provamos o gosto de nossa própria finitude. 

Desta forma o  morrer de alguém se faz um acontecimento coletivo, afeta a existência que a todos nós perpassa. A morte é onipresente, onipotente e indiferente. É impossível dize-la, sabe-la. Mas ela está sempre nos envolvendo, nos reservando um toque de silêncio como marca definidora da própria vida. Se hoje morreu fulano é porque estou predestinado a morrer e , assim, cada um de nós participa deste permanente evento que é a morte. 

A morte está dada desde o dia de nosso nascimento. A morte é o que nos faz ser.

domingo, 11 de novembro de 2018

A CONSCIÊNCIA DA VIDA E DA MORTE

A consciência de mim mesmo é tão somente consciência de um mundo que me consome.

É o mundo que existe e me contém como um efeito menor de seu acontecimento. Sou perecível é acidental, mas carrego em minha singularidade todas as possibilidades desta realidade que me transcende e esclarece. Sou tudo e nada ao mesmo tempo.
 
A consciência de mim mesmo é o saber paradoxal da morte como essência deste nada que é  a vida. O inorgânico é o fundamento do orgânico nos abismos da biologia.

sábado, 10 de novembro de 2018

ESTAR VIVO

Estou vivo e isso não significa nada. Amanhã será outro dia e eu talvez não mais exista. E tudo continuará sendo como é onde agora minha existência acrescenta.

Estar vivo? Ninguém existirá no meu lugar. Mas a morte ensina que não há lugar que nos defina.
Estamos vivos...que bela porcaria!

terça-feira, 6 de novembro de 2018

NIILISMO É EXISTÊNCIA

Vivemos apenas para desaparecer. Viver não passa de um fracasso ontológico. Mas é isso que torna a existência interessante. Ela não possui um propósito individual. É um acidente coletivo do qual somos todos impotentes vítimas. 

Nos inventamos como singularidades na exata medida em que recusamos as inércia de nossa condição social e o vazio das convenções gregarias.

Inventar uma biografia depende de nossa capacidade para fugir ao ego como matriz social. Indiferença e desinteresse norteiam uma vida autêntica e sem propósitos.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

O ENIGMA DO TEMPO



O tempo é múltiplo mais do que relativo. Passa de forma diferente para cada um de nós como não é o mesmo para as coisas inanimadas. Podemos mesmo supor que ele não existe em suas diferentes intensidades e efeitos como uma entidade coesa, como um dado homogêneo de nossa percepção ou como um dado supostamente objetivo, tal como nos sugerem os sentidos. O tempo é composto e só se torna plenamente ele mesmo quando finda, quando se faz em um só momento passado e futuro através do presente como uma ausência (potência) que não se confunde como um momento do que já foi e do que será.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

LEMBRANÇA DE ALGUEM QUE SE PERDEU DA VIDA

Minha perplexidade diante do fato de sua inexistência após anos de intenso convívio não conhece limites. Como é possível que sua realidade tenha se desfeito? Não posso aceitar sua ausência. Minha memória depõe contra o seu silêncio. Maldito seja o tempo que nos arrancou um do outro. Sua morte será sempre para mim a constatação dolorosa de algo inaceitável.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

VESTÍGIOS


Deixo nas coisas o sinal da minha ausência
Pois vivo para inventar vestígios vagos de mim mesmo
Como se minha existência fizesse sentido.
 Sou a singularidade improvável de um corpo que existe como pensamento.

Há nisso algo de irrepresentável,
Existe em tudo uma indeterminação que escapa,
Fazendo o mundo um acontecimento meu
Quando para o mundo não passo de virtual exemplo de humanidade.

Mas deixo nas coisas vestígios...
Futuramente eles dirão meu silêncio.

DIA DOS MORTOS


Nossos mortos estão sempre presentes na indiferença do silêncio que em  tudo penetra clandestino. 

Eles antecipam nosso morrer como onipresente definhar que nos ensina o tempo. 

Todas as urgências são ilusórias onde a consciência aprende o morrer.

Há muita filosofia transbordando no dia de finados.

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

O DESTINO DOS MEUS RESTOS


Os restos da minha existência devem ser recolhidos sem cerimônia. Apaguem todos os meus vestígios. Sei que ninguém seguira meus passos. Tudo que fiz ficará perdido. Então que seja rápido e limpo, o recolhimento dos meus trapos e posses íntimas. Depois da morte tudo que fomos se reduz a sucata, um incômodo. É preciso que outros ocupem o espaço e continuem a vida que acontece sem nunca saber da gente.

Recolham do mundo tudo aquilo que fui um dia....

A BANALIDADE DA MORTE



Em uma hora qualquer,
Aleatoriamente,
Posso morrer repentinamente.
Ao mundo e a realidade será indiferente.
Um insignificante e banal fato biológico.
Nascimentos e falecimentos acontecem o tempo todo.
Nunca paramos para pensar nisso.
Todas as horas alguém morre
E o mundo continua sendo o mundo.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

EXISTÊNCIA E NADIFICAÇÃO


Não ter mais voz e nem mesmo existência pode nos parecer algo assustador. Somos educados para subjetividade, para estar sempre em presença do mundo. Prezamos demasiadamente o corpo em movimento e imersões. Chamam isso de instinto de sobrevivência. Mas no fundo somos carentes desta existência que nos consome e não nos damos conta que através de tudo aquilo que nos afeta, que desejamos, consumamos o nada, nos consumimos.

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

O NADA COMO ORIGEM E DESTINO

Estou convencido de que não é propriamente o medo  da morte que afeta a maioria das pessoas, mas o receio de serem totalmente esquecidas. Afinal, o fato de uma vida inteira se perder, não deixar vestígios, é um atentado a nossa vaidade.

A morte é a maior prova de nossa insignificância como indivíduos.  Estamos condenados ao nada e ao silêncio. A existência nos é indiferente. E isso é tudo. 

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

A DECADÊNCIA DO DIÁLOGO



Sobre o que ainda podemos conversar sem parecer dois idiotas? São tantos os lugares comuns, as maneiras comuns, os pensamentos comuns, os tédios comuns e os conhecimentos banais, que já não há  discurso que não seja eco, que não seja oco, ou que se invente cópia.  Estamos saturados de enunciados e discursos.  Já estamos cansados de falar tanto para dizer o mínimo. Temos passado por cima de tudo aquilo que não entendemos ou discordamos.  O mundo não cabe em nossas cabeças. Nem mesmo queremos o mundo, mas o pequeno plano domestico onde nos abrigamos de tudo. Nossa existência é efêmera e trivial. Desde já estamos condenados ao esquecimento.  

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

NÃO TENTE ENTENDER A VIDA


Os fatos não cabem em nossas interpretações.
Sempre avaliamos a vida segundo os limites de nosso olhar.
Por isso não me pergunte:
Para onde segue a vida?
Ela muda em todas as direções
E ignora todas as interpretações.
Apenas siga em frente.
Não tenha medo do horizonte.
Qualquer hora destas
Você vai, simplesmente,
Desaparecer do caminho.



DILEMAS DE UM MORIBUNDO


O que há de verdade em mim é esta fragilidade.
Sou feito hoje  de incertezas e duvidas.
Mas pode ser que meus lamentos não sobrevivam ao ano.
O corpo sabe cada vez mais a doença do que a vida.
É melhor mesmo escapar de vez desta agonia.
Já que não tenho mais idade para futuros.
Quero reter em meu ultimo suspiro
Algum resto vultoso de dignidade.



domingo, 14 de outubro de 2018

SOBRE A TOLICE DE CERTAS PESSOAS

Acho engraçada está gente que tem a vontade embriagada pela ilusão de eternidade. Elas tomam o ego como medida de todas as coisas, se rendem aos afetos mais banais e são escravas dos desejos mais naturais. 

Não passam de criaturas birrentas enterradas em um mundo que as ignora. Vivem de tantas certezas que não percebem o passar da existência.

SOBRE O MEU DESAPARECIMENTO

Não deixarei heranças. Além dos ditos restos mortais, deixarei entulhos e trapos. Coisas que serão jogadas no Lixo junto com a lembrança dos meus atos. Todos os meus rastros serão apagados. Não farei falta. Tudo vai continuar seguindo sem minha existência. Outros dirão o que eu diria e não fará qualquer diferença. Minha existência terá valido a pena apenas pela inocência alegre dos dias perdidos dos anos de infância.

RENDA-SE A IGNORÂNCIA

Existe uma morte oculta na ilusão de cada dia. A mudança nos consome. Vivemos da materialidade das coisas que nos transcendem. Somos apêndices de uma realidade socialmente construída para todos e para ninguém. 

Morrer faz parte da falsa ordem das coisas. No fundo tudo é o ilegível de um caos. Desista de toda ilusão de qualquer compreensão do mundo.

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

NA NATUREZA SELVAGEM

A morte é como um rio de águas turvas e tranquilas em uma paisagem verde que me intimida pelo seu gigantismo. Tento adivinhar as profundezas do rio que me assusta e percebo que não sou capaz de adivinha-lá. Por outro lado, a paisagem que me contém me embriaga e me dissolve. Ela me obriga ao rio. Não sou nada nesta paisagem onde não encontro abrigo.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

INSIGNIFICÂNCIA


É conhecida a declaração de Bukowiski de que era um escritor apenas quando escrevia e que na maior parte do tempo não era ninguém. Tal observação vale para intelectuais de um modo geral. É ingênuo identificar-se demasiadamente com sua persona a ponto de não conseguir diferenciar-se dela, ou agarrar-se demasiadamente a ela por vaidade ou afirmação de algum tipo de poder pessoal ou distinção.

Na maior parte do tempo somos pessoas banais e anônimas como qualquer outra. A matéria viva de nosso existir concreto e cotidiano esta fadada a insignificância. Como poderia ser diferente? A singularidade humana é perecível e redutível a a pluralidade e diversidade que lhe define. Toda distinção pessoal é ilusória. O que melhor podemos fazer por nós mesmos é lidar sempre de forma criativa com nossa insignificância. Tudo que somos não passa de uma miragem no cenário da existência humana.


NADIFICAÇÃO


O que não nos basta ou farta,
Talvez um dia nos mate.
Afinal, o tempo passa e a gente acaba.

De nada vale convicções, vaidades
E determinações.
O desejo se realiza na medida em que nos consome          .
E somos menos que nada.


sexta-feira, 5 de outubro de 2018

O VIRTUAL DA EXISTÊNCIA


Não é pela vida que vivemos, mas pela imanência da imediaticidade da existência. Somos produto de uma espontaneidade cega.

O acontecer múltiplo de tudo que existe é o que define nossa insignificância, nosso acontecer como um conjunto desconjuntado de moléculas e vazios.


O que não percebemos é que desde sempre não existimos, apesar da ilusão do tempo que passa. Tudo que há, é virtual, potencia e simulação. 

O PARADOXO DE SABER DE SI

Viver sem saber de si é aquilo que diariamente nos acontece.
Somos apenas em nossas roupas, palavras,
Pequenos e mansos gestos cotidianos.
A vida quase não nos acontece,
Mas sempre nos escapa.

Temos pouca consistência.
Não passamos de um detalhe na paisagem humana.
Saber de si, por outro lado, é um fato abstrato,
Um desencontro entre o eu e o mundo,
Uma experiência de vertigem.

Saber de si é esquecer-se,
Viver como espectro,
Ser ofuscado pelo sentido que nos move,
É quase um aprender a não saber de si,
Um ser para a morte.


terça-feira, 2 de outubro de 2018

POR UMA EDUCAÇÃO PARA A MORTE


Morrer é silêncio, ausência e supressão. É mero desaparecimento é nulidade do corpo. Não significa nada. A morte como conceito se faz no plano da existência reivindicando a vida. Infelizmente, só quando envelhecemos e começamos a perder entes queridos de vida inteira, nos damos conta do quanto é impossível viver sem considerar o morrer. 
A ideia de morte muda tudo aquilo que desde de crianças a sociedade nos ensina sobre a vida. O aprendizado da morte é uma necessidade vital.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

UMA BOA MORTE

É impossível não ser destroçado pela própria existência. Estamos condenados à isso.  Ninguém escapa ao próprio peso. Existir é um trabalho de auto destruição constante. Mas poucos são capazes de conduzi-lo as últimas consequências. Raramente alguém consegue construir para si mesmo uma boa morte. Viver é um lamentável fracasso.

NÃO SOMOS


terça-feira, 25 de setembro de 2018

TODO DIA É TEMPO DE MORTE



O tempo passa...
Todos sabem.

Resignadamente sofremos o tempo,
Dissimulamos nosso desespero
Enquanto o corpo envelhece.

Mas estamos morrendo.
Apenas isso.
É o que sempre repito.
A morte esta sempre acontecendo
Dentro de nós....

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

O CORVO


O ACONTECER HUMANO


A grande tragédia é que existimos apenas como coletivo, mas acontecemos como indivíduos. Múltiplos e únicos inventamos nossa condição humana como um trabalho de finitude do eu e renascimento dos outros. No fundo nossa existência é um estranho estado de transição entre o nada e o nada que se repete quase ao infinito. A biologia é um constante rearranjo da matéria viva que somos como corpo que se replica sempre como um outro.  



domingo, 23 de setembro de 2018

VIVER É MUITO POUCO

Tem dias em que não nos encontramos nas coisas, que nos falta a vontade de vida enquanto inspiração de existência.

Tem dias em que nos surpreendemos vazios de nós mesmos e do mundo. É quando nada faz sentido ou exibe encanto. É como se nada mais houvesse por fazer.

Surpreendemos um sentimento de ponto final, de exaustão. Mas, apesar disso, somos forçados à continuar cultivando inercias.

Nestes dias temos plena consciência de que viver é muito pouco e quase não se percebe.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

VIVER É MOVIMENTO


O maior erro que alguém pode cometer contra si mesmo é conformar-se aquilo que a sociedade lhe faz ser, é não tentar ir além daquilo que nos apresenta como possível, que nos impõe muros contra o futuro. Viver é estar em movimento, em transito. Neste sentido, a estagnação dos hábitos e pensamentos são uma forma de morte.


sábado, 15 de setembro de 2018

NÃO EXISTO!

Pode ser que eu seja apenas a ilusão de uma consciência.
O mundo existe e não me reconhece.
A morte me persegue.
O que fui e sou desaparece.
Tudo me transcende e escapa.
Meu corpo me esclarece.
Este corpo que de tão intenso
Escapa ao eu e ao consciente.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

EXISTIR É APENAS UM SUSTO

Entre o eu e o mundo existe um vazio. Através dele minha existência grita através da finitude e da consciência do tempo que me rouba.

Não sou ninguém. Sou este vazio, este grito que me apaga em febre de vida e susto.

BUSCA

Não existe alegria perpétua.
O prazer nos persegue como um vício
enquanto a própria vida definha
É inútil lutar contra a decadência
Que nos impõe o tempo.
Existir é estar condenado.
O futuro é o fim que nos esclarece
Em nadificação absoluta.
Apesar disso,
Insistimos no cultivo das vontades
E buscamos saciar o infinito apetite
Do corpo.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

INSIGNIFICÂNCIA

Do ponto de vista da vida, minha morte é tão irrelevante quanto um por do sol. Mas  é justamente por isso que valorizamos a existência. Sua precariedade é o que a faz preciosa diante deste contínuo absurdo que é a vida que nos ultrapassa.

domingo, 9 de setembro de 2018

EXISTIR É QUASE NADA

O não ser perpassa os vivos e os mortos.
A existência, afinal, não passa de silêncio,
De um vazio pleno que nos preenche,
Que nos consome através do tempo.
Existir é quase nada...
É simples variação do não ser.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

TENHO ME SENTIDO FRÁGIL E INCERTO

Tenho me sentido frágil e incerto.
É como se a vida pudesse escapar,
Fugir de mim em um  instante iminente.
Não é assim que tudo termina?
A vida é uma vontade frágil,
Existe doente do tempo.
Existir é morrer.
Não existe futuro.
Tudo desde sempre é passado.
Tenho me sentido frágil e incerto...

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

VIVEMOS APENAS O TEMPO DE UMA CANÇÃO


O tempo de duração de uma vida não pode ser medido de forma cronológica ou linear. Ele é qualitativo e, como tal, marcado por diferentes compassos, intensidades, ritmos e velocidades.

É como o tempo de uma canção e, como tal ,nossa percepção dele depende de como somos afetados, contaminados pelo seu próprio movimento/ acontecimento. O modo como somos preenchidos pela duração do tempo vivido define nossa percepção dele através da memória.

Não há como traduzir a duração de uma vida através de palavras. Sua textura não cabe satisfatoriamente em qualquer descrição ou significado. Pois em seu movimento há algo de indeterminado, de imaterial ou extra existencial, na falta de um termo melhor e mais preciso.

O tempo de uma vida “significa-se”, marca a superfície do corpo, é expressão de finitude. Sua duração acontece engendrando o fim, seu último movimento, como introdução ou prenuncio de uma ausência, de um silencio, onde já não existe tempo e memória e consciência se nivelam.


Uma vida é como um tema musical executado através de variações diversas cujo tema original nos escapa ou, antes, não remete as suas próprias variações interditando, assim, qualquer genealogia porque é a experiencia de um eu que sempre remete a exterioridade de um outro. 


O DESERTO E O TEMPO



Imensos são os desertos que nos consomem,
Trágicos são estes abstratos espaços de afeto
Onde nos inventamos em silêncios e desaparecemos.

Somos uma ponte entre o nada e o vazio
Através de desacontecimentos  que percorrem o tempo.

Nos fazemos teimosamente instantes e virtualidades em bolhas de memória e afeto.
Assim, insistimos contra nós mesmos afirmando o perene,
Nos desfazendo na paisagem aberta em múltiplas reedições do que poderíamos ser.  


quarta-feira, 22 de agosto de 2018

AFORISMO SOBRE A BANALIDADE DA EXISTÊNCIA



A simples conclusão lógica de que a vida é um borrão entre duas linhas infinitas de inexistência, é mais do que suficiente para me fazer duvidar de mim mesmo ou, no mínimo, de qualquer relevância que eu possa ter enquanto representante da espécie humana. A própria vida biologia é um mero apêndice da natureza que parece mais concentrada em si mesma através do acontecer despretencioso das coisas inanimadas.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

TEMPO E EXISTÊNCIA





A insistência é o que melhor define uma existência.
Afinal, o tempo que nos sustenta,
É o sempre acontecer de um depois,
Uma desconstrução constante do agora.

Contra ele insistimos,
Resistimos.
Em rearranjos e desgastes,
Persistimos até o limite.

Apenas a morte  põe fim a agonia.
Através dela escapamos a angustia
Que nos faz gente.





sábado, 18 de agosto de 2018

TUDO LEVA AO NADA


Tudo na vida é tempo perdido,
Passado crescendo e engolindo a gente.
Não importa o afeto que anima os atos,
Os momentos e os fatos.
A vida dura apenas um segundo
E tudo que é agora
De alguma forma já está morto.

Esquece sua vaidade,
Pois o nada é o que te resume.

terça-feira, 14 de agosto de 2018

SALA VAZIA




Meus pés percebem o correr do tempo
Enquanto um horizonte de coisas velhas me persegue.

Coisas que se reacomodam na sala e envelhecem
Desfazendo futuros enquanto a vida segue.

Como tudo é tão breve...
De repente já não há mais tempo.
O mundo mudou tanto
Que já quase não me reconhece
E o tempo escapa sob meus pés.

Sei que em breve me perderei entre as coisas.
E tudo será para sempre.
A sala ficará vazia.


FILOSOFIA DO SER E DO NÃO SER



Entre o infinito movimento de habitar o pensamento e o finito instante de pensar, um absurdo se estabelece na perplexidade de saber que existo.

Sou parte do mundo como acontecer da diversidade de coisas finitas. Existo em meio ao disforme e ao fragmentado, através do caos que define tudo que há como unidade do diverso.

Sou essencialmente o virtual deste corpo composto pelas interseções de diversos micro realidades orgânicas e abstratas.

Mas na medida em que sou no dizer que me define como coisa e sujeito, me percebo como não ser, como desfocado acontecimento no tempo que carece de real substancia.

Estamos vivos. E isso nada significa. É um acontecimento contra nós mesmos.


segunda-feira, 13 de agosto de 2018

O NÃO SER DA MORTE




O dia da minha morte será um acontecimento único.
Mas talvez eu nem o perceba...
A morte, afinal, não existe.
É algo que acontece através da falência do corpo.
Mas não é  tão evidente quanto o morrer.
Ela não é se quer pessoal.
Pelo contrário.
Acontece justamente quando o indivíduo é arrebatado de si mesmo.
Quando nada mais existe além da vida que continua.
A morte apenas nos faz prevalecer o passado
Contra nós mesmos
Na ausência de qualquer futuro individual.
A morte é aquilo que a todos definem,
Mas que ninguém sabe.

A ONIPOTÊNCIA DO PASSADO


quinta-feira, 9 de agosto de 2018

RODA DA FORTUNA



A vaidade inventa os homens.
A morte os coloca em seu devido lugar.

Os altos e baixos da existência
Consumam a miséria de nossa condição humana,
Nos roubam o nome e nos reduz a pó.

Gira sempre a roda da fortuna
Afirmando a lei do tempo
Contra nossas infinitas ambições.


O ABSOLUTO DO SOFRIMENTO

Sofremos os fatos, o tempo e a morte.
Não no sentido da passividade,
Mas do movimento.
Sofremos...
A vida é a potência do sofrimento.
É como uma ferida na pele da imanência
Que define o acontecer do mundo.
Faça do seu riso um grito
Contra o delírio da consciência.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

A DOENÇA COMO DESTINO

A doença está em todas as partes.
Mesmo quando exilada nos hospitais.
Dela poucos escapam.
Sempre chega a hora de algum flagelo.
Não importa se rico ou se pobre.
O mundo não é feito apenas de jovens saudáveis
desfilando felicidades.
Há muitos que padecem.
Mas fomos educados para evita-los,
Viver a vida de forma produtiva e alegre,
Como se existisse felicidade.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

O PARADOXO DE SER E NÃO SER


A NOITE QUE CAIU SOBRE NÓS


A noite caiu sobre nós.
Cobriu a paisagem como uma sombra densa,
Contaminou todos os lugares,
Escrevendo vazios em portas e janelas.
As ruas já não conduziram a parte alguma
E todos os rostos ficaram mudos e turvos.
Um gosto de fim amargava o tempo.
O céu era o nunca,
O chão um abismo.
Era o fim de todas as soluções.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

O QUE NÃO SE DEFINE

Quando a morte acontece já não existe morte,
Apenas silêncio que supera a ausência
E transcende a perplexidade.
Não há percepção da morte.
O morrer é absoluto e indefinido.

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

NADA É IMPORTANTE


Existe uma doce irrelevância 
Em tudo aquilo que desejamos.
Nada no fundo importa.
Tudo termina em esquecimento.

Qual o valor do nosso desejo
Se de nada vale nosso sentimento
Contra a crítica do tempo?

Apenas a vaidade nos inspira a vontade.

O ÚLTIMO DIA


quarta-feira, 1 de agosto de 2018

ENTRE O PASSADO E O FUTURO

De alguma forma meu nascimento e minha morte se comunicam,
Realizam o encontro entre o passado e o futuro.

São dois momentos nulos, ausentes,
Através da indeterminação do tempo presente.

Um dia eles serão um único instante de eternidade
E eu não serei nada.



terça-feira, 31 de julho de 2018

A MORTE COMO UM FALSO PROBLEMA EXISTENCIAL


São nossas próprias opiniões as maiores fontes de inquietações e aflições. Os acontecimentos são cegos, sem significado. Eles apenas acontecem ao sabor de encadeamentos caóticos, como uma espécie de turbilhão cujo resultado ou efeitos traduzimos como opiniões ou percepções. Isso se aplica dentre tantas outras coisas ao morrer. Nada mais natural do que o desaparecimento de alguém que nasceu. Um fato equivale ao outro. Mas tendemos a fundamenta-lo e desdobra-lo em significações diversas que fazem com que o mero morrer desapareça enquanto acontecimento soterrado por nossos impressões,  afetos e convenções sociais. Não aceitamos a morte e com isso a transformamos em um problema. Nada mais sem sentido diante de algo que não significa nada, como a própria vida.



segunda-feira, 30 de julho de 2018

ASSOMBRO E EXISTÊNCIA



Embora naturalizada, a simples existência do eu e do mundo ainda pode provocar assombros entre os mais sensíveis. Não seria descabido medir nossa lucidez pelo estranhamento e a vertigem que nos provoca o Ser.  Mas, somos educados para ignorar isso. É preciso atingir a velhice para espantar-se como um recém nascido.  Mas trata-se aqui de algo elementar. Todo o saber humano não dá conta do fenômeno de nossa existência. Não podemos esgota-la em alguma formula de verdade ou mistificação religiosa. O caos e o acaso são a melhor definição de vida e existência. Mesmo assim, evitamos o absurdo. Inventamos o dizer das coisas para fugir as coisas.